quarta-feira, 17 de setembro de 2014

TMJ#73: Caçadores de Andróides - Críticas

Sabe... eu tenho que confessar uma coisa a vocês. Ultimamente não tenho andado com vontade de atualizar esse blog. Acho que a TMJ não tem... tipo assim, me inspirado muito. É só Mônica-Cebola-Mônica-Cebola... a ed. 72 teve Mônica como protagonista. Claro que a Maria Mello também participou e tal, mas a Mônica foi a heroína da vez.

Na Ed. 73 tivemos Cebola. E parece que na 74 também vamos ter mais e mais Cebola. Não é porque eu tenho antipatia dele e sim por causa do excesso de tanta repetição. Pelo visto, os outros personagens ficaram só para encher espaço mesmo. Nem a Magali e o Cascão têm aparecido direito e eu sempre achei que eles fizessem parte dos quatro personagens principais.

Bem... vamos a história. Dessa vez eles trouxeram de volta um personagem antigo, lá da Ed. 32. Quem leu essa edição com certeza vai entender melhor a Ed. 73. Pode-se dizer que é tipo uma continuação, mostrando o que aconteceu com a Brisa e como seguiu a vida dela após adquirir consciência.

Essa história trata um assunto bem complicado. O que aconteceria se fosse possível criar robôs com consciência e sentimentos iguais aos dos humanos? Ainda seriam tratados apenas como máquinas feitas para servir? Seria justo criar seres capazes de pensar e sentir como nós apenas para serem tratados como eletrodomésticos que andam e falam? Isso não seria como dar asas a uma pessoa, mas exigir que fique sempre no chão sem poder voar?
Aliás, é mesmo possível criar um robô assim? A mente humana é bem mais complicada do que nós pensamos. Não se trata apenas de consciência e sentimentos, somos mais do que isso. É possível criar no robô as várias camadas da mente, como o inconsciente, subconsciente, ego e ID? É possível que uma máquina tenha consciência? Isso seria correto? É um dilema moral que a história mostra de forma leve para que os leitores possam entender.  

Por outro lado, a criação de robôs para fazer trabalhos perigosos, repetitivos, aqueles que não queremos ou não podemos fazer até que seria boa idéia. Mas só seria viável em uma sociedade onde houvesse falta de mão de obra para esses serviços, caso contrário eles estariam tirando o emprego das pessoas.

Bom, enquanto esse pequeno dilema é discutido na história, por outro lado temos o Cebola tentando uma segunda chance com a Mônica, mas parece que ninguém está com vontade de colaborar. Muita gente ficou com dó do fora que a D. Luisa deu nele. Mas claro que eu não fiquei.

Como mãe, ela deseja o melhor para a filha dela. E se a filha dela está feliz e numa boa, por que ela deveria interferir? Ela deve ter acompanhado o sofrimento e as dificuldades da Mônica com o Cebola, deve ter visto como a filha dela ficava triste, estressada, etc. por causa dele. E agora que a Mônica está feliz com outro rapaz, claro que ela não vai querer atrapalhar a felicidade dela.

E o resto da turma também não queria ajudar pelo mesmo motivo. Se bem que a meu ver, a Magali é que foi um tanto cruel com ele ao dizer que a Mônica não tinha boas lembranças. Bem, apesar de tudo, eu acho que ela tem boas lembranças do Cebola sim. Elas só não compensaram todo o sofrimento e angustia, mas creio que a Mônica deve ter sim razões para pensar no Cebola e sorrir.

Sobre alguém ajudá-lo a ter uma segunda chance, deixa eu contar uma coisa que me aconteceu. Quando eu estava na escola, a direção ofereceu cursos de informática de graça para os alunos. Naquela época, cursos de informática eram raros e muito caros porque os computadores ainda não eram assim um item comum em todas as casas. Quem quisesse, podia se inscrever até preencher todas as vagas.

Essas bolsas foram oferecidas várias vezes ao longo do ano, mas eu sempre ficava de mimimi corpo mole, enrolando, arrumando desculpas para não fazer nada até que um dia a fonte secou. A escola parou de oferecer bolsas e não adiantou eu chorar com a diretora, ela não me deu mais nenhuma oportunidade. Afinal, tantas vagas foram abertas no passado, por que eu não aproveitei a chance?

Então, para poder ter um curso de informática, precisei pagar e paguei bem caro porque ninguém quis me ajudar. Na época eu me achei a maior injustiçada do mundo. Afinal, por que ninguém queria me ajudar e me dar uma chance? Eu ia aproveitar bastante! Mas hoje, pensando mais racionalmente, eu entendo que não merecia ter outra chance. Eu tive e não soube aproveitar, então se quisesse fazer um curso teria que ralar para poder pagar. Com isso, eu aprendi a aproveitar melhor as oportunidades que aparecessem na minha vida. Eu precisei ralar um bocado para aprender a dar valor, coisa que não teria aprendido se tivessem me dado de graça.

Digamos que com o Cebola acontece mais ou menos a mesma coisa. Ele teve muitas oportunidades de graça e não aproveitou nenhuma, então vai ter que ralar dobrado para conseguir ter direito a mais uma oportunidade. Agora ele precisa passar por um processo de amadurecimento. E um primeiro passo foi dado quando ele disse que não pensava mais em planos e em derrotar a Mônica. Ele também falou mais de uma vez que não queria mais falhar com as pessoas de quem gostava. Sem falar que agora ele aprendeu a refletir melhor sobre suas ações e a enxergar seus erros, sem vitimismo, sem se achar um pobre coitado injustiçado. Ele tem consciência de que errou, foi capaz de arrepender e está esforçando para ser uma pessoa melhor.

Vocês acham que tudo isso teria acontecido se a Mônica não tivesse dado um chute nele? Se ela tivesse deixado as coisas como estavam, sempre perdoando e aceitando as suas mancadas, ele não teria feito nada para melhorar. É a lei da inércia, pessoal. Quando um corpo está imóvel, tende a permanecer imóvel até que uma força externa o faça sair do lugar. Com as pessoas costuma ser basicamente a mesma coisa.

E falando da Mônica, aposto que muita gente deve ter estranhado a participação e as atitudes dela na história, não é? Especialmente suas atitudes tão antipáticas com relação a Brisa. Isso me fez lembrar um pouquinho aquele filme “Eu, robô” do qual falei nos palpites da Ed. 73. Não posso dizer que a história copiou o filme, mas vi uns pontos em comum. Entre eles, tinha um agente com total preconceito contra os robôs que não gostava deles de jeito nenhum. A Mônica mostrou a mesma postura de hostilidade contra os robôs.

A diferença foi que o agente do filme mudou sua opinião. Já a Mônica não porque no fim ela era apenas um andróide programado para acreditar que era humana. Sim, uma tática totalmente cruel da D.I.N.A.M.I.C.A. para conseguir a colaboração do Cebola. E ele, tão ansioso para ficar bem com ela, custou a perceber. Mas foi exatamente por conhecer tão bem a Mônica e seu jeito de ser que ele acabou percebendo que estava diante de uma cópia.

Nesse ponto eu até fiquei com pena dele, porque ele estava sendo sincero ao tentar consertar as coisas e acabou abrindo seu coração para uma máquina. Bem... pelo menos ele mostrou que é capaz de se abrir e falar dos sentimentos. Se ele conseguiu fazer uma vez, conseguirá fazer no futuro, por isso não acho que foi um total desperdício de palavras.

Ah, não posso esquecer da Brisa. Confesso que não gostei muito do desenho dela nessa edição. Não ficou a mesma coisa da Ed. 32 e houve um momento em que ela até apareceu com rabo de cavalo, coisa que ela não tem. Eu particularmente prefiro o antigo. E acho que ela deveria ter tido um pouco mais destaque, porque a meu ver focaram demais na Mônica e no Cebola sendo que o caso deles deveria ter sido apenas um temperinho a mais na história, não o assunto central.



Mas a participação dela foi boa, apesar de não ter sido exatamente a protagonista. Ela mostrou que tem sentimentos, consciência e desejo de ser dona da própria vida apesar de ainda estar apegada a sua programação de servir e fazer os outros felizes.

Também houve referencias a filmes e séries nessa história, como os Homens de Preto na base da D.I.N.A.M.I.C.A., que é cheia de alienígenas. Também pode-se dizer que tem aí uma pitada de Arquivo X no fato de essa organização ser especializada em casos extraordinários e até um pouco do filme "de volta para o futuro" por causa do carro voador. Se bem que em Blad Runner também tem. E fico feliz que não tenha faltado uma referencia a Asimov, ainda que muito pequena considerando o tipo da história.

Nós até podemos ver personagens de edições passadas como Astronauta, o robô coelho do brilho de um pulsar e vários outros. Também há referencia série Doctor Who e até um pouco de Blad Runner. Pelo menos o princípio parece o mesmo: robôs se rebelando contra o regime de servidão e sendo caçados e cancelados.

Foi legal ver como conseguiram usar um filme tão depressivo para criar uma história boa e com um pouco de esperança no final. Diferente dos andróides do filme, que se tornaram agressivos e violentos contra os humanos, os gênios da história pelo menos desenvolveram uma boa moral e não mostraram intenção de fazer mal a ninguém.

E também gostei de a D.I.N.A.M.I.C.A. ter aparecido mais uma vez e espero que apareça outras no futuro. Isso pode acrescentar coisa boa as histórias e também foi mostrado um lado meio sombrio deles. Não acho que eles sejam cruéis ou do mal, acho apenas que não seguem a mesma moral que o senso comum prega. Talvez sejam amorais, do tipo que para conseguir alcançar um objetivo, podem usar qualquer artifício necessário.

Só acho que eles poderiam ter sido um pouco mais honestos com o Cebola ao dizer que queriam a Brisa para estudá-la melhor, descobrir como ela adquiriu consciência e assim criar uma geração de robôs que não seriam servos e sim companheiros dos humanos. Aposto que o Cebola teria colaborado com mais boa vontade e a Mônica real também. A meu ver, não fazia sentido eles esconderem esse detalhe porque não ia comprometer a missão. Poderia até ser uma coisa boa porque a Brisa se mostraria mais disposta a colaborar sabendo que ia ser ajudada.

Tá, é claro que se isso tivesse acontecido, boa parte da história não teria sido possível, não é? Ver a Mônica robô preferindo o “suicídio” do que ter suas memórias apagadas também foi bem forte e tocante, é a primeira vez que eu vejo um personagem se “matando” na TMJ. Também foi bonito ver que apesar de ser apenas um robô, o Cebola ainda se preocupava com ela.

E o final foi bem triste, devo admitir. Bem diferente do que normalmente vemos na TMJ, porque teve um clima assim meio depressivo, mas que ficou muito bom e deu um pouco mais de drama a história.

Bem, essa foi a minha crítica. Quem quiser ouvir outra opinião, aqui tem o vídeo da Opinião TMJ: