Chegou a hora de fazer a crítica da ed. 4, o tão esperado
crossover da TMJ com “A princesa e o cavaleiro”. Vocês devem estar lembrados da
primeira aparição de Safiri na ed. 43.
Bom, confesso que eu não tinha gostado muito da Safiri no
começo, mas nessa história ela ficou bem legal após se curar do ranço que tinha
pego da Mônica.
Não sei se vocês conhecem a história da princesa e o
cavaleiro. Parte dela foi contada na TMJ mesmo: Safiri nasceu menina, mas como
as tradições do seu reino são medievais e só permitem que homens herdem o
trono, ela precisou fingir ser um garoto para que o filho do Duque Duralumínio
não suba ao trono.
O que não foi contado é que ao nascer, ela tinha que receber
somente coração de menina, mas um anjinho levado chamado Ching colocou nela um
coração de menino também. Depois disso, Ching foi mandado à Terra para buscar
de volta o coração azul e transformar Safiri numa menina meiga e delicada. É
uma forma de dizer que meninos e meninas tem sua natureza definida pelo sexo
biológico, coisa com a qual não concordo nem um pouco.
Eu não vou discutir muito sobre o sexismo da história porque
entendo que foi criada em um contexto diferente. E no fim das contas, foi ótimo
Safiri ter recebido um coração azul também, caso contrário jamais ia ter
condições de se passar como príncipe. Que mais crianças recebam corações de
cores diferentes.
Fico imaginando se não vai ter um terceiro crossover, assim
poderiam apresentar o anjinho Ching e ver como Safiri vai lidar com esse dilema
de entregar ou não o coração azul. Seria bem interessante.
Voltando à crítica, a primeira coisa que notei na história e
me agradou bastante foi o desenho, com mais cara de mangá. O desenho foi feito
pela Roberta Pares e gosto bastante do estilo dela. As expressões ficaram
ótimas e muito engraçadas, assim como o desenho dos olhos. fico imaginando a
dificuldade que deve ter sido fazer a história em dois estilos diferentes
porque os personagens da Safiri tem outro tipo de traço. E mesmo assim ficou
harmônico, quase que nem deu para notar essa diferença porque tudo fluiu bem.
Outra coisa que deve
ter agradado muito aos fãs foi a aparição do Cebola. Finalmente ele e a Mônica
puderam passar um tempo juntos, dando uma pausa nessa separação de seis meses. Apesar
de ainda estar com o pé atrás com esse namoro, fiquei feliz em vê-los tão
apaixonados. Já estou conseguindo me acostumar com eles juntos, embora não
queira me apegar. Sabem como é, em se tratando de Mônica e Cebola, sempre tem a
chance de dar ruim.
Também gostei da participação da Magali e do Cascão que
embora não tenham participado da ação e luta principal, foi muito importante
para que tudo terminasse bem.
A história trata bastante sobre o machismo e a questão de
gênero. A Terra da Prata é um país machista e conservador, podemos ver isso na
fala do Duque Duralumínio ao dizer que era perigoso dar poder as mulheres.
Tipo, homens poderosos causam guerras, matam milhões de pessoas, causam
miséria, fome, etc. mas as mulheres é que são perigosas. Tá “serto”!
Então o que temos é uma crítica contra esse tipo de
mentalidade. Safiri teve que passar a vida inteira se escondendo porque como
garota, ela não teria liberdade para governar e ser ela mesma.
Também são mostradas outras situações como a Mônica tendo
que aceitar dançar com o príncipe Franz mesmo não querendo. Na vida real,
infelizmente, também temos mulheres passando por situações parecidas.
E falando em baile, achei graça das roupas que Cascão e
Cebola tiveram que usar. Sério, aquelas calças apertadas me deram vergonha
alheia.
Mas é claro que não vamos esquecer da cena em que Magali descobre o
segredo de Safiri. Foi engraçado porque ao ouvir a conversa dentro do quarto da
Mônica, ela acabou pensando besteira. Quem não pensaria, certo? Por isso o
jeito como ela abriu a porta quase dando um chilique foi hilário.
E serviu para mostrar também como Safiri sofre por não poder
ser ela mesma. Quer dizer, ela é forte, corajosa, independente, etc. mas também
gosta de coisas de menina e não pode demonstrar isso em público. Pelo menos
ela pode ter um tempinho de princesa junto com o Franz, pena que não tenha
durado muito.
Quer dizer, é uma história da TMJ. Não dá para nenhuma
viagem deles ser tipo normal (ainda bem!). Então a bruxa Madame Inferno
resolveu aparecer e levar o Cebola embora.
Confesso que a partir daí, começou minha parte preferida da
história porque teve bastante ação e achei que os eventos ficaram bem
distribuídos. Nem muito corrido, nem muito enrolado.
Teve mistura de ação, humor e um pouco de drama sobre relações
entre mãe e filha. Ver a Madame Inferno com sua filha Heckett lembrou bastante
a relação entre Viviane e Ramona. Foi inevitável fazer a comparação apesar de
as duas moças terem personalidades diferentes.
Ah, claro que também gostei de ver o Cebola sendo
avacalhado. Ah, gente, foi mal! Mas eu ainda gosto de vê-lo sofrer! Se bem que
para ser sincera, não o acho feio. Claro que ele não é o rapaz mais bonito da
TMJ, mas feio também não é. E as expressões dele foram engraçadas,
especialmente quando pensou que Heckett estava dando de cima dele.
Também gostei da personalidade da Heckett. Um tanto grossa,
mas sem maldade. É bem geniosa, gosta de ser livre e não sonha em se casar com
qualquer pamonha que aparecer na sua frente só porque esperam isso dela. Tudo o
que ela quer é aproveitar bem sua vida de bruxa sem ter que seguir regras de
etiqueta ou usar vestidos cafonas.
Outra coisa legal foram algumas expressões que usaram, como
“pénabundeie”, “caipirota” ou “donaduzinferno”. Deviam usar mais palavras assim
nas histórias, não precisa ser sempre tão certinho. Sem falar que também ri do
ciúme do Cebola com Safiri. Isso também aconteceu na ed. 44 porque ele não sabe
que ela é uma menina. Mas não foi nada que atrapalhou a história.
O ponto alto para mim, além da luta e de ver Heckett
começando a enfrentar a mãe para fazer valer um pouco sua vontade, foi a
mensagem sobre a importância da união entre as mulheres. Infelizmente ainda
somos desunidas porque a maioria não percebe o poder que tem nas mãos para fazer
mudanças. Por isso foi bom ver Heckett, Mônica e Safiri lutando juntas, uma vez
que separadas elas não iam ter chance alguma.
Ah, só uma curiosidade: lembram quando Madame Inferno falou
qualquer coisa sobre um dia arrancar o coração da Safiri? Bem, na história
original ela meio que queria realmente fazer isso. A Heckett é mesmo uma garota
rebelde e a mãe dela queria dar a ela o coração rosa de Safiri para
transformá-la em uma menina meiga e dócil (argh!).
O final foi muito bonito, adorei o juramento de Safiri e o
plano da Magali e Cascão para despistar o Duque foi para rachar de rir. Claro
que não dava para esperar que os dois fizessem tudo sem causar confusão
nenhuma, né? Assim não ia ter graça.
E o final também deu esperanças de que Safiri ia conseguir
começar uma mudança positiva no reino com relação ao direito das mulheres. Não
é algo que se muda da noite para o dia. Em alguns casos, pode levar uma geração
inteira para mudar porque infelizmente há mulheres que acabaram internalizando
o machismo como se fosse algo certo e acabam passando para frente ao educar
seus filhos. Não é culpa delas e sim do sistema no qual nasceram. Elas apenas
fazem o que aprenderam a fazer, mas o machismo não as beneficia em nada.
Gostei bastante da história e foi bom reler de novo, pode
ver mais coisas que nem tinha reparado antes, especialmente o desenho e as
imagens. Eu tenho o defeito de prestar mais atenção ao texto do que no desenho
e acabo perdendo muita coisa.
Ah, hoje tem quebra-cabeça novinho para vocês:
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