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A Cinderela se torna gata borralheira
Uma hora mais tarde, um carro da agencia deixou Carmem em frente a
mansão dos Aguiar. Como foi que aquela mulher lhe convenceu mesmo? Sua
cabeça estava meio confusa. Talvez um momento de lucidez a tivesse feito
aceitar a proposta, pois sabia que além de salário, ia ter comida e um
lugar para morar.
Pelo menos a fachada era bonita e ela adorava
mansões. Talvez não fosse tão ruim. Após tocar o interfone e anunciar
que era da agência, o portão foi aberto para que ela entrasse.
O
lugar era imenso e ela teve que andar um bocado até chegar a entrada.
Ali perto havia um carro bem familiar. Uma BMW de último modelo. Abaixo
dela, tinha alguém deitado junto com uma caixa de ferramentas.
- Er... oi... dá licença. – um barulho se fez ouvir debaixo do carro e o sujeito teve um sobressalto.
- Ai! Minha cabeça! – ele se arrastou para fora e Carmem arregalou os olhos.
- Oh! Você é o primo da Cascuda! Rafael, né?
- Epa, você conhece minha prima? Engraçado, achei que conhecesse todas as amigas dela! Como me reconheceu?
- Hã... ela sempre fala de você...
-
Essa minha prima! É muito bajuladora mesmo! – ele falou meio derretido.
Como ambos eram filhos únicos, um via o outro como um irmão que nunca
pode ter.
Ao ver que o rapaz não lhe reconhecia, Carmem começou a
ficar preocupada. Será que seu pai subornou a cidade inteira ou seria
mesmo verdade toda aquela história de estrela mágica?
Como aquela
moça era amiga de sua prima, Rafael acabou sendo simpático com ela,
embora estivesse intrigado por alguém tão jovem estar trabalhando ali.
Sem
que eles vissem, alguém os observava de longe apertando os lábios com
raiva. Aquela garotinha mal chegou e estava dando de cima dele? Quanta
cara de pau!
- Olha, eu sou a nova empregada e a agência me mandou.
-
Sei. – Ele deu uma boa olhada e duvidou seriamente que aquela garota
seria capaz de dar conta do serviço - Pode entrar que a patroa deve
estar te esperando.
- Tá bom. – Carmem tomou a direção da entrada principal e Rafael a chamou de volta.
- Espera, a entrada de serviços é do outro lado!
Seu corpo gelou por um segundo. Entrada de serviço? Ah, claro. Ela era uma serviçal agora. Não podia mais entrar pela frente.
Foi
preciso dar a volta pela mansão até encontrar a entrada dos fundos que
dava para a cozinha. A porta estava aberta e Carmem viu que tinha uma
mulher limpando a cozinha com um esfregão. Era bonita, pele morena,
cabelos trançados bem pretos e usava um uniforme igual ao seu. Ela
estava com cara de poucos amigos e esfregava o chão como se tivesse
descontando suas frustrações nele.
- Oi... posso entrar? Me mandaram da agencia.
A
outra parou o que estava fazendo e olhou-a cima a baixo. Aquela devia
ser a empregada branquinha que a patroa tinha contratado porque não
achou que ela fosse bonita o suficiente para atender as visitas. Ou
melhor, não tinha o tom de pele correto e por isso devia ficar escondida
dos outros. E para piorar, aquela sirigaita estava dando de cima do
Rafael! Aquilo não ia ficar barato de jeito nenhum! Ela falou mostrando
hostilidade.
– Deixa eu adivinhar: você é a nova empregadinha?
- Sou sim, a agência me mandou e...
- Tá, tá. Vou te levar para conhecer a madame. Vai gostar muito dela (só que não).
Carmem a seguiu com a ligeira impressão de que aquela mulher não tinha ido com a sua cara.
- Meu nome é Carmem.
- Não te perguntei.
- E... e o seu?
- Cassandra e nem pense em mexer nas minhas coisas! Cada uma cuida de si!
- ...
As
duas foram até uma grande sala decorada com luxo um tanto exagerado.
Muitos enfeites, obras de arte, tapetes que Carmem sabia serem caros e
um grande sofá branquíssimo no meio da sala, onde estava sentada uma
mulher que lia uma revista distraidamente. Seu nome era Rebeca Aguiar,
ela tinha trinta anos, embora aparentasse menos por causa da maquiagem e
dos caríssimos tratamentos de beleza. A mulher também tinha o cabelo
loiro platinado bem liso que ia até os ombros e estava partido de lado.
Apesar de estar em casa, ela se vestia como se estivesse numa festa
elegante.
Carmem a conhecia das colunas sociais. Ela e seu marido
eram os novos ricos do momento. Seus pais até já tinham ido a algumas
festas promovidas pelo casal.
- Senhora, a nova empregada que a
agencia mandou. – a patroa deixou a revista de lado e levantou-se do
sofá para analisar Carmem como se fosse um produto.
- A nova
empregada, é? Hum... deixe-me ver. – ela fez um gesto com a mão, pedindo
para que a moça desse uma volta. – Sim, sim. Nada mal. Bonitinha, bem
branquinha, olhos azuis.
Ela não sabia se devia ficar feliz com
aqueles elogios ou preocupada. O jeito que aquela mulher a olhava não
era nada agradável.
- Mas esse cabelo aqui... – ela pegou uma
mecha no topo da sua cabeça para analisar e Carmem sentiu um pouco de
dor. Era impressão sua ou havia ressentimento naquele puxão? – É loiro
mesmo!
- É sim senhora.
- Shhh! Não me interrompa. Bem, você é
aceitável. Poderá servir as visitas e devo admitir que combina muito bem
com a decoração.
- C-com a decoração?
- Eu ainda não terminei.
Você foi aprovada, mas esse cabelinho aí... – a moça ficou preocupada
com o tom de voz usado pela mulher ao falar dos seus cabelos. – Eu não
gosto de empregadas com cabelos compridos, pode cair nos meus tapetes
caríssimos, nos móveis e até na comida!
- M-m-mas...
- Não discuta comigo! Nunca, entendeu?
- S-sim senhora...
-
Ou você dá um jeito de prender isso, ou então corte, mas desse jeito
não pode ficar. Seu cabelo é grande demais! Onde já se viu uma empregada
com um cabelo desse tamanho? E nada de maquiagem! Isso aqui não é
nenhuma festa e quero te ver sempre de rosto limpo!
Sua vontade
era de sair dali correndo. Agora ela sabia por que a dona da agencia
faltou pouco lhe implorar para que aceitasse aquele emprego e até lhe
deu uma carona até ali. Claro, ninguém mais devia querer trabalhar para
aquela criatura esnobe e arrogante.
- Está dispensada. Cassandra
lhe mostrará o que deve ser feito nessa casa e vou logo avisando que
deve ser muitíssimo bem feito!
Após fazer que sim com a cabeça,
com medo até de responder aquela mulher, Carmem foi seguindo Cassandra
de volta para a cozinha.
- Que coisa, ela nem quis saber meu nome!
- Porque não interessa.
Na
cozinha, uma mulher trabalhava picando alguns legumes. Ela tinha
estatura mediana, levemente rechonchuda, pele negra e cabelos crespos
muito bem presos e amarrados.
- O que temos aqui... a nova empregada, não é?
- Sou sim.
- E qual é o seu nome, garota? Você parece bem nova!
- Meu nome é Carmem.
- Ah, sei. Eu sou a Marlene. Cassandra, mostra onde ela vai dormir.
Cassandra fez a pior cara possível e saiu dali pisando duro.
- Anda, pode ir com ela. – Marlene falou voltando ao trabalho.
As duas foram até os quartos dos fundos. Eram três portas e Cassandra abriu uma delas.
-
Seguinte, garota. Aqui só tem três quartos de empregada. O Rafa já usa
um deles e a Marlene o outro. Esse aqui vai ficar para nós duas, o que
eu acho uma droga!
- É tão pequeno...
- Nossa, você percebeu isso sozinha?
A mulher tirou um colchonete de baixo da cama e o atirou para cima da Carmem que quase caiu para trás com o impacto.
- Tá aqui sua cama.
- Eu vou dormir nisso aqui?
-
Só tem uma cama nesse quarto e ela é minha, assim como a TV, o som e o
armário. Eu vou te dar uma gaveta para guardar suas coisas.
- Só uma gaveta? Não vai caber quase nada!
- Não é problema meu! O armário está cheio com as minhas coisas e não vou espremer nada para te dar espaço!
- M-mas isso não é justo! Eu vou dormir no chão!
-
Ué, se a princesinha não está satisfeita, a porta da rua é a serventia
da casa! Agora vai ajudar Marlene na cozinha. No fim do dia eu te dou a
lista com as tarefas que você vai fazer nessa casa.
Cassandra
saiu dali, deixando Carmem desolada. Ela não sabia se chorava, gritava,
saia correndo ou se matava de vez. As coisas iam ser muito mais difíceis
do que ela esperava.
domingo, 12 de janeiro de 2014
Capítulo 8 - Cinderela às Avessas: A Cinderela se torna gata borralheira
by
Mally Pepper
on
16:42
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A Fanfic está excelente Mallagueta! Estou adorando! :)
ResponderExcluirPosta uma dobradinha amanhã, Mallagueta!!!
ResponderExcluirQualquer dia desses eu posto.
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