quinta-feira, 3 de maio de 2018

O Iluminado



Autor: Stephen King
Publicação: 1977
Páginas: 288
Nota: 9,3

Sinopse: Jack Torrence consegue um emprego de zelador em um velho hotel, e acha que será a solução dos problemas de sua família - não vão mais passar por dificuldades, sua esposa não vai mais sofrer e seu filho, Danny, vai poder ter ar puro para se livrar de estranhas convulsões. Mas as coisas não são tão perfeitas como parecem - existem forças malignas rondando os antigos corredores. O hotel é uma chaga aberta de ressentimento e desejo de vingança, e, inevitavelmente, um embate entre o bem e o mal terá de ser travado.

Narrado em terceira pessoa, o livro mostra a família Torrence tentando uma nova vida mudando de ares e trabalhando num hotel luxuoso nas montanhas, onde Jack irá trabalhar como zelador.

Jack é um homem com problemas emocionais por causa da infância com um pai abusivo e violento. Ele também sofre com o vício pela bebida e muitas vezes perde o controle, se tornando agressivo e violento.

Após lutar para deixar a bebida, ele finalmente consegue um bom emprego como zelador de um hotel durante o inverno. O único porém é que o hotel fica totalmente isolado durante certo período do inverno porque as estradas se tornam intransitáveis por causa da neve, o que leva o zelador a enfrentar longos períodos de solidão e isolamento. Para solucionar esse problema, no entanto, é permitido que o zelador leve a família.

O emprego parecia excelente: dinheiro no bolso, um lugar para ficar com a família durante alguns meses, comida à vontade e bastante espaço ao ar livre para o filho deles. E como Jack queria terminar de escrever uma peça de teatro, aquele tempo de solidão e isolamento era muito bem vindo.

Só que o Overlook não é um simples hotel, ele tem segredos que não são nada agradáveis. Um deles é que um zelador antes de Jack pirou, matou a esposa, as filhas e cometeu suicídio. Outro segredo são fenômenos estranhos que acontecem no hotel. Um hóspede escuta algo estranho, uma camareira vê alguma coisa sinistra...

É aí que entra o Danny, filho de cinco anos de Jack e Wendy. O menino tem grande sensibilidade, é capaz até de ler pensamentos e de saber onde as pessoas estão. Ele também pode ver o futuro e enxergar os mortos. No livro é chamado de iluminado por ter um grande poder. Ele tem um amigo “imaginário” chamado Tony que tenta avisá-lo dos perigos do hotel, mas por ser criança Danny não pode fazer nada a não ser ir com os pais.

Ao chegar no hotel, o menino conhece o simpático cozinheiro Dick Halloran, que também é um iluminado como Danny. Ele explica ao menino sobre alguns problemas do hotel e recomenda que ele não vá a determinados lugares. Mas estamos falando de uma criança de 5 anos, né...

O ritmo da narrativa é um tanto lento no início. Os fenômenos começam aos poucos de devagar. Um vulto aqui, um barulho estranho ali e principalmente sensações estranhas que Danny vai captando.

O foco principal mesmo são as angústias da família tentando se restruturar, Wendy quer salvar o casamento, Jack quer refazer sua vida e cuidar melhor da sua família e Danny quer que seus pais parem de brigar e se entendam.

Tudo vai evoluindo aos poucos e o leitor tem tempo de acompanhar e entender tudo, pois sempre tem flashbacks explicando o passado de Jack, sua infância e as razões de ele ser como é.

As cenas iniciais de terror não impressionam muito, mas aos poucos o clima vai ficando cada vez mais sombrio e assustador a medida que os fenômenos se tornam mais fortes e também porque Jack vai enlouquecendo gradativamente quando descobre papéis antigos sobre a história do hotel e fica obcecado com isso.

Muito mais do que manifestações sobrenaturais, o importante no livro é o lado psicológico, o medo, suspense, aquela tensão que sentimos antes de alguma coisa acontecer. Nada de sangue esguichando ou crânios amassados. O medo é mais profundo, medo de algo que não vemos ou entendemos. 

A forma como tudo se desenrolou foi o clímax da história realmente. Emocionante, deu muito medo, e angústia. Wendy precisou tomar decisões difíceis para proteger a si mesma e ao filho do marido que tinha ficado louco por causa da influência do hotel.

Sua loucura chegou ao máximo quando ele de fato começou a perseguir os dois com um taco de críquete do hotel, inclusive ferindo muito a esposa. Foram momentos de angústia para todos, só lendo mesmo para ter uma idéia. Não há como descrever corretamente aqui sem dar spoiler e o bom do livro é poder ler tudo e descobrir por si só.

Quando sei que um livro tem filme, eu vejo o filme primeiro para depois ler o livro. É uma experiência muito bacana. Quem é leitor geralmente fica pouco tolerante quando os filmes alteram demais a história. Mas quando fazemos o caminho inverso, somos surpreendidos com detalhes, muitas explicações e de repente até levamos um susto ao ver como as coisas realmente aconteceram. Foi o que senti quando vi primeiro o filme e depois o livro.

O filme é bom, não nego, mas não chega nem perto do livro, isso posso garantir. Aliás, nem o próprio Stephen King gostou do filme e dou razão para ele. O maior problema é que Jack já aparece meio aloprado sendo que no livro isso aconteceu aos poucos. Primeiro ele é um cara de boas, tranqüilo e que ama demais o filho. A loucura vem aos poucos, o que foi bem melhor. E o final do filme ficou, sei lá, meio nada a ver. O do livro é bem melhor. Teve mais emoção, correria, gritaria, muito medo.

Outra coisa que faltou no filme foi a grande ligação entre pai e filho, que no livro é bem mais presente. Teve um momento, no livro, em que Jack persegue o filho implacavelmente querendo acabar com ele. Mas por um instante, ele recobra a consciência e pede para que o filho fuja. Foi um momento bonito e triste no livro que poderia ter tido no filme e não teve.

E teve uma cena em um jardim onde arbustos são podados em forma de animais que no livro deu até um medinho. Aconteceu com Jack e Danny, mas nenhuma delas apareceu no filme e fez uma falta danada.

Jack Nicholson interpretou muito bem o papel de louco, especialmente aquela cena onde ele aparece pela abertura da porta quebrada fazendo cara de maluco (e virou meme). O problema é que esqueceram de avisar que no começo da história ele deveria parecer um cara normal.

Enfim... achei o filme raso, monótono, o cara não passava de um Zé ruela, quase não senti terror nenhum no filme e a Wendy (mulher forte e corajosa no livro), só sabia gritar e chorar. Não me senti envolvida em momento algum. É como Stephen King falou: o filme é como um cadilac lindo, mas sem motor. O filme é bonito, tem um visual muito bem feito (especialmente as paisagens), mas a trama e o desenvolvimento deixaram a desejar.

Também teve uma série dirigida pelo próprio King que foi um pouco mais fiel ao livro (embora não totalmente). Essa eu assisti depois de ler o livro mesmo e foi uma boa escolha, pois não estragou a surpresa durante a leitura. Para ser sincera... não achei a série assim muito melhor que o filme, embora tivesse algumas cenas do livro que eu queria ver. Acho que os atores deixaram a desejar e o visual não impressionou muito.

E o mais curioso é que apesar de ter sido dirigida pelo King, ainda assim muitas coisas foram mudadas. Acho que com uma direção melhor, uma polida no visual e bons atores teriam feito uma grande diferença. Pelo menos a série explicou melhor por que o hotel queria Danny, coisa que no livro não tinha ficado muito claro.

Voltando ao livro, eu recomendo mesmo. Mas antes, tirem um tempo para assistir ao filme (não vejam a série, senão estraga a surpresa do livro) porque vai deixar a leitura mais interessante. 



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