quarta-feira, 2 de maio de 2018

A Zona Morta


Autor: Stephen King
Publicação: 1979
Páginas: 480
Nota: 8,5

Sinopse: Johnny Smith é um homem que sofre por possuir um estranho poder: ao tocar em uma pessoa, torna-se capaz de prever seu futuro. A origem desta capacidade está ligada à chamada "zona morta", uma área do cérebro de Johnny que não conseguiu se recuperar após um acidente de automóvel que o deixou em coma. Mas, ao tocar a mão de Greg Stillson, Johnny descobrirá que seu poder é muito mais perigoso do que imagina. A Zona Morta é mais uma obra do gênio do terror Stephen King.

O livro é narrado em terceira pessoa, mostrando os pontos de vista dos diversos personagens que vão aparecendo no livro. E essas histórias vão se entrelaçando com a do personagem principal ao longo do livro.

Johnny Smith é professor de inglês que vive na Nova Inglaterra. Sua vida é bem simples, ele adora lecionar e ama sua namorada. A história começa em 1970, quando ele e a namorada vão a uma feira local para se divertir. Na volta para casa, o taxi onde ele estava sofre um acidente que o deixa em coma por quase cinco anos.

Enquanto isso, sua namorada, que já não acreditava mais em sua recuperação, segue sua vida e se casa com outro. Seus pais continuam lhe dando apoio do jeito que podem embora tenham sido desacreditados pelo médico. Seu pai, Herb, é um homem simples, carpinteiro e sua mãe, Vera, uma fanática religiosa que acredita em qualquer coisa, desde anjos pilotando discos voadores até a entrada do céu se encontrar no Pólo Sul.

Ao acordar, o que foi visto como um milagre, Johnny descobre que pode prever o futuro e descobrir coisas sobre as pessoas tocando nelas ou em seus objetos pessoais. É aí que toda a confusão começa.

Cada vez que ele faz uma previsão e acerta, as pessoas ficam cada vez mais alarmadas. Repórteres o perseguem, várias pessoas lhe procuram pedindo ajuda para os mais diversos problemas e tem que lidar com pessoas lhe chamando de charlatão o tempo inteiro. Desde então ele luta para manter sua privacidade, pois nunca teve interesse em ganhar a vida usando seus poderes (e não foi por falta de oportunidade).

Johnny é boa pessoa, procura fazer o que é certo e não gosta de tirar vantagens de ninguém. Ele realmente quer refazer sua vida após o acidente ao invés de se aproveitar da fama de “médium”. Mas nada disso parece importar para as pessoas que o perseguem ora pedindo ajuda, ora acusando-o de só querer chamar a atenção.

Seu dom assusta as pessoas, que passam a sentir medo de serem tocadas por ele. É um misto de admiração e repulsa. Em um instante ele é visto como alguém extraordinário, em outro como uma aberração comparada a uma vaca de duas cabeças. Uns querem tocá-lo, outros fogem.

Ele tenta fazer com que todos o esqueçam, mas às vezes acaba tendo que usar o seu poder e tudo começa novamente. Outro ponto abordado no livro é o grande sentimento de perda que ele sofre ao perder quase cinco anos da sua vida. Ele perdeu a namorada, a quem amava, perdeu todas as mudanças e progressos que aconteceram nesse intervalo de tempo e perdeu o emprego de que gostava tanto. Até um tipo novo de caneta lhe causa estranhamento. Junto com tudo isso, ele ainda sofre com a mãe, que está cada vez mais fanática e delirante. 

O personagem é bem feito, tem profundidade. Nós torcemos por ele, queremos que tudo dê certo e ficamos indignados com a forma como as pessoas o tratam ao longo do livro. A história foca muito no dia a dia dele, em sua tentativa de se recuperar do acidente e  refazer a vida.

E ele esteve bem perto de fazer isso, mas acabou se vendo num grande dilema quando conheceu o político Greg Stillson. O quê, exatamente? Só lendo para saber! 

É uma boa história, bem construída e a leitura prende. Mas confesso que não foi o melhor livro de Stephen king que eu li até agora. Apesar de interessante e de prender a atenção, a história não foi exatamente emocionante e em alguns pontos o ritmo foi até bem lento.

Só não esperem que ele mostre seus poderes a cada duas páginas. As demonstrações dele são relativamente poucas, pois na maior parte das vezes evita usar seu dom porque é desconfortável tanto para ele quanto para a pessoa a quem toca.

Os outros personagens são variados. De uns a gente acaba gostando, outros nós odiamos. E são bem construídos também. Para ser sincera, no entanto, não gostei muito as Sarah. Muito chatinha, cheia de frescuras, do tipo que falta pouco morrer por causa de qualquer coisinha. Mas no fundo é boa pessoa.

Um ponto interessante da história é esse misto de fascinação e repulsa que as pessoas sentem quando vêem alguém que possa ter poderes extraordinários. Querem fazer um espetáculo com essa pessoa, mas ao mesmo tempo lhe tratam como aberração. De um lado, a pessoa é incentivada a tirar proveito dos seus poderes e de outro é taxada como charlatã e aproveitadora. Qualquer alternativa que a pessoa venha a escolher, sempre será vista como errada.

Em determinado ponto do livro, ele começou a receber cartas com insultos e xingamentos. Se houvesse internet com redes sociais naquela época, acho que ele teria surtado de vez porque teria sido 1000x pior. As pessoas costumam ser muito cruéis e sem noção, julgam sem conhecer, condenam sem saber o que realmente acontece.

Sabe... eu não sei se existem ou não pessoas com poderes sobrenaturais. Mas caso existam, dá para entender por que não aparecem na mídia. A dor de cabeça é tanta que acaba não valendo a pena. Se eu tivesse algum poder, ficaria na minha e usaria em proveito próprio (mas tentaria ajudar as pessoas na medida do possível). Mesquinho? Errado? Talvez, mas eu prezo muito pela minha paz de espírito. Não vou jogar isso fora só para ter publicidade e pagar de heroína. 

A leitura do livro vale a pena, apesar dos poréns que eu citei. É fácil de ler, de imaginar a história, tudo é bem descrito e conseguimos ter uma boa idéia do que Johnny sente. Por isso, recomendo.

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