domingo, 12 de janeiro de 2014

Capítulo 8 - Cinderela às Avessas: A Cinderela se torna gata borralheira

16:42 3 Comentários
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A Cinderela se torna gata borralheira

Uma hora mais tarde, um carro da agencia deixou Carmem em frente a mansão dos Aguiar. Como foi que aquela mulher lhe convenceu mesmo? Sua cabeça estava meio confusa. Talvez um momento de lucidez a tivesse feito aceitar a proposta, pois sabia que além de salário, ia ter comida e um lugar para morar.

Pelo menos a fachada era bonita e ela adorava mansões. Talvez não fosse tão ruim.  Após tocar o interfone e anunciar que era da agência, o portão foi aberto para que ela entrasse.

O lugar era imenso e ela teve que andar um bocado até chegar a entrada. Ali perto havia um carro bem familiar. Uma BMW de último modelo. Abaixo dela, tinha alguém deitado junto com uma caixa de ferramentas.

- Er... oi... dá licença. – um barulho se fez ouvir debaixo do carro e o sujeito teve um sobressalto.
- Ai! Minha cabeça! – ele se arrastou para fora e Carmem arregalou os olhos.
- Oh! Você é o primo da Cascuda! Rafael, né?
- Epa, você conhece minha prima? Engraçado, achei que conhecesse todas as amigas dela! Como me reconheceu?
- Hã... ela sempre fala de você...
- Essa minha prima! É muito bajuladora mesmo! – ele falou meio derretido. Como ambos eram filhos únicos, um via o outro como um irmão que nunca pode ter.

Ao ver que o rapaz não lhe reconhecia, Carmem começou a ficar preocupada. Será que seu pai subornou a cidade inteira ou seria mesmo verdade toda aquela história de estrela mágica?

Como aquela moça era amiga de sua prima, Rafael acabou sendo simpático com ela, embora estivesse intrigado por alguém tão jovem estar trabalhando ali.

Sem que eles vissem, alguém os observava de longe apertando os lábios com raiva. Aquela garotinha mal chegou e estava dando de cima dele? Quanta cara de pau!

- Olha, eu sou a nova empregada e a agência me mandou.
- Sei. – Ele deu uma boa olhada e duvidou seriamente que aquela garota seria capaz de dar conta do serviço - Pode entrar que a patroa deve estar te esperando.
- Tá bom. – Carmem tomou a direção da entrada principal e Rafael a chamou de volta.
- Espera, a entrada de serviços é do outro lado!

Seu corpo gelou por um segundo. Entrada de serviço? Ah, claro. Ela era uma serviçal agora. Não podia mais entrar pela frente.

Foi preciso dar a volta pela mansão até encontrar a entrada dos fundos que dava para a cozinha. A porta estava aberta e Carmem viu que tinha uma mulher limpando a cozinha com um esfregão. Era bonita, pele morena, cabelos trançados bem pretos e usava um uniforme igual ao seu. Ela estava com cara de poucos amigos e esfregava o chão como se tivesse descontando suas frustrações nele.

- Oi... posso entrar? Me mandaram da agencia.

A outra parou o que estava fazendo e olhou-a cima a baixo. Aquela devia ser a empregada branquinha que a patroa tinha contratado porque não achou que ela fosse bonita o suficiente para atender as visitas. Ou melhor, não tinha o tom de pele correto e por isso devia ficar escondida dos outros. E para piorar, aquela sirigaita estava dando de cima do Rafael! Aquilo não ia ficar barato de jeito nenhum! Ela falou mostrando hostilidade.

– Deixa eu adivinhar: você é a nova empregadinha?
- Sou sim, a agência me mandou e...
- Tá, tá. Vou te levar para conhecer a madame. Vai gostar muito dela (só que não).

Carmem a seguiu com a ligeira impressão de que aquela mulher não tinha ido com a sua cara.

- Meu nome é Carmem.
- Não te perguntei.
- E... e o seu?
- Cassandra e nem pense em mexer nas minhas coisas! Cada uma cuida de si!
- ...

As duas foram até uma grande sala decorada com luxo um tanto exagerado. Muitos enfeites, obras de arte, tapetes que Carmem sabia serem caros e um grande sofá branquíssimo no meio da sala, onde estava sentada uma mulher que lia uma revista distraidamente. Seu nome era Rebeca Aguiar, ela tinha trinta anos, embora aparentasse menos por causa da maquiagem e dos caríssimos tratamentos de beleza. A mulher também tinha o cabelo loiro platinado bem liso que ia até os ombros e estava partido de lado. Apesar de estar em casa, ela se vestia como se estivesse numa festa elegante.

Carmem a conhecia das colunas sociais. Ela e seu marido eram os novos ricos do momento. Seus pais até já tinham ido a algumas festas promovidas pelo casal.

- Senhora, a nova empregada que a agencia mandou. – a patroa deixou a revista de lado e levantou-se do sofá para analisar Carmem como se fosse um produto.
- A nova empregada, é? Hum... deixe-me ver. – ela fez um gesto com a mão, pedindo para que a moça desse uma volta. – Sim, sim. Nada mal. Bonitinha, bem branquinha, olhos azuis.

Ela não sabia se devia ficar feliz com aqueles elogios ou preocupada. O jeito que aquela mulher a olhava não era nada agradável.

- Mas esse cabelo aqui... – ela pegou uma mecha no topo da sua cabeça para analisar e Carmem sentiu um pouco de dor. Era impressão sua ou havia ressentimento naquele puxão? – É loiro mesmo!
- É sim senhora.
- Shhh! Não me interrompa. Bem, você é aceitável. Poderá servir as visitas e devo admitir que combina muito bem com a decoração.
- C-com a decoração?
- Eu ainda não terminei. Você foi aprovada, mas esse cabelinho aí... – a moça ficou preocupada com o tom de voz usado pela mulher ao falar dos seus cabelos. – Eu não gosto de empregadas com cabelos compridos, pode cair nos meus tapetes caríssimos, nos móveis e até na comida!
- M-m-mas...
- Não discuta comigo! Nunca, entendeu?
- S-sim senhora...
- Ou você dá um jeito de prender isso, ou então corte, mas desse jeito não pode ficar. Seu cabelo é grande demais! Onde já se viu uma empregada com um cabelo desse tamanho? E nada de maquiagem! Isso aqui não é nenhuma festa e quero te ver sempre de rosto limpo!

Sua vontade era de sair dali correndo. Agora ela sabia por que a dona da agencia faltou pouco lhe implorar para que aceitasse aquele emprego e até lhe deu uma carona até ali. Claro, ninguém mais devia querer trabalhar para aquela criatura esnobe e arrogante.

- Está dispensada. Cassandra lhe mostrará o que deve ser feito nessa casa e vou logo avisando que deve ser muitíssimo bem feito!

Após fazer que sim com a cabeça, com medo até de responder aquela mulher, Carmem foi seguindo Cassandra de volta para a cozinha.

- Que coisa, ela nem quis saber meu nome!
- Porque não interessa.

Na cozinha, uma mulher trabalhava picando alguns legumes. Ela tinha estatura mediana, levemente rechonchuda, pele negra e cabelos crespos muito bem presos e amarrados.

- O que temos aqui... a nova empregada, não é?
- Sou sim.
- E qual é o seu nome, garota? Você parece bem nova!
- Meu nome é Carmem.
- Ah, sei. Eu sou a Marlene. Cassandra, mostra onde ela vai dormir.

Cassandra fez a pior cara possível e saiu dali pisando duro.

- Anda, pode ir com ela. – Marlene falou voltando ao trabalho.

As duas foram até os quartos dos fundos. Eram três portas e Cassandra abriu uma delas.

- Seguinte, garota. Aqui só tem três quartos de empregada. O Rafa já usa um deles e a Marlene o outro. Esse aqui vai ficar para nós duas, o que eu acho uma droga!
- É tão pequeno...
- Nossa, você percebeu isso sozinha?

A mulher tirou um colchonete de baixo da cama e o atirou para cima da Carmem que quase caiu para trás com o impacto.

- Tá aqui sua cama.
- Eu vou dormir nisso aqui?
- Só tem uma cama nesse quarto e ela é minha, assim como a TV, o som e o armário. Eu vou te dar uma gaveta para guardar suas coisas.
- Só uma gaveta? Não vai caber quase nada!
- Não é problema meu! O armário está cheio com as minhas coisas e não vou espremer nada para te dar espaço!
- M-mas isso não é justo! Eu vou dormir no chão!
- Ué, se a princesinha não está satisfeita, a porta da rua é a serventia da casa! Agora vai ajudar Marlene na cozinha. No fim do dia eu te dou a lista com as tarefas que você vai fazer nessa casa.

Cassandra saiu dali, deixando Carmem desolada. Ela não sabia se chorava, gritava, saia correndo ou se matava de vez. As coisas iam ser muito mais difíceis do que ela esperava.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Cinderela às Avessas - Capítulo 7: E precisa se virar sozinha

16:35 10 Comentários

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E precisa se virar sozinha 

Creuzodete tomava o café da manhã calmamente, sendo servida por Berenice.

- Será que essa moça vai ficar bem?
-Estou fazendo o possível para protegê-la, mas não posso fazer nada se ela também não se ajudar.
- Ela é desmiolada, mas também entendo que não tem experiência nenhuma, nunca teve que enfrentar a vida antes.
- Tentarei encaminhá-la na medida do possível, mas o resto é por conta dela. Hum... ela já deve estar acordando. Espero que siga meu conselho hoje. Quanto mais tempo ficar na rua, pior.
__________________________________________________________

Carmem acordou ouvindo a conversa das pessoas que passavam perto do banco. Que horas eram? Ela não sabia, pois tinha saído de casa sem relógio e sem o celular. Seu corpo estava moído, fraco de tanta fome e a garganta queimava de sede. Pelo menos aquilo podia ser resolvido no bebedouro do parque. Ela tomou bastante água, lavou o rosto e decidiu que precisava tomar um rumo. Passar outra noite dormindo no banco do parque estava fora de questão.

Talvez seus pais quisessem lhe dar uma lição para ensinar o valor do dinheiro e coisas do gênero. Então, se arrumasse um emprego, eles acabariam com aquele castigo maluco.

- Ela falou que eu preciso arrumar um emprego, mas onde? Espera... acho que a Aninha costumava ir a um lugar que dá emprego. Onde era mesmo?

Ela lembrou-se de quando sua amiga tinha lhe arrastado até lá tentando lhe mostrar como o trabalho era gratificante. Aquele lugar ficava no shopping do limoeiro e ela resolveu ir até lá para ver se conseguia alguma coisa.

Foi preciso outra longa caminhada para chegar até o shopping e seus pés doíam. Aqueles sapatos eram bons para qualquer coisa, exceto andar. Pelo menos no shopping ela se sentia um pouco melhor por ser um local familiar.

- Preciso ir ao banheiro. Ainda bem que tem um limpinho aqui. Ih, credo! Tô fedendo que nem o Cascão!

Para sua sorte, havia pouco movimento naquele horário. O banheiro estava vazio e ela aproveitou para se lavar da melhor forma possível usando o sabonete líquido. Depois tentou ajeitar os cabelos molhando-os um pouco e penteando com os dedos. Seu rosto estava limpo, porem sem maquiagem. Ela não gostava de sair por aí sem maquiagem.

- Que droga, não tem nem um batonzinho! E um perfume até que ia bem. Ah, espera! Acho que posso dar um jeito nisso!

Havia uma loja no shopping onde eles disponibilizavam amostras para as clientes testarem. E outra onde distribuíam amostras de perfume.

Ao andar pelo shopping, ela sentiu-se muito estranha. Tantas coisas bonitas na vitrine e não podia comprar nada porque não tinha um centavo no bolso. Ela teve até impressão de que as pessoas lhe olhavam diferente e sentiu-se muito desconfortável ao entrar na loja.

“Esse batom aqui deve servir. Ai, que nojo! Um monte de gente deve ter usado isso!” ela foi pensando enquanto passava o batom contendo a sensação de nojo. Depois ela passou um pouco de sombra e delineador. Foi suficiente para melhorar sua aparência.

- Posso ajudar em alguma coisa? – uma vendedora falou se aproximando.
- Eu tô só olhando, que saco! Vai caçar serviço, vai!
- Faça o favor de se retirar dessa loja, mocinha! – a vendedora falou encarando-a ameaçadoramente.
- Como é?
- Ninguém aqui tem que aturar suas grosserias! Se não vai comprar, então retire-se!

A patricinha até pensou em protestar, mas lembrou que seus pais não iam mais apoiá-la e ela não queria correr o risco de ser presa novamente. De qualquer forma, ela tinha terminado de se arrumar e foi para outra loja ver se conseguia uma amostra de perfume.

Apesar da fome que sentia, ela estava mais apresentável e segura o suficiente para tentar arrumar um emprego. Não havia outra opção. Ao atravessar a praça de alimentação, no caminho para a agência, seu estômago roncou mais alto do que nunca com a visão e o cheiro de toda aquela comida. Foi uma grande tortura.

- Agora já sei como a Magali se sente.

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Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Cascuda vasculhava o facebook e viu que o perfil da Carmem tinha desaparecido. Isso por si só não era problema, talvez tivesse sido deletado. O que lhe intrigava mais ainda era o fato de todos os seus amigos afirmarem categoricamente que não a conheciam de lugar nenhum.

No início ela tinha pensado se tratar de uma pegadinha, mas o tempo passou e ela começou a desconfiar de que podia haver outra coisa acontecendo. O que seria? Ao investigar, ela levou um choque ao uma foto onde todas as garotas da turma estavam reunidas e constatar que Carmem não se encontrava entre elas.

- Que coisa estranha! Ela estava bem aqui, do lado da Denise! – ela falou consigo mesma analisando a foto. Foi como se a Carmem tivesse saído de lá e seu espaço ocupado por Marina. Não parecia montagem.

Em todas as fotos onde Carmem aparecia era a mesma coisa. No blog da Denise, nenhum post falava a seu respeito como sempre acontecia quando as duas iam passear no shopping e Denise contava sobre o passeio mostrando várias fotos. Será que eles não estavam indo longe demais com aquela brincadeira? Era mesmo só uma brincadeira? E por que ela deveria ficar preocupada?

Apesar de andarem juntas de vez em quando, Cascuda não via Carmem como amiga e por isso não tinha razões para se preocupar com ela. Especialmente depois daquela briga entre as duas. Porém, aquilo não saía da sua cabeça. E se aquela tonta estivesse em dificuldades?

- Aff, que bobagem essa a minha! É só ligar pra casa dela e perguntar! Dã!

Ela rapidamente discou o número e após alguns toques, a voz de uma mulher atendeu.

- Alô?
- Oi, eu gostaria de falar com a Carmem.
- Não tem ninguém aqui com esse nome.
- Hã? Aí não é o 2658-8745?
- Sim, mas não tem nenhuma Carmem aqui.
- Ué, achei que essa fosse a casa dos Frufrus.
- É sim, só que não tem nenhuma Carmem. Acho que deve ser um engano.

A moça desligou o telefone totalmente intrigada. O que estava acontecendo ali afinal de contas?

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De longe, Creuzodete observava os movimentos da jovem com um leve sorriso no rosto. Pelo menos ela estava tentando seguir seu conselho.

“Bem... hora de interceder um pouco a seu favor.”

Dentro do escritório da agência, Carmem olhava para os lados procurando por alguma atendente. Ela se sentia perdida, sem saber o que fazer e com quem falar.

- Oi, você tá procurando alguém?
- Ah, oi Aninha! Eu estou procurando um trabalho e...
- Hã? Como sabe o meu nome?

“Droga, até ela foi subornada!” Carmem pensou irritada e resolveu não discutir porque precisava de ajuda.

- Eu... er... já te vi trabalhando numa lanchonete.
- Ah, tá. Eu conheço a dona que está trabalhando aqui nesse horário e ela deve te ajudar. Fica naquela porta. Pode bater que ela te atende.

Ela foi ao local indicado e pela porta entreaberta viu uma mulher elegantemente vestida que falava ao telefone com uma cliente muito rica e importante.

- Entenda, senhora Aguiar, não temos empregadas com as descrições que pede! Nem sei se é possível encontrar alguma!

A mulher ficou em silêncio, ouvindo as demandas da sua cliente do outro lado da linha. Que criatura mais sem noção aquela! Além de fútil e preconceituosa, também era uma racista nojenta, mas não cabia a ela dar lições de moral aos seus clientes.

- Sim, eu sei que essa empregada terá maior contato com as visitas, entendo isso e tenho muitas moças aqui de boa aparência, mas não do jeito que a senhora me pede! Hã? A senhora vai pagar uma comissão extra se eu encontrar alguém?

Seus olhos brilharam. Aquela comissão seria para ela, como se fosse uma generosa gorjeta. Mas onde encontrar uma empregada do jeito que aquela madame queria? O som de alguém batendo na porta entreaberta lhe chamou a atenção e ela abriu um grande sorriso.

- Só um segundinho, Sra. Aguiar. – ela fez a Carmem um gesto para que entrasse e sentasse na cadeira a sua frente. Após olhar a moça de cima abaixo por alguns segundos, voltou a falar ao telefone. – Sabe... acho que tem sim alguém disponível, mas ela ainda é jovem, inexperiente e parece que não tem carta de recomendação. Ah, sei! A senhora não se importa contanto que tenha boa aparência? Que ótimo! Conversarei com ela e retornarei dentro de trinta minutos.

Carmem ouvia tudo com o coração batendo mais forte. Será que aquela mulher estava falando dela? Céus, estava sendo mais fácil do que ela imaginava! A atendente desligou o telefone e perguntou com um sorriso forçado no rosto.

- Em que posso ajudar, querida?
- Eu... eu procuro biscoitos (cof cof) quer dizer, um emprego! – ela se atrapalhou toda ao ver um pacote de biscoitos em cima da mesa. A mulher o empurrou gentilmente em sua direção e falou.
- Sirva-se a vontade, meu bem. Acho que tenho a coisa certa para você!
- Sério? – ela perguntou colocando dois biscoitos na boca de uma vez, pois não sabia quando ia conseguir comida de novo.
- Claro! Você vai trabalhar na mansão da família Aguiar. Conhece?
- Conheço sim, meus pais... er... – ela calou-se imediatamente. Sim, seus pais os conheciam e freqüentavam suas festas, mas isso foi antes de sua vida virar do avesso e de cabeça para baixo.
- Então já ouviu falar deles? Que ótimo! Eles têm a mansão mais linda da cidade!

A loira fez um muxoxo. Aquela mulher falava assim porque não conhecia a mansão dos seus pais.

- Você vai adorar trabalhar ali! Irá até usar um belo uniforme!
- Uniforme? – a mulher foi até um armário e tirou dali dois uniformes pretos com aventais brancos e uma touca acompanhando. Ao ver do que se tratava, Carmem disparou muito indignada. – Espera, você só pode estar brincando, não é? Empregada doméstica? Eu? Nunca! Jamais! Sob hipótese alguma! Prefiro raspar minha cabeça do que me submeter a esse tipo de coisa! Sem chances!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Cinderela às Avessas - Capítulo 6: Agora ela está sem nada

16:59 0 Comentários

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E agora ela está sem nada
 
Carmem abriu a boca e fechou de novo. Aquilo estava mesmo acontecendo?

- Moça, você tá bem? Se quiser posso te pagar um salgadinho, você deve estar morrendo de fome! – Magali ofereceu sentindo pena daquela pobre alma atormentada.
- Eu não preciso de salgadinho, preciso de ajuda! Mônica, por favor, me ajuda!
- Como você sabe meu nome?
- Denise! – Carmem falou ao ver sua amiga ruiva chegando perto do grupo. – Denise, me ajuda amiga!
- Credo, sai pra lá que eu não te conheço!
- Até você? Por favor, eu preciso de ajuda! Alguém me ajuda!

Cebola ficou condoído ao ver aquela moça chorando e disse.

- Você tá perdida? Quer que a gente chame alguém?
- Eu não tô perdida, tô sem casa e ninguém me entende!
- O Licurgo vai te entender direitinho.. ai! – uma cotovelada atingiu suas costelas.
(Mônica) - Cascão, não fala assim! Vai que é doença! Ô moça, eu acho que você tá muito confusa, viu? Ninguém aqui te conhece não!

Ela recuou um pouco e olhou para os amigos totalmente horrorizada.

- Não acredito! Meus pais pagaram vocês pra fazer isso, não é? Diz que sim, por favor! Não façam isso comigo! Cebola, Magali, Mônica! Preciso de ajuda! Cascão lembra de como a gente se dava bem?
(Cebola) – A gente não sabe do que você tá falando.
(Mônica) – Nem te conhecemos!
(Magali) – Se quiser, podemos pedir ajuda pra você.
(Cascão) – Peraí, qual é mesmo o seu nome?

Ouvir tudo aquilo era difícil demais e Carmem saiu correndo dali feito louca, gritando e se descabelando.

- Gente, o que aconteceu com a madame ali? – Cascuda perguntou chegando bem a tempo de ver Carmem saindo correndo. Mônica respondeu.
- Sei lá, ela chegou aqui falando um monte de coisa sem sentido. Só não entendo como ela sabia o nome da gente.

Cascuda olhou para Mônica sem entender.

- Ué, como assim?
(Cebola) – Ela sabia o nome de todo mundo, só que ninguém aqui a conhece de lugar nenhum!

Ela ficou em silêncio, olhando para cada um deles e depois desatou a rir.

- Hahaha, essa foi boa! Vocês estão fazendo uma pegadinha com a Carmem?
- Carmem? Então é esse o nome dessa criatura esquisita? – Denise perguntou enrolando a ponta de uma Maria-chiquinha com os dedos.
- Você conhece ela, Cascuda? – Mônica também perguntou.
- Já podem abrir o jogo, ela não tá mais aqui!

Todos olharam para ela como se tivesse enlouquecido. Cascão falou.

- Não tem jogo não, linda! Ninguém aqui conhece ela!
- Aposto que isso é plano do Cebola!
- Plano meu? Nem vem, eu não tenho nada a ver com isso, nunca vi aquela garota em lugar nenhum, é sério!
- Tá bom, quando resolverem falar a verdade, me avisem. Também quero tirar um pouco de onda com a cara da Carmem. Agora preciso ir, prometi ajudar minha mãe com algumas coisas.

Ela despediu-se do Cascão e dos amigos e foi para casa achando graça de toda aquela situação. A única coisa que ela não entendia era o porquê de estar sendo deixada de fora daquela pegadinha. Ou seria apenas estratégia para deixar a coisa mais realista?

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De tanto correr, Carmem foi parar no parque da cidade e sentou-se num dos bancos sentindo-se física e mentalmente exausta. Ela nunca imaginou que seus pais fossem levar aquele castigo até as últimas conseqüências. Eles chegaram ao ponto de subornar seus amigos! E eles devem ter aceitado com muito prazer, bando de traidores!

Claro, ninguém ali gostava dela, todos lhe invejavam. Nada mais natural que se juntassem para lhe prejudicar!

- Hum... meu estômago tá doendo... que fome!
- Acredita em mim agora? – uma voz falou e ela pulou de susto ao ver Creuzodete sentada ao seu lado.
- Eu acredito que meus pais ficaram loucos, isso sim! Eles subornaram até meus amigos pra falarem que não me conhecem! É um absurdo!
- Ah, céus... já vi que você vai me dar trabalho! Entenda uma coisa, garotinha. Sua antiga vida acabou, não existe mais. Sua realidade agora é outra e quanto mais rápido se acostumar, melhor.

De tão cansada, Carmem não teve mais forças para rebater e falou sentindo-se totalmente derrotada.

- Tá, o que eu faço então? Não tenho nem casa pra morar!
- Como você ainda é nova, terei que te ajudar até que tenha condições de caminhar sozinha.
- Então você vai me levar pra sua casa?
- Para a minha casa? Ficou louca? Claro que não! É o seguinte: agora você está por conta própria. Eu lhe ajudarei no que for possível, mas você terá que se ajudar também.
- E como eu vou me ajudar? Não tenho nem dinheiro pra comprar um suco!
- Então arrume um emprego.

Ela sacudiu a cabeça levemente, limpou um ouvido com o dedo mindinho e perguntou totalmente incrédula.

- Arrumar o quê?
- Isso mesmo que você ouviu . Um em-pre-go.
- Um e-e-emprego? Tá falando pra eu trabalhar?
- Sim. Trabalhar. No mundo real, as pessoas trabalham para comer.
- M-mas eu n-nunca trabalhei na minha vida! Quer dizer, a Aninha me arrumou um trabalhinho pra distribuir folhetos, mas não foi nada além disso!
- Então você vai ter que se acostumar a pegar no batente!
- Que tipo de trabalho vou arrumar? Talvez de super modelo? Ou atriz? Até que seria bom!
- Nas suas atuais condições? Não sonhe tão alto. Preocupe-se apenas em arrumar algo que lhe proporcione um teto sobre a cabeça e três refeições diárias.
- E como eu vou arrumar um emprego?
- Isso é com você. Faça sua parte que encaminharei o resto. Melhor se apressar. Viver nas ruas é muito perigoso para uma garota como você!
- Então me ajude!
- Já estou te ajudando, mas não espere que eu faça o trabalho pesado por você.

Ela levantou-se e saiu dali a passos rápidos. Carmem foi atrás dela implorando.

- Por favor, me ajuda! Onde vou arrumar um emprego? Nem faço idéia onde procurar!

Creuzodete foi dar a volta na grande fonte do parque. Antes de desaparecer na curva, ela falou.

- Se você se esforçar, vai encontrar o lugar certo. Nos veremos novamente depois que você arrumar um emprego.
- Ei, espera! Você ainda não falou onde... hã? – ela deu a volta pela fonte duas vezes e viu que a mulher tinha desaparecido. Como podia uma coisa dessas?

Seu estômago voltou a roncar novamente e ela sentou-se na beirada da fonte tentando pensar no que fazer. Talvez a primeira coisa a fazer fosse arrumar algo para comer, já que ela não tinha colocado nada na boca o dia inteiro. Com essa idéia em mente, Carmem saiu andando a esmo, olhando aqui e ali pensando numa forma de conseguir comida.

Então ela lembrou-se de que às vezes, aparecia algum pobre lhe pedindo trocados para comprar comida. Como chamavam aquilo mesmo? Pedir esmola? Não, aquilo já era muito abuso! Uma Frufru jamais pediria esmolas para ninguém! Ela com certeza ia arrumar outra forma.

Mas o tempo foi passando e aos poucos ela foi se dando conta da sua situação. Não tinha mais como voltar para casa, seus pais não iam aceitá-la de forma alguma. Seus amigos não a reconheciam porque tinham entrado no jogo também. Ela não tinha para onde ir, nem dinheiro, nem nada. Era apenas uma pessoa invisível que ninguém se importava. Então aquilo era ser pobre? Como as pessoas agüentavam viver daquele jeito?

A noite chegou sem que ela conseguisse arrumar nada para comer. Seu orgulho a impedia de pedir esmola aos outros e nenhuma lanchonete ia lhe dar comida de graça. Sem outra escolha, ela voltou ao parque da cidade. Tudo estava escuro e não havia mais ninguém circulando por ali. Parecia um lugar tranqüilo e seguro para passar a noite.

- Isso não pode estar acontecendo comigo, não é justo! – ela choramingou tentando se acomodar no banco duro. Aquilo era totalmente desconfortável, não tinha onde apoiar a cabeça e seu corpo estava exposto ao frio da noite. Sua roupa podia ser bonita para desfilar no shopping, mas era uma porcaria para lhe proteger do frio.

Foi com muito custo que ela conseguiu cochilar um pouco, pensando em quando aquele tormento ia acabar.

- Tomara que eles me tirem logo desse castigo, tomara! Se isso acontecer, nunca mais compro nada na minha vida!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Cinderela às Avessas - Capítulo 5: E seu mundo vira de ponta-cabeça

19:52 0 Comentários

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E seu mundo vira de ponta-cabeça

Que sono bom... ela dormia profundamente como se não tivesse que preocupar com mais nada. Pena ter que acordar e enfrentar sua vida injusta de sempre, mas não tinha outro jeito. Não dava para ficar na cama para sempre.

Carmem abriu um olho, depois outro, esfregou o rosto por um tempo e foi até o banheiro para tomar um bom banho e vestir roupas limpas. Ela caminhou pelo quarto se espreguiçando e quando ia entrar no banheiro, se deu conta de que alguma coisa ali estava muito errada.

- Peraí! Que lugar é esse? – Aquele não era seu quarto. Quer dizer, ela ainda estava na sua mansão, mas em outro quarto diferente!

Apesar de ter o mesmo tamanho, não tinha a decoração feita especialmente para a filha mimada do casal mais rico da cidade. Era tudo bem simples e estava arrumado como se aquele quarto não fosse usado há muito tempo. Que estranho, será que ela tinha ido parar num dos quartos de hospedes sem perceber?

- Será que eu sou sonâmbula? Credo, só faltava mais essa!

Quando saiu para o corredor, sua cabeça ficou confusa. Pela posição da porta, ela estava sim no seu quarto. Mais para o lado, estava o quarto dos seus pais. Então o que estava acontecendo?

- Essa não! Será que eles tiraram minhas coisas enquanto eu dormia? Ah, só pode ser isso! Aqueles desalmados querem tornar minha vida pior do que já está! Isso não vai ficar assim não!

Para seu desapontamento, eram dez da manhã. Seus pais já saíram para trabalhar. Tudo bem, ela falaria com eles na hora do almoço. Por enquanto, era preciso colocar alguma coisa comestível em seu estômago.

Como os armários estavam vazios e ela não achava suas roupas em lugar nenhum, Carmem teve que descer para a cozinha com as roupas do dia anterior, coisa que ela odiava.

- Maria, arrume o café pra mim que eu tô com fome! – ela falou de forma grosseira e sentando-se a mesa. 

A mulher virou-se rapidamente e deixou algumas vasilhas cair no chão por causa do susto.

- Como foi que você entrou aqui?
- Entrei pela porta, sua ignorante! Agora prepara logo meu café que eu não tenho tempo pra bobagens!
- Quem é você? Moça, você sabe que é crime entrar na casa dos outros sem permissão, não sabe?
- Ficou doida? Pára com isso, ouviu? Não gosto dos empregados fazendo piadinhas!

Ignorando suas ordens, a mulher deu um grito pedindo socorro.

Outra empregada entrou rapidamente, seguida pelo jardineiro.

- Socorro! Ela entrou aqui e tá se achando a dona da casa!
- Aposto que tá drogada, olha a cara dela! – o jardineiro falou.
- Vamos chamar a polícia!
- Como se atrevem? Vou contar tudo pro meu pai, ouviram? Ele vai mandar vocês pro olho da rua!

As duas mulheres foram para o canto da cozinha e o jardineiro segurou Carmem pelo braço.

- Chama a polícia que eu seguro essa doida!
- Ei, que atrevimento é esse? Me solta agora mesmo!

A polícia chegou rapidamente e dois guardas a levaram dali com dificuldade, pois ela esperneava e até mordia o braço deles.

Ela foi colocada na viatura sob o olhar espantado dos vizinhos e levada dali em prantos. Já cansada de tanto gritar, Carmem afundou no banco do carro pensando na razão de tudo aquilo estar lhe acontecendo. Seria algum castigo dos seus pais? Era óbvio! Primeiro tiraram seu cartão de crédito e as roupas que ela tinha comprado. Depois esvaziaram seu quarto e agora mandaram os empregados tratá-la como se ela fosse uma estranha.

Tudo aquilo só para forçá-la a fazer o que eles queriam, não tinha como ser outra coisa e Carmem esperava que dentro de uma hora ou duas seus pais iam aparecer na delegacia para lhe dar um grande sermão e levá-la de volta para casa.

“Eles estão jogando muito sujo dessa vez, mas vão ver só uma coisa! Comigo ninguém brinca desse jeito!” 

Por ser menor de idade, os guardas a colocaram em uma cela separada até aparecer alguém para encaminhá-la a uma instituição adequada.

- Credo, essa garota grita demais! – o delegado falou sentindo dor nos ouvidos. – Chamem logo o juizado de menores antes que todo mundo aqui fique surdo!

Após gritar por uma hora inteira e quase causar uma rebelião entre os outros presos por causa da sua gritaria, Carmem acabou se cansando e sentou-se na cama da cela sentindo a cabeça dando várias voltas. Por que seus pais estavam demorando? Será que pretendiam deixá-la naquele ninho de pulgas o dia inteiro? Presa como uma criminosa? Ela, a Carmem Frufru?

“Eles estão passando dos limites dessa vez! Isso é crueldade!”

Lá pela uma da tarde, um policial abriu a cela e falou.

- Mocinha, a mulher do juizado de menores veio te buscar.
- Como é? – ela olhou para trás do guarda e viu uma mulher bem vestida. Ela usava um terninho bem alinhado e uma calça preta. Seus cabelos estavam presos em um coque elegante. Aquele rosto era bem familiar. Após um tempo, Carmem acabou a reconhecendo.
- Madame Creuzodete? O que tá fazendo aqui?
- Então você já conhece, né? Deve ser muito encrenqueira mesmo! – o guarda falou antes de deixá-las a sós.
- Venha comigo e sem resmungar. Dei um jeito de tirá-la daqui e eles não farão nenhuma ficha com seu nome.
- Meu pai te mandou por acaso?

Creuzodete saiu da delegacia e Carmem correu atrás fazendo várias perguntas de uma vez.

- O que tá acontecendo aqui? Exijo explicações agora mesmo!

A vidente parou e encarou a moça com o olhar firme.

- Acredita em fazer desejos para estrelas?
- Como é?
- De noite, no seu quarto, olhando pela janela. Uma estrela brilha mais do que as outras, te prendendo hipnoticamente.
- Que papo é esse? – ela perguntou sentindo arrepios desagradáveis.
- Então, sem pensar no que está fazendo, você faz um pedido. Pois bem: seu pedido se realizou!
- Que pedido? Eu não fiz nenhum pedido, ouviu?
- Se não tivesse feito, não estaria aqui. Vamos, tente se lembrar do que pediu.

Foi preciso puxar bem na memória para lembrar da noite anterior, quando ela contemplou aquela estrela pela janela e fez o pedido. Suas próprias palavras ecoaram na sua cabeça, enchendo-a de pavor.

“Eu desejo nunca ter nascido nessa família, nem nesse bairro, nem ter conhecido aquele bando de traidores! Desejo nunca ter conhecido ninguém aqui!”

- Não, isso não pode ter acontecido! Esse troço de fazer pedido pra estrelas não existe, você tá falando isso pra me assustar! Quanto o meu pai te pagou pra fazer essa palhaçada? É tudo coisa dele, não é?

Creuzodete resolveu ir direto ao assunto.

- Entenda uma coisa: você não é mais a filha rica e mimada do casal Frufru, nunca conheceu seus amigos, nem estudou no colégio do limoeiro. Agora você não é ninguém. Não tem casa, família, nem amigos. Não tem nada!
- Mentira! Eu sou muito rica, meus pais tem muito dinheiro!
- Sim, o Sr. e Sra. Frufru são muito ricos, mas as coisas mudaram. Para todos os efeitos, eles nunca tiveram filhos e não vão lhe reconhecer.
- Vão sim! Eles são meus pais, nunca virariam as costas pra mim! Quer saber? Vou pra casa agora mesmo!

Ela saiu dali ignorando os avisos da outra e teve que caminhar muito até chegar a sua mansão. Lar doce lar! E daquela vez, a lição foi aprendida. Se seus pais queriam que ela mudasse, então ela ia mudar para não ter que passar por tudo aquilo novamente. Eles sabiam ser cruéis e jogar pesado. Não dava para lutar contra aquilo.

- Pai, mãe! Abre a porta, me deixa entrar! – ela pediu batendo a campainha várias vezes. A empregada atendeu e gritou ao deparar com aquela garota maluca.
- Socorro! Ela voltou!
- Para com isso, Maria! Deixa eu entrar, vai! Quero falar com meus pais!
- Ninguém aqui te conhece, vai embora! – a mulher falou fechando a porta. Num gesto rápido, Carmem empurrou a porta com força e entrou na sala como um foguete chamando por seus pais. 

Um casal elegantemente vestido apareceu no topo da escada assustado com todo aquele escândalo.

- O que está acontecendo aqui?
- Senhora, essa doida entrou na casa achando que mora aqui!
- Mãe, pai! Que bom ver vocês! – Carmem falou subindo as escadas e os dois recuaram mostrando claro receio.
- Do que está falando? Nós nem te conhecemos!
- Por favor, paizinho! Eu já aprendi a lição, juro! Nunca mais faço aquelas coisas, tá? De hoje em diante, serei uma boa filha, prometo! – ela falou tentando se fazer de doce meiga. A dona da casa ordenou.
- Menina, saia dessa casa agora mesmo ou chamaremos a polícia!
- Mãe...
- Eu não sou sua mãe. Você precisa de ajuda, se quiser podemos encaminhá-la a uma instituição adequada, mas não tente mais invadir essa casa!
- Instituição? Eu não preciso disso, preciso que vocês acabem com esse castigo maluco agora mesmo!

Vendo que não tinha como argumentar com aquela lunática, o casal ordenou.

- Maria, chame a polícia! 
- Polícia? De novo? Não, por favor!
- Então saia daqui nesse instante! – o homem ordenou. – E procure tomar vergonha nessa cara e mudar de vida! Invadir a casa dos outros é crime, ouviu?

A empregada já estava pronta para chamar a polícia. Seus pais não lhe ouviam, pareciam nem mesmo reconhecê-la. O jardineiro e o chofer entraram na sala para prendê-la e Carmem acabou se apavorando. Não, eles não iam prendê-la de novo e nem mandá-la para aquela cela espremida e imunda! De jeito nenhum!

Sem pensar duas vezes, ela saiu dali o mais rápido possível e tomou a rua, correndo sem rumo. Por que seus pais estavam agindo daquela forma tão cruel? Aquilo era loucura! Pelo visto, eles não iam ceder tão cedo.

- Por que eles estão fazendo isso? Por quê? Eu não fiz nada demais pra merecer isso, não é justo!

Como não tinha mais medo de ser pega, ela parou de correr e começou a andar com passos lentos e cansados. De repente, a visão de pessoas familiares fez com que ela se enchesse de esperança. A ajuda estava a caminho!

- Vocês também vão viajar, Ce?
- Só por uma semana. A gente volta antes do natal. 
- O Quim vai fazer muitas gostosuras de natal esse ano. Ai, mal posso esperar! A festa do seu Quinzão vai ser a melhor de todas!
- Como eu passei direto, o velho lá em casa vai me dar um skate novinho! É nóis!

Apesar de muitos tropeços, aquele ano prometia terminar bem e todos estavam felizes, planejando suas férias e torcendo para que ficassem na mesma turma no próximo ano.

No meio da conversa, eles foram surpreendidos por uma garota que apareceu de repente. Ela estava com as roupas desalinhadas, o cabelo desgrenhado e tinha cara de ser maluca.

- Pessoal! Vocês precisam me ajudar! Meus pais ficaram doidos, me colocaram de castigo e agora tô até sem casa pra morar!

Eles se entreolharam por um tempo e Mônica perguntou.

- Peraí... a gente conhece você?

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Cinderela às Avessas - Capítulo 4 - Então aparece uma estrela

20:23 1 Comentários
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Então aparece uma estrela

Creuzodete olhava o céu com um olhar distante.

- A estrela vai aparecer hoje, madame?
- Sim. Agora é só esperar.
- Será mesmo que ela fará algum pedido?
- É muito difícil resistir. É quase hipnótico.
- Fico só pensando como as coisas vão ficar depois desse pedido. Tudo ficará de pernas para o ar!
- É preciso um pouco de caos para que tudo se ajeite.
- Nesse caso, será um grande caos. Estou com pena dela. Bom... quase.

A outra só deu aquele sorrisinho misterioso. Ah, se aquela garota soubesse o que lhe esperava! Sua vida nunca mais ia ser a mesma depois daquela noite.

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Carmem assistia a tudo com grande deslumbramento. Eram as roupas mais lindas que ela tinha visto em toda sua vida! Como era possível alguém criar algo tão fabuloso assim?

- Ai meu santo! Esse vestido é a minha cara! Nossa, essa blusa é tudo de bom! E esse biquíni? Olha esses sapatos! Ai meu coração!

O desfile tinha sido um sucesso, mostrando a coleção de verão feita pelos melhores estilistas do país e alguns do exterior. Carmem assistiu a tudo maravilhada e se apaixonou por cada peça de roupa que foi apresentada, imaginando como ia ficar deslumbrante caso elas fizessem parte do seu guarta-roupa.

No final, ela olhou o relógio. Eram seis e meia, hora de ir embora. Mas aquelas maravilhas não a deixavam sair do lugar. Todas as peças pareciam lhe chamar pelo nome, implorando para serem compradas. Era impressão sua ou tinha se formado uma aura de luz ao redor daquelas roupas? Céus, ela ouvia até um coro angelical!

- Será que eles vão ficar zangados se eu comprar só essa minissaia? É tão linda, eles nem vão perceber. Isso mesmo, só essa minissaia e eu vou embora! E todos ficam felizes!

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No céu noturno, uma estrela apareceu repentinamente, brilhando mais do que as outras. Ela piscava sem parar, como se estivesse aguardando algo. E realmente estava

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Carmem suspirava de felicidade ainda saboreando o dia mais feliz da sua vida. Ela pretendia comprar somente aquela minissaia, mas viu uma blusa que ia combinar divinamente. Depois sapatos, acessórios, bolsas, lenços... então ela viu uma linda calça, depois um vestido e uma coisa foi levando a outra até o carro ficar totalmente abarrotado por causa das suas compras. O que era para ter levado alguns minutos durou três horas, mas ela não se importou com o tempo. Não se importou com nada.

Eram quase dez da noite quando o carro estacionou na entrada da mansão. O casal Frufru estava na sala esperando a filha chegar para lhe dar uma grande bronca pela demora e tiveram um choque quando Carmem entrou seguida pelo chofer que segurava uma imensa quantidade de embrulhos, pacotes e sacolas como se fosse um carregador de safári.

- Céus, Carmem! Você enlouqueceu? – sua mãe perguntou com os olhos arregalados. Nem ela comprava daquele jeito.
- Você quer nos levar a falência? Quer nos arruinar? – seu pai estava quase enfartando.
- Ai, que exagero! Foi só umas comprinhas de nada! Nem estourei o limite do cartão!
- E você ainda fala isso como se fosse um grande feito? Carmem, você me prometeu que não ia comprar nada nesse desfile!
- Er... prometi? Uia, eu não lembro!

Os dois olharam para ela com a pior cara possível. Por que seus pais estavam aborrecidos com algo tão bobo? Só porque ela comprou algumas roupas? O que havia de errado nisso? Ela era de família rica, podia pagar por tudo. Não dava para entender por que eles estavam tão chatos daquele jeito sendo que antes nem ligavam para essas coisas.

- Espero que você tenha guardado as notas, porque amanhã mesmo vamos devolver tudo!
- Devolver? Mãe, a senhora não pode estar falando sério! Isso não!
- Sim, ela está falando muito sério e eu também! O que você fez foi totalmente errado! Não demos autorização para fazer essas compras!
- Então por que deixaram o cartão de crédito comigo?
- Porque achamos que seria útil em caso de emergência, mas vejo que foi muita imprudência deixar algo assim em suas mãos e já estou totalmente arrependido!
- Eu também! Carmem, você tem noção do quanto isso é absurdo?
- Absurdo? Desde quando comprar algumas roupinhas é absurdo? A senhora nunca ligou pra isso!
- Agora eu ligo! Quero ser uma pessoa melhor, cansei dessa vida de futilidades! E você vai ter que mudar também!
- E se eu não quiser mudar? Estou muito bem assim, obrigada!

Seus pais a olharam de um jeito muito estranho. Sua mãe falou.

- O que me deixa mais triste é que você quebrou sua promessa.
- Ah, desculpa, foi mal!
- Estou muito decepcionado com você. Nós estamos.
- Confiamos na sua palavra e você fez o contrário do que prometeu.
- Ai, também não é pra tanto. Ei, minha bolsa!

Ignorando os protestos da filha, ela pegou a bolsa e tirou de lá o cartão de crédito e também as notas de toda a compra.

- Nós lhe poupamos do castigo porque achamos que fosse capaz de honrar com sua palavra. Já que não pode fazer isso, então terá que arcar com as conseqüências dos seus atos. De hoje em diante, lhe daremos apenas o suficiente para as despesas pessoais. Você não tem maturidade para andar por aí com um cartão de crédito.

O choro da Carmem ecoou pela casa inteira. Ela gritava, chorava, batia o pé, implorava, ameaçava e fazia de tudo para que eles mudassem de idéia.

- Vocês não podem fazer isso comigo, é crueldade! Droga, por que vocês pegam tanto no meu é? Nunca fazem nada pra mim, essa vida é uma droga mesmo!
- Vá agora para o seu quarto, mocinha! Nós vamos decidir qual castigo aplicar e você vai aprender a nos respeitar de uma vez por todas!
- Ah, me deixa em paz, tá legal? Vocês são chatos demais!

A moça saiu dali pisando duro e praguejando em voz alta. Sua mãe sentou-se no sofá em prantos.

- Eu não acredito que criei esse monstro! Como pude ser tão burra?
- Nós dois falhamos, querida. Nós dois falhamos. – seu marido falou colocando o braço ao redor do seu ombro.

Reeducar aquela garota mimada e fútil ia ser um grande desafio para eles.

Quando chegou ao seu quarto, Carmem se jogou na cama chorando e lamentando por ter uma vida tão difícil.

Seus amigos tinham lhe abandonado, seus pais resolveram ser horríveis, os empregados eram uns idiotas, ninguém lhe respeitava mais. Será que tinha como as coisas piorar? Naquela hora, tudo lhe pareceu horrível e ela desejou poder sumir dali para nunca mais voltar.

De repente, um brilho forte pareceu entrar pela janela, fazendo-a parar de chorar. Ela pode ver o céu todo estrelado e sentiu uma vontade irresistível de olhar as estrelas.

Desde quando ela se importava com esse tipo de coisa? Bem... Seu estado de espírito não estava nada bom e ela se sentia deprimida. Uma estrela em particular lhe chamou a atenção porque além de ser maior e mais brilhante que as outras, também piscava de forma insistente, como se quisesse ser notada. Até parecia uma grande jóia no céu!

Os eventos daquele dia e dos outros voltaram a sua cabeça, fazendo com que um grande ressentimento surgisse dentro dela. Olhando para a estrela e se deixando levar pelo rancor e vitimismo, Carmem falou em voz alta e sem pensar no que estava dizendo.

- Eu desejo nunca ter nascido nessa família, nem nesse bairro, nem ter conhecido aquele bando de traidores! Desejo nunca ter conhecido ninguém aqui!

A estrela pareceu brilhar mais ainda, fazendo-a ter um sobressalto. Ela esfregou os olhos, tentou olhar direito e viu que tinha sumido.

- Aff, devo estar ficando doida mesmo! Fazer pedido pra estrela? Credo, que coisa mais brega!

Seus olhos estavam pesados e ela bocejou longamente. Um sono irresistível tomou conta dela, fazendo-a dormir imediatamente sem nem ao menos preocupar em trocar de roupa.

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- Está feito, Berenice. – Creuzodete falou olhando para o céu noturno. - Eu disse que nunca falha.
- Que menina tola... ela poderia ter pedido qualquer coisa e desperdiçou com esse pedido idiota. Agora ela vai sofrer muito.
- Não há muito o que fazer. Como ela é muito jovem, vou acompanhá-la por um tempo para garantir que não irá se machucar ou coisa pior. Depois disso, ela terá que arcar com as conseqüências da sua escolha.