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E precisa se virar sozinha
Creuzodete tomava o café da manhã calmamente, sendo servida por Berenice.
- Será que essa moça vai ficar bem?
-Estou fazendo o possível para protegê-la, mas não posso fazer nada se ela também não se ajudar.
- Ela é desmiolada, mas também entendo que não tem experiência nenhuma, nunca teve que enfrentar a vida antes.
- Tentarei encaminhá-la na medida do possível, mas o resto é por conta dela. Hum... ela já deve estar acordando. Espero que siga meu conselho hoje. Quanto mais tempo ficar na rua, pior.
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Carmem acordou ouvindo a conversa das pessoas que passavam perto do banco. Que horas eram? Ela não sabia, pois tinha saído de casa sem relógio e sem o celular. Seu corpo estava moído, fraco de tanta fome e a garganta queimava de sede. Pelo menos aquilo podia ser resolvido no bebedouro do parque. Ela tomou bastante água, lavou o rosto e decidiu que precisava tomar um rumo. Passar outra noite dormindo no banco do parque estava fora de questão.
Talvez seus pais quisessem lhe dar uma lição para ensinar o valor do dinheiro e coisas do gênero. Então, se arrumasse um emprego, eles acabariam com aquele castigo maluco.
- Ela falou que eu preciso arrumar um emprego, mas onde? Espera... acho que a Aninha costumava ir a um lugar que dá emprego. Onde era mesmo?
Ela lembrou-se de quando sua amiga tinha lhe arrastado até lá tentando lhe mostrar como o trabalho era gratificante. Aquele lugar ficava no shopping do limoeiro e ela resolveu ir até lá para ver se conseguia alguma coisa.
Foi preciso outra longa caminhada para chegar até o shopping e seus pés doíam. Aqueles sapatos eram bons para qualquer coisa, exceto andar. Pelo menos no shopping ela se sentia um pouco melhor por ser um local familiar.
- Preciso ir ao banheiro. Ainda bem que tem um limpinho aqui. Ih, credo! Tô fedendo que nem o Cascão!
Para sua sorte, havia pouco movimento naquele horário. O banheiro estava vazio e ela aproveitou para se lavar da melhor forma possível usando o sabonete líquido. Depois tentou ajeitar os cabelos molhando-os um pouco e penteando com os dedos. Seu rosto estava limpo, porem sem maquiagem. Ela não gostava de sair por aí sem maquiagem.
- Que droga, não tem nem um batonzinho! E um perfume até que ia bem. Ah, espera! Acho que posso dar um jeito nisso!
Havia uma loja no shopping onde eles disponibilizavam amostras para as clientes testarem. E outra onde distribuíam amostras de perfume.
Ao andar pelo shopping, ela sentiu-se muito estranha. Tantas coisas bonitas na vitrine e não podia comprar nada porque não tinha um centavo no bolso. Ela teve até impressão de que as pessoas lhe olhavam diferente e sentiu-se muito desconfortável ao entrar na loja.
“Esse batom aqui deve servir. Ai, que nojo! Um monte de gente deve ter usado isso!” ela foi pensando enquanto passava o batom contendo a sensação de nojo. Depois ela passou um pouco de sombra e delineador. Foi suficiente para melhorar sua aparência.
- Posso ajudar em alguma coisa? – uma vendedora falou se aproximando.
- Eu tô só olhando, que saco! Vai caçar serviço, vai!
- Faça o favor de se retirar dessa loja, mocinha! – a vendedora falou encarando-a ameaçadoramente.
- Como é?
- Ninguém aqui tem que aturar suas grosserias! Se não vai comprar, então retire-se!
A patricinha até pensou em protestar, mas lembrou que seus pais não iam mais apoiá-la e ela não queria correr o risco de ser presa novamente. De qualquer forma, ela tinha terminado de se arrumar e foi para outra loja ver se conseguia uma amostra de perfume.
Apesar da fome que sentia, ela estava mais apresentável e segura o suficiente para tentar arrumar um emprego. Não havia outra opção. Ao atravessar a praça de alimentação, no caminho para a agência, seu estômago roncou mais alto do que nunca com a visão e o cheiro de toda aquela comida. Foi uma grande tortura.
- Agora já sei como a Magali se sente.
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Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Cascuda vasculhava o facebook e viu que o perfil da Carmem tinha desaparecido. Isso por si só não era problema, talvez tivesse sido deletado. O que lhe intrigava mais ainda era o fato de todos os seus amigos afirmarem categoricamente que não a conheciam de lugar nenhum.
No início ela tinha pensado se tratar de uma pegadinha, mas o tempo passou e ela começou a desconfiar de que podia haver outra coisa acontecendo. O que seria? Ao investigar, ela levou um choque ao uma foto onde todas as garotas da turma estavam reunidas e constatar que Carmem não se encontrava entre elas.
- Que coisa estranha! Ela estava bem aqui, do lado da Denise! – ela falou consigo mesma analisando a foto. Foi como se a Carmem tivesse saído de lá e seu espaço ocupado por Marina. Não parecia montagem.
Em todas as fotos onde Carmem aparecia era a mesma coisa. No blog da Denise, nenhum post falava a seu respeito como sempre acontecia quando as duas iam passear no shopping e Denise contava sobre o passeio mostrando várias fotos. Será que eles não estavam indo longe demais com aquela brincadeira? Era mesmo só uma brincadeira? E por que ela deveria ficar preocupada?
Apesar de andarem juntas de vez em quando, Cascuda não via Carmem como amiga e por isso não tinha razões para se preocupar com ela. Especialmente depois daquela briga entre as duas. Porém, aquilo não saía da sua cabeça. E se aquela tonta estivesse em dificuldades?
- Aff, que bobagem essa a minha! É só ligar pra casa dela e perguntar! Dã!
Ela rapidamente discou o número e após alguns toques, a voz de uma mulher atendeu.
- Alô?
- Oi, eu gostaria de falar com a Carmem.
- Não tem ninguém aqui com esse nome.
- Hã? Aí não é o 2658-8745?
- Sim, mas não tem nenhuma Carmem aqui.
- Ué, achei que essa fosse a casa dos Frufrus.
- É sim, só que não tem nenhuma Carmem. Acho que deve ser um engano.
A moça desligou o telefone totalmente intrigada. O que estava acontecendo ali afinal de contas?
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De longe, Creuzodete observava os movimentos da jovem com um leve sorriso no rosto. Pelo menos ela estava tentando seguir seu conselho.
“Bem... hora de interceder um pouco a seu favor.”
Dentro do escritório da agência, Carmem olhava para os lados procurando por alguma atendente. Ela se sentia perdida, sem saber o que fazer e com quem falar.
- Oi, você tá procurando alguém?
- Ah, oi Aninha! Eu estou procurando um trabalho e...
- Hã? Como sabe o meu nome?
“Droga, até ela foi subornada!” Carmem pensou irritada e resolveu não discutir porque precisava de ajuda.
- Eu... er... já te vi trabalhando numa lanchonete.
- Ah, tá. Eu conheço a dona que está trabalhando aqui nesse horário e ela deve te ajudar. Fica naquela porta. Pode bater que ela te atende.
Ela foi ao local indicado e pela porta entreaberta viu uma mulher elegantemente vestida que falava ao telefone com uma cliente muito rica e importante.
- Entenda, senhora Aguiar, não temos empregadas com as descrições que pede! Nem sei se é possível encontrar alguma!
A mulher ficou em silêncio, ouvindo as demandas da sua cliente do outro lado da linha. Que criatura mais sem noção aquela! Além de fútil e preconceituosa, também era uma racista nojenta, mas não cabia a ela dar lições de moral aos seus clientes.
- Sim, eu sei que essa empregada terá maior contato com as visitas, entendo isso e tenho muitas moças aqui de boa aparência, mas não do jeito que a senhora me pede! Hã? A senhora vai pagar uma comissão extra se eu encontrar alguém?
Seus olhos brilharam. Aquela comissão seria para ela, como se fosse uma generosa gorjeta. Mas onde encontrar uma empregada do jeito que aquela madame queria? O som de alguém batendo na porta entreaberta lhe chamou a atenção e ela abriu um grande sorriso.
- Só um segundinho, Sra. Aguiar. – ela fez a Carmem um gesto para que entrasse e sentasse na cadeira a sua frente. Após olhar a moça de cima abaixo por alguns segundos, voltou a falar ao telefone. – Sabe... acho que tem sim alguém disponível, mas ela ainda é jovem, inexperiente e parece que não tem carta de recomendação. Ah, sei! A senhora não se importa contanto que tenha boa aparência? Que ótimo! Conversarei com ela e retornarei dentro de trinta minutos.
Carmem ouvia tudo com o coração batendo mais forte. Será que aquela mulher estava falando dela? Céus, estava sendo mais fácil do que ela imaginava! A atendente desligou o telefone e perguntou com um sorriso forçado no rosto.
- Em que posso ajudar, querida?
- Eu... eu procuro biscoitos (cof cof) quer dizer, um emprego! – ela se atrapalhou toda ao ver um pacote de biscoitos em cima da mesa. A mulher o empurrou gentilmente em sua direção e falou.
- Sirva-se a vontade, meu bem. Acho que tenho a coisa certa para você!
- Sério? – ela perguntou colocando dois biscoitos na boca de uma vez, pois não sabia quando ia conseguir comida de novo.
- Claro! Você vai trabalhar na mansão da família Aguiar. Conhece?
- Conheço sim, meus pais... er... – ela calou-se imediatamente. Sim, seus pais os conheciam e freqüentavam suas festas, mas isso foi antes de sua vida virar do avesso e de cabeça para baixo.
- Então já ouviu falar deles? Que ótimo! Eles têm a mansão mais linda da cidade!
A loira fez um muxoxo. Aquela mulher falava assim porque não conhecia a mansão dos seus pais.
- Você vai adorar trabalhar ali! Irá até usar um belo uniforme!
- Uniforme? – a mulher foi até um armário e tirou dali dois uniformes pretos com aventais brancos e uma touca acompanhando. Ao ver do que se tratava, Carmem disparou muito indignada. – Espera, você só pode estar brincando, não é? Empregada doméstica? Eu? Nunca! Jamais! Sob hipótese alguma! Prefiro raspar minha cabeça do que me submeter a esse tipo de coisa! Sem chances!
Ai,ai,ai, viu? Como a Cascuda pode reconhecê-la? Ela também fez um pedido para a estrela? Truque de Creuzodete? O que será? Estou gostando bastante da Fanfic! Mesmo que só esteja começando, está muito boa
ResponderExcluirE também tem esse orgulho bobo da Carmem! Será que ela não vê que sua única chance de melhorar é abandoná-lo ?
Hahaha, por enquanto é um mistério! Mas deixar velhos hábitos de lado não é mesmo fácil pra ninguém. As vezes pode levar uma vida inteira. Mas fique tranquilo que no caso da Carmem vai ser um pouco mais rápido.
ExcluirEstou adorando a fic, esta superlegal, contém bastante misterio na parte de só a Cascuda saber de tudo, e estou doidinha para ver a Carmem passar uns maus bocados, ainda mais trabalhando do que ela nunca imaginou um dia!
ResponderExcluirValeu! Eu achei mesmo que seria muito divertido ver a carmem passando por maus bocados.
ExcluirNão acredito que ela quer perder essa chance. Não é todo mundo que consegue um emprego tão fácil ¬-¬
ResponderExcluirEu tô gostando muito da fic, Mallagueta *u*
Ah, mas é a Carmem Frufru, a patricinha mais orgulhosa do bairro! Vamos ver se hoje ela dobra o orgulho!
ExcluirNão acho muito divertido ver o sofrimento dela (não fico rindo), mas acho bem interessante de como a Carmem vai evoluir e tomar muita surra da vida! :D
ResponderExcluirTem gente que precisa apanhar um pouco pra evoluir.
ExcluirSim, sim. Mallagueta, essa fanfic vai ser longa ou curtinha? Acho que a Carmem pode render muitos capítulos legais.
ExcluirSão 34 capítulos.
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