Esse post está dividido em duas partes porque ficou longo demais. A primeira parte está aqui:
Comentários sobre a saga de Umbra - Primeira Parte
Outra roubada aqui é:
se aquele violinista prevê o futuro, então como é que não previu que
fantasminha malvada ia pedir ajuda ao Cebola e este, levando a chave na mão,
iria direto para o portal?
O violinista prevê o futuro, mas a ênfase é na morte das
pessoas. E quem garante que ele já não tinha visto o futuro? No fim da
história, Cascão apontou a possibilidade de ele já ter visto tudo e usado a turma
para derrotar Berenice e libertá-los.
Fazendo parênteses:
desde quando alguém ficou famoso por filmar fantasmas? Se ficou famoso,
certamente não foi com o tipo de fama que o Cebola desejaria ter...
Na vida real, pessoas podem perder a credibilidade ao filmar
fantasmas, mas lembre-se de que estamos numa história fictícia, então nem tudo
vai correr como na vida real. No mundo dos quadrinhos, uma pessoa pode sim
ficar famosa por filmar fantasmas. Aliás, na vida real também há investigadores
paranormais e até programas sobre o assunto. E mesmo que no mundo da TMJ uma
pessoa pudesse ser desacreditada ao mostrar fotos e filmagens de fantasmas,
como um moleque de 15/16 anos ia saber de toda essa história?
Sem falar que todo esse ceticismo aconteceu num tempo em que
o espiritismo ainda não era muito conhecido, assim como investigações de
assuntos paranormais. Nesse tempo, tal assunto ainda era novidade e tudo o que
é novo sempre esbarra no ceticismo e na resistência das pessoas. Mas é bom
lembrar que ele só queria ficar famoso com filmagens de fantasmas, não mudar a
ciência e a religião. Seu documentário era investigativo, não científico.
Já que ele é tão
sagaz para fazer associações em segundos, como o caso lá da chave, por que não
perguntou:
_ Mas que idade tinha
Berenice quando foi mãe? O caso aqui foi há 20 anos e agora parece uma
nonagenária! Ela teve a filha aos 70 e pouco?
Que importância isso teria para a história NAQUELE momento?
Aí quando foi
advertido de que era muito perigoso tirar o crânio de dentro da Umbra, juntando
dois mais dois: era só uma questão de dar tempo ao tempo: Berenice morreria e o
sem o crânio, assunto resolvido.
Acontece que para libertar os filhos de Umbra, seria preciso
fazer a menina do lago passar pela porta. Só que com a morte da mãe, é claro
que ela ia ficar com medo e jamais iria querer chegar perto da porta.
E precisaria do
crânio verdadeiro? Inteiro? Por que ele não perguntou o que aconteceria se
levasse só os galhos?
Se levassem um crânio falso, a menina poderia ter percebido.
E é lógico concluir que ela ia precisar do crânio inteiro, do jeito que estava
no dia em que ela tentou assustar as sete crianças. Não fazia sentido nenhum
levar só os galhos. Se destruir o crânio resolvesse alguma coisa, os filhos de
Umbra já teriam feito isso há vinte anos atrás.
Incrível como num
ambiente com variáveis tão desconhecidas, o Cebola bola um plano infalível sem
se informar de nada, sem fazer reconhecimento do terreno, sem saber onde estava
o inimigo e o que ele fazia...
Dessa vez, o Cebola foi pego por sua arrogância, porque
subestimou os inimigos e não pensou em quaisquer imprevistos que poderiam
estragar o plano. A Dona Morte o alertou de sua arrogância quando ele falou que
seu plano era infalível. Nessa hora, ele ainda não tinha caído na real. E na
boa... Como ele ia saber que a Berenice deu veneno para seus amigos, os
enterrou no cemitério e usou seus espíritos como servos? O plano poderia mesmo
ter funcionado se não fosse esse revés.
O Cebola é muito pior
morto do que vivo... O Xavecão deveria saber disso antes de esmurrá-lo (TMJ 76,
pág. 36). Já pensou se ele bate a cabeça numa pedra e morre?
O soco que ele levou do Xavecão foi bem merecido. Mas duvido
que tenha sido suficiente para matá-lo. E mesmo que fosse, toda a titica já foi
feita. A menina do lago pegou o crânio e o ritual ia ser completado. Então que
diferença faria se ele morresse naquela hora? Se o mundo já estava à beira de
ser condenado, o que mais poderia acontecer?
Aí fica revelado que
a ideia de fazer o documentário sobre a lenda da jumenta voadora foi um plano
diabólico do Cebola. E o Xavecão o acusa de SABER dos perigos, mas não avisar
ninguém. Mas como ele ia saber que era perigoso? Os boatos na internet sobre os
filhos da Umbra advertiam quanto a isso? Se havia mesmo perigo, será que ele
não avisaria aos amigos?
O Cebola sabia dos filhos de Umbra pela internet e fingiu
não saber de nada para fazer o documentário e ficar famoso, mas não imaginava que tudo
poderia ser tãaao perigoso assim. Não havia como ele saber que tinha uma
entidade maligna querendo destruir o mundo. Em lugar nenhum falaram disso. Ele
pensou que fossem somente fantasmas, que talvez houvesse algum perigo mas nada
tão grave assim a ponto de condenar toda a humanidade.
Às vezes tomamos decisões sem saber do alcance que ela pode
tomar em nossas vidas. Se ele soubesse realmente que tudo isso ia acontecer,
tenho certeza de que não teria feito nada. Ele só fez porque apesar dos boatos
sobre os fantasmas, não imaginou realmente que isso ia colocar seus amigos e o
resto da humanidade em
perigo. Ele foi olho grande, arrogante e ganancioso, mas em
momento algum agiu de má fé sabendo que ia prejudicar as pessoas.
O que foi feito daquela resolução que ele tomou de que não
iria mais errar, nem ia mais apelar para planos ou golpes baixos (TMJ 71, pág,
123)?
Isso era sobre como lidar com a Mônica e reconquistá-la, não
com trabalhos de escola. E ninguém muda de um dia para outro. São alguns passo
para frente, outros para trás, recaídas, mais aprendizado, talvez outras
recaídas... isso acontece.
O problema com essa
aí de o Cebola saber dos boatos, etc e tal, é que não havia qualquer razão
plausível para que ele escondesse o motivo de ir até lá para fazer o
documentário. É possível até que o pessoal achasse uma boa, já que havia a
versão oficial e a oficiosa e uns misteriosos filhos da Umbra...
Mas o resto da turma tinha o direito de saber onde estava se
metendo e escolher se queriam ou não participar desse trabalho. Se eles ainda
aceitassem correr o risco, seria por decisão deles. Além do mais, ele sabia que a Mônica tinha certo medo de fantasmas e o Cascão costuma ser medroso. Havia chances de ninguém querer correr esse risco só pra ele ficar famoso.
Os espíritos da turma voltam aos seus corpos, e eles
despertam. Bem, considerando que um metro cúbico de terra pesa duas toneladas e
meia... A Mônica talvez tivesse força o bastante para tirar a terra de cima
dela. A Magali poderia usar sua magia para se teleportar (dá até impressão que
usou...), mas e o Cascão? Onde ele arrumou força para sair? Eles foram
enterrados sem caixão e aí o Cascão não teria como se mover, nem respirar,
nada... Vacilo.
Não tem vacilo nenhum aí. No fim da ed. 75, quando Berenice
enterrou os corpos, as covas não pareciam muito profundas. Só o suficiente para
manter um corpo enterrado lá dentro. A terra não deve ter sido socada e pisada
e com a água da chuva que caía, deve ter amolecido bastante. Então dava sim para
eles terem saído sem grandes problemas.
Na TMJ 76 pág. 91 e
92 vemos que há algo errado nessa tão enfática afirmação de que o Cebola é tão,
mas tão, mas tão egoísta mesmo: ele aceita arriscar sua vida para derrotar a
jumenta. Que ultra egoísta faria isso?
O Cebola aceitou arriscar sua vida para derrotar a jumenta
porque após ter sido confrontado com seus erros e defeitos, é claro que ele se
arrependeu do que fez e queria consertar. Como falei antes, ele pode ser muitas
coisas, mas não é uma pessoa realmente má ou perversa. E já mostrou em edições
passadas que é capaz de reconhecer seus erros e aprender com eles. Tudo isso
aconteceu DEPOIS de ele tomar consciência dos seus erros e conseqüências.
No fim a jumenta vê
aquela ilusão da filha sendo levada, mas onde aparece que a fantasma real foi
levada para a Umbra? O certo teria sido mostrar alguns dos filhos da Umbra a
levando para lá. Muito que bem, a Bailarina fez a Berenice acreditar que via
sua filha sendo levada, mas aí nem precisaria do meteoro do Absinto: era só
manter a ilusão até que a Berenice atravessasse o portal...
Antes da Berenice ser atraída para a porta de Umbra, ela foi
atingida por aquele raio disparado pelas sete crianças mais o Cebola. Isso a
enfraqueceu bastante e pode ter feito com que ela não conseguisse sentir a
presença da sua filha. Ou então aquela luz separou as duas, fazendo com que a
menina fosse mandada para dentro da porta primeiro. Isso não ficou lá muito
claro e para ser sincera, nem importa muito.
Uma vez que a Berenice atravessasse o portal, ele tinha que
ser fechado rapidamente ou ela poderia voltar para trás. Se a Bailarina
mantivesse a ilusão levando-a lá para dentro, poderia correr o risco de ficar
presa lá também. E tem o seguinte, o objetivo era usar todos os filhos de
Umbra, cada um desempenhando um papel diferente nessa luta. Então o Absinto
tinha que fazer alguma coisa e para falar a verdade, ficou muito mais legal ele
jogar o meteoro na Berenice do que ela simplesmente ter atravessado a porta
atrás da ilusão da Bailarina.
Jogar a Sofia sobre o
portal é meio esquisito. Já que o Xavecão veio do futuro e sabia de tudo, o
melhor seria ter uma dinamite à disposição... Tudo bem, o que aconteceu dá um
toque de humor.
Para querer dinamitar a porta, o Xavecão teria que saber da
existência dela, só que no caso dele algumas lacunas não foram preenchidas,
pois não é explicado como é o futuro de onde ele veio, quais eventos
aconteceram e os conhecimentos que ele tinha a respeito. Em edições futuras
isso pode ser esclarecido, pois a grande saga não acabou. Sem falar que jogar a
Sofia em cima da porta foi muito mais legal do que usar dinamite. Era preciso
que cada personagem ali tivesse uma finalidade.
Bom, eu daria um
toque de pieguice lá com o Cebola e a dona Morte.
Pois eu não. A parte do Cebola com a Dona Morte foi ótima, não vi nada que
precisasse ser melhorado. Acrescentar cenas e diálogos só ia fazer a história
ficar maior ainda e também enfadonha e pesada com tantas explicações e
blábláblá. O Emerson falou que quase precisou subir as escadas da Panini de
joelhos com uma vela na mão para que eles aprovassem essa saga. Se fosse
colocar mais coisas, então a história ia precisar de quatro edições. Sem
chances de a Panini aprovar algo assim.
E o final foi outra piada sem graça:
o Cebola morre, a Mônica se debulha em lágrimas, assim como os outros, aí ele
ressuscita, começa o agarramento, mas é só a Denise falar que foi ele quem
tirou o crânio da Umbra, que já sabia dos fantasmas e por causa disso deu
aquela zoada toda...
Não vi nenhuma piada aí. Era necessário ter um pouco de drama na história e
mostrar um Cebola realmente arrependido de suas pisadas na bola. Piada seria
ela vê-lo morto e não esboçar reação nenhuma.
Como foi falado antes, o Emerson precisou adaptar o final
para que a Mônica parasse de falar com o Cebola e assim não prejudicar as
próximas edições. Já foi muito bem explicado por que ele precisou fazer isso.
Até criança de dez anos conseguiu entender.
E era para ter zoada mesmo. As histórias do Emerson tem essa característica de misturar momentos de tensão, terror e drama com outros de comédia e zoação. Isso acontece ao longo das três edições. Então era para ser assim mesmo. A Turma chorando pelo Cebola num momento e tentando matá-lo novamente em outro.
E quanto ao
Xavecão... Tudo bem que a Creuzodete estava de bode, mas se ele queria saber
para onde foi a sua Denise adulta, poderia perguntar para ela.
E será que ela teria sido capaz de encontrar a Denise? Mesmo
que fosse, qual seria a utilidade disso para a trama?
Se as crianças
queriam que a gente saísse da casa que deixassem um bilhete na geladeira
escrito: A Berê é zica. Vaza! _ Mas por que iriam acreditar neste bilhete? Ao
menos nessa ele se mostra sem noção mesmo...
Isso deveria ser levado ao pé da letra? Falando assim, ele
queria dizer que os filhos de Umbra deveriam ter avisado a turma numa boa, sem
armar todo aquele show pirotécnico na casa. Logo, ele não foi sem noção coisa
nenhuma. Foi até muito esperto por ter pensado em coisas que ninguém pensou.
Aí lembra do
violinista que prevê o futuro e deduz que as crianças teriam usado o pessoal o
tempo todo, pois sabiam que só assim venceriam a jumenta voadora. E que seriam
gente boa havia 20 anos, mas todo esse tempo de purgatório... Os se e mais se
são acompanhados de quadrinhos que dão a pinta de que todo o povo de Sococó das
emas virou filho da Umbra. E o Xavecão, o Xaveco do futuro que sabia de toda a
história, não ficou sabendo disso?
Não sabemos como é o futuro de onde o Xaveco veio. No futuro
dele, a Berenice pode ter vencido e dominado o mundo. Então, para mudar isso,
ele voltou ao passado para ajudar a turma. Mas como dessa vez ela foi vencida e
mandada para Umbra, então o passado mudou, assim como os eventos.
A verdade é que eu
acho que a Panini está perdendo tempo com esse lance de Mônica e Cebola
separados. Os dois são o carro-chefe da TMJ e renderiam muito mais juntos do
que com essa fusquinha toda.
Para mim essa história foi ótima e o Emerson tomou o cuidado
de não deixar fios soltos. Não vi nenhuma incoerência, ele não tinha que transformar
isso em drama de Mônica e Cebola. Nem tudo na TMJ tem que girar ao redor deles.
Existem outros personagens, outros temas que podem ser trabalhados. Além do
mais, até os fãs mais novos já sabem que eles vão ficar juntos um dia e que o
namoro da Mônica com o DC é mais para criar suspense e vender revistas.
Sem falar que todo mundo já estava de saco cheio do
chove-e-não-molha do Cebola, mas eles não queriam juntá-los agora. Então,
mantê-los separados é que vai fazer vender revistas, pois os fãs vão esperar
todos os meses para que eles voltem novamente.
Enquanto eu lia esses comentários, fui lembrando de quando
era criança e assistia o desenho do papa léguas me perguntando por que, ao
invés de quase se matar tentando pegar um passarinho magricela, o coiote não
comparava comida ou ia para um lugar melhor. Se ele podia comparar todas
aquelas engenhocas, então podia comparar muita comida e assim não precisar
caçar.
Eu também assistia o desenho dos Thundercats e me perguntava
por que o Mun-ha não colocava bombas na toca dos gatos e assim poderia explodir
os inimigos de uma vez, já que ele queria tanto se livrar deles. (nota: eu
quase sempre torcia para os vilões)
Ao assistir seriados como Changeman, Flashman e outros
similares do Japão, muitas vezes ficava irritada porque os vilões insistiam em
atacar sempre do mesmo jeito apesar dos fracassos anteriores. Por que não
tentavam outra estratégia, tipo descobrir onde os heróis viviam e assim
atacá-los quando menos esperavam? Pois é. Com outros desenhos era basicamente a
mesma coisa.
Mas sabe... com o tempo eu entendi que se o coiote tivesse
encontrado outra solução para conseguir comida, o desenho teria acabado porque
a trama centrava nas tentativas malucas dele de pegar o papa-léguas. O mesmo
acontece com outras séries e desenhos. É preciso que haja história. Por isso,
nem sempre a solução lógica é a melhor. Se tudo for solucionado, então a
história acaba. O mesmo vale para Umbra. Claro que tudo vai depender do tipo de
história e para qual público ela é destinada.
É bom lembrar que não é objetivo da TMJ ser um best seller
ou uma megaprodução. Então não podemos exigir roteiros super elaborados, com
soluções sempre lógicas e perfeitas. Se até grandes produções de Hollywood
podem ter erros, não faz sentido nenhum esperar que uma história em quadrinhos
seja totalmente perfeita.
Com o tempo eu fui suavizando minhas críticas exatamente por
causa disso. Não faz sentido exigir perfeição, que tudo esteja certinho, nos
lugares que com 100% coerência porque no mundo dos filmes, desenhos, séries e
seriados isso não existe. Outra coisa que também precisa ser lembrada é que
essas revistas são para jovens e adolescentes, não para adultos. Claro que
adultos podem ler, mas isso não é para eles.
Então, um adulto ser muito severo com algo que não é voltado
para a faixa etária dele chega a ser até absurdo e hoje eu percebo isso.
Antes eu exigia demais da TMJ, queria que os personagens
tivessem atitudes muito maduras para a idade deles e hoje vejo que estava sendo
severa demais, pois são jovens numa revista para jovens. Claro que algumas
coisas já estavam enchendo o saco. Também não pode ficar absurdo demais, irreal
demais. Tem que ter equilíbrio. Só que exigir perfeição demais também não faz
sentido. Essa revista foi feita para entreter e divertir. Não é um tratado
científico, não é um relatório ou tese de doutorado.
Eu já vi gente reclamando no facebook porque as festas na
faculdade do Chico Bento porque ninguém enche a cara, fuma, usa drogas, é
promísculo, etc. Oi? Ainda não perceberam que a faixa etária da revista é para
crianças maiores que 10 anos? Se quer ler algo mais adulto, então procure algo
para adultos. Se escolher ler algo para crianças, então vai ter que relevar
algumas coisas, porque isso não foi feito para nossa faixa etária.
Também tem outro detalhe: quando lemos uma história, vemos o
quadro inteiro. Mas os personagens não têm a mesma visão que a gente. Eles só
vêem o que podem ver. Só sabem o que está ao alcance deles. Por isso nem sempre
tomarão as decisões mais óbvias, porque não tem todas as informações que nós
temos e também porque precisam enfrentar o estresse da situação, diferente de
nós que vemos tudo de fora e não sofremos pressão.
Essa foi sim a melhor saga da TMJ e espero que venham outras
iguais a essa.