domingo, 20 de julho de 2014

CBM#11: O filho do Chico - críticas



Ah, como eu esperei a ed. 11 do Chico Bento! Acho que todo mundo esperou, né? Afinal, não é todo dia que aparece um tema tão polêmico e diferente do que a gente costuma ver nas revistas CBM e TMJ.  E parece que nessa história teve de tudo: desde embriaguez, no início da história, até uma gravidez indesejada.

E estou falando de embriaguez mesmo, do cara segurando garrafa de bebida e para lá de Bagdá. Isso mostra um lado mais adulto dos personagens, com o Genesinho vivendo sozinho, saindo para farrear com os amigos e ainda dirigindo após beber. Aliás, quando vocês crescerem, não cometam esse erro, viu? História em quadrinho é uma coisa, mas na vida real isso só dá zebra.

É nessa parte que vemos a vida dele nos EUA, torrando o dinheiro do pai com farra e garotas. Mas a boa vida acaba quando o pai dele aparece para buscá-lo na marra. Bem... Não sei se ele tem lá muito direito de ficar reclamando, pois não foi capaz de educar o filho direito na infância. Mimou demais, deixou fazer tudo o que queria, então não dá para esperar outra coisa, dá?

Outro tema que a história tocou, ainda que muito de levinho, foi a dificuldade dos relacionamentos a distância e a infidelidade que isso pode trazer para quem não sabe lidar com isso. E na faculdade costumam haver tentações mesmo, festas, pessoas novas, etc. O Chico está sabendo viver bem com isso, mas nem todos conseguem. E achei bem fofo o amor e lealdade dele para com a Rosinha. Afinal, é uma situação temporária. Um dia eles vão poder ficar juntos de novo e ter uma família.

Só que tudo começa a feder um pouco quando o Chico descobre que o Genesinho ficou na sua turma, o que me causou um pouco de estranheza porque achei coincidência demais ele também estar fazendo agronomia. Pode ser apenas por causa dos negócios do pai dele, mas isso não se encaixa muito bem no perfil de um playboyzinho filhinho de papai.

O encontro dos dois, como não podia deixar de ser, foi bem espinhoso e desagradável para ambas as partes, porque o Genesinho tem a mesma personalidade de quando era criança, só que pior, mais chato, arrogante e cafajeste. E essa agora! Além de aturar o Vespa, ele vai ter que aturar esse playboyzinho também! Já pensaram se os dois resolvem ficar amigos para pegar no pé do Chico ao mesmo tempo? Agora sim a vida dele vai ser um inferno!

E tudo complica ainda mais quando Anna vem para o Brasil atrás dele e é tremendamente maltratada, como era de se esperar. Eu fiquei com pena dela nessa hora, porque não deve ser nada fácil procurar uma pessoa esperando ser bem recebida e ela vir com quatro pedras nas mãos. Mas o Chico, coração mole como ele é, resolve ajudá-la.

Se no início eu fiquei com pena da Anna, logo mudei de idéia por causa das atitudes antipáticas dela em falar que o Brasil é infestado de baratas. Sério, gente, o pessoal de lá de fora costuma ter mesmo preconceito contra nosso país. Uns acham que é todo coberto pela floresta amazônica e cheia de índios. Durante os preparativos para os jogos da copa, a Inglaterra andou reclamando de Manaus e o goleiro até falou que eles iam jogar no meio da selva.

Uma professora minha falou, a um tempo, de uma russa que tinha vindo visitar o Brasil e ficou surpresa ao ver que nós temos casas, prédios e até banheiros! Felizmente eu nunca vi um estrangeiro agindo dessa forma perto de mim, porque dependendo do meu humor, eu poderia dar uma resposta bem atravessada. Pelo visto, a Anna se encaixou bem no perfil do estrangeiro preconceituoso que vê o Brasil como país paupérrimo do terceiro mundo sem nenhum tipo de infra-estrutura.

Mas o Chico, coitado, paciente como ele só, ainda insistiu em ajudá-la a encontrar um lugar mais adequado apesar de ela ter colocado defeito em todos. Garota mais chata, credo! Só mesmo quando chegaram a uma republica mais careira é que ela ficou satisfeita. Engraçado mesmo foi ela querer ficar no bem-bom sem ter dinheiro para isso. Mas acho que tem uma explicação.

Não foi falado explicitamente, mas parece que ela morava com o Genesinho, que a bancava e dava vida boa. Então é claro que ela não teria preparo para uma vida diferente. Como o Chico falou, trabalho não fazia parte do vocabulário dela em vários sentidos.

Até aí tudo parecia bem até a Anna decidir revelar que estava grávida e diante da reação do Genesinho, falar que Chico é o pai da criança. Sério, isso é muito desagradável até para quem é realmente o pai da criança, imaginem para quem não é! O coitado passou o maior aperto porque todo mundo acabou acreditando nela. Afinal, ele não tem dinheiro, vem da roça, de família simples. O que ela ganharia mentindo?

Claro que com o Genesinho também não foi golpe da barriga, pois se fosse bastava ela aguardar o filho nascer para fazer o DNA e requerer a pensão. Aliás, ela nem precisava deixar tudo nos EUA pra vir ao Brasil pois é possível ela requerer a pensão alimentícia em outro país.

Com o Genesinho, eles mostraram o típico homem que faz o filho e depois não quer assumir. Sim, filhos são feitos por duas pessoas, mas diferente do que mostraram no sonho do Chico, a carga mais pesada sempre fica nos ombros da mulher. Tem homem que não se previne, não quer fazer sua parte e quando a mulher engravida (porque anticoncepcional não é isento de falhas), o cara vai logo falando que é golpe da barriga.

O sonho do Chico foi, para mim, uma história de terror e mostra o impacto que um filho indesejado causa na vida das pessoas. Mas, como eu falei, o impacto geralmente recai sobre a mulher. É a mãe quem acaba tendo que abandonar os estudos para ter que trabalhar e cuidar do filho, caso não tenha ajuda de ninguém. É a mãe quem alimenta, dá banho, troca a fralda, etc. Os pais apenas pagam pensão (uma mixaria na maior parte dos casos. Uns nem pagam nada) e continuam suas vidas como se nada tivesse acontecido.

A meu ver, eles colocaram o Chico passando por tudo isso como uma forma de fazer com que os meninos sintam alguma empatia pelas mulheres que atravessam esse tipo de situação. E a mensagem foi bem dada: filho, na hora errada, atrapalha a vida de todo mundo. Especialmente da mulher por causa dessa porcaria de sociedade machista. Somos nós quem sofremos grande parte do impacto e das condenações. Tudo aquilo que o Chico sofreu por essa gravidez indesejada, todas as criticas e condenações, as mães solteiras sofrem todos os dias.

Felizmente tudo se resolveu quando eles encontraram o teste de gravidez da Anna, que estava em inglês e com data anterior do dia que eles se conheceram. Assim o Chico pode limpar a sua barra. E também entendemos porque ela fez isso: pelo visto, o Chico é um rapaz tão bom, tão bacana que ela queria realmente que seu filho tivesse um pai assim e não o traste do Genesinho.

Claro que a história dela vai ser complicada no futuro, porque como o Genesinho não tem renda, é o pai dele quem terá de pagar pensão. E bem feito para ele! Não soube educar o filho, agora tem que arcar com as conseqüências. Uma pena a história não ter mostrado o desfecho completo da Anna e seu filho.

E o final foi bem engraçado, com a Rosinha danada da vida e morrendo de ciúme (que nem na infância) querendo viajar só para dar um esporro no coitado do Chico. Ai, tadinho, fiquei morrendo de pena dele que não tem culpa de nada e corre o risco de apanhar.

Olha, a história por si só não me cativou muito. Acho que depois de ter lido a história anterior da Iara e do Curupira, acabei ficando com expectativas altas com relação a essa. Mas a mensagem valeu apesar de não terem tocado no assunto com a profundidade que ele merece por causa da faixa etária dos leitores.

É realmente complicado porque os pais em geral não conversam com os filhos sobre essas coisas. A maioria por falta de preparo, por não saber como falar sobre isso. E na escola também não se fala muita coisa. Aí as conseqüências podem ser muito desagradáveis.

O que sempre me preveniu de uma gravidez indesejada foi o conhecimento. Eu fui instruída em casa e na escola, vi de perto, no dia a dia, o impacto de uma gravidez indesejada na vida das moças ao meu redor e percebi que não queria ter o mesmo destino. Ter sonhos e planos para o futuro também me ajudou bastante. Vocês sabem... desejar ter uma vida melhor, progredir. Isso ajuda a manter o foco e nos manter longe de encrencas.

Por causa desse desejo de subir na vida, eu sempre tive pavor de engravidar e perder meus sonhos de vista. Se bem que com o tempo eu percebi que não quero ser mãe de jeito nenhum, mas isso não vem ao caso. Só quero que vocês entendam o quanto é importante ter objetivos na vida e aprender a refletir sobre as conseqüências dos nossos atos. Sei que isso não é o forte dos adolescentes, mas é algo que pode ser treinado desde que vocês tomem consciência do quanto é importante.

Eu até gostaria de falar mais sobre esse assunto de gravidez indesejada e métodos anticoncepcionais, mas não é objetivo do blog e eu não sei qual é a faixa etária dos meus leitores e como eles lidam com esse assunto dentro de casa. Mas gente, tentem pesquisar por conta própria, tá? Tem muita informação na internet. Aprendam, estudem, entendam que atos e escolhas tem conseqüências.

Muitas coisas até podem ser contornadas e tudo, mas a prevenção ainda costuma ser o melhor remédio.

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