sábado, 9 de fevereiro de 2013

TMJ#54 - Olhando sob outro ponto de vista



Sabe, eu não falei tudo na última critica porque senão ia ficar maior ainda do que já ficou. É que olhando essa edição sob um ponto de vista mais feminista, eu vi um pouco de machismo na história também, a começar pelo Titi implicando com o biquíni da Aninha. Peraí... implicando não, fazendo slut shaming. O que é isso? Eu vou explicar.

É qualquer forma de tentar controlar a sexualidade da mulher, sua autonomia e seu corpo. O Titi implicou com o biquíni da Aninha, falando que uma moça de família não se veste daquela forma. Bem... então, de acordo com a ótica dele, quem se veste daquela forma? Certamente o contrário das moças de família. E o que seria o contrário de “moça de família?” Resposta: vadias.

Isso é slut shaming. Quando se tenta controlar o que uma mulher faz com seu corpo, isso também inclui o controle das suas roupas, sob pena de rotular como vadia qualquer mulher que não aceita esse controle. Ora, por acaso a Aninha estava vestida de maneira imprópria? O que tem de anormal em usar um biquíni numa praia?

Eu sei que a Mônica também implicou um pouco com o biquíni da Magali, mas isso foi por causa da própria insegurança, porque pelo visto Magali deve ter o corpo mais bonito e dentro dos padrões estéticos do que o dela. De forma alguma ela estava tentando controlar o corpo da amiga, diferente do que Titi estava tentando fazer com a Aninha.

Muita gente pode ter lido essa parte e falado “Oin, que fofo! Ele ainda tem ciúme dela!” Errado! Isso não é ciúme, é sentimento de posse! O Titi ainda se acha o dono dela, como no tempo em que eles namoravam e ele controlava as roupas dela e não a deixava fazer as coisas de que gostava, lembram? Ele até escondia que tinha amigas para que ela não tivesse amigos.

E aquela edição em que Aninha foi participar da torcida do time de futebol e ele começou a brigar por causa do tamanho da saia dela? Também foi slut shaming.

Meninas, se querem aprender uma coisa, aprendam essa: não é normal e nem aceitável um rapaz querer controlar as roupas de vocês. Não aceitem isso de forma alguma. Namorado não é dono. Namorada não é propriedade (e vice-versa, claro). Amor não se manifesta controlando suas vidas e suas roupas.

Nós temos que viver todos os dias com um controle constante sobre o que vestimos, o comprimento das nossas saias, do decote, se a roupa está ou não justa e ficar nos policiando o tempo inteiro para não sermos taxadas de vadia. Não podemos mais aceitar isso nem mesmo em uma revista em quadrinhos. É por isso que estou escrevendo essa crítica, porque tenho receio de que as meninas leiam essa história e achem que é normal um homem controlar o corpo e as roupas da mulher. E não é. 

Outra manifestação do machismo também se deu com a Amanda. Sim, agora eu vou ser o advogado do diabo. Sabe, eu realmente não gostei da sua atitude atrevida e desrespeitosa diante das meninas. Ela já veio chegando e se achando dona de tudo. Roubar o coco da Mônica mostrou bem esse atrevimento e falta de noção de limite.

O que eu mais reprovei na Amanda foi isso, sua falta de respeito. Mas sua atitude liberal de paquerar os meninos não é errada. Afinal, ela é solteira, não é? E foram os rapazes quem deram abertura. Se todos a tivessem ignorado, ela teria ido embora. Mas não, eles deixaram que ela se aproximasse, ficaram babando por ela e tudo mais. Ela estava só brincando com eles? Sim, estava. Existem pessoas, homens e mulheres, que muitas vezes gostam de conquistar apenas para inflar o ego frágil, como uma forma de auto-afirmação.

São pessoas inseguras por dentro, carentes de atenção e por isso precisam estar sempre conquistando e seduzindo para conseguirem se achar bonitas e sedutoras. E isso pode ser visto tanto em homens quanto em mulheres.

Para falar a verdade, nem reprovei os garotos que ficaram em volta dela como bobos. Quer dizer, os que são solteiros. Ora, o Titi, Jeremias, Nimbus e os outros são solteiros, então tem o direito de darem sua atenção para qualquer garota que quiserem. Claro que os comprometidos deveriam ter sido mais cuidadosos porque ficar babando por outra garota, dando muita atenção a ela e esquecer da namorada já é grosseria mesmo.

Agora, sabem o que me chamou a atenção na revista? A parte do “Fala Maurício”, que fica no fim da revista.

Vou comentar os trechos que me chamaram a atenção:

"Novo perigo para os casais? Não. Velhas como o mundo, com outros nomes e com técnicas diferentes, as chamadas piriguetes sempre existiram."

“Perigo para os casais?” Oi? O machismo já começa aí. Concordo totalmente que é falta de respeito uma mulher dar de cima de um homem sabendo que ele é comprometido. Mas jogar nas costas dela toda a culpa por destruir o relacionamento? Dizer que ELA é quem representa o perigo para os casais? Sinto cheiro de machismo rançoso no ar.

Pessoal, sejamos realistas. Ninguém rouba o namorado de ninguém. Ele vai porque quer ir, por livre e espontânea vontade. E se ele vai, é porque o sentimento que tinha pela namorada não valia porcaria nenhuma. Se valesse alguma coisa, ele não ia. Simples assim. Quando o cara ama de verdade, a outra pode rebolar, se esfregar nele, tirar a roupa, fazer de tudo que ele não vai. Pronto. Homens são seres humanos dotados de inteligência e racionalidade. Eles são perfeitamente capazes de saber o que estão fazendo, sabem quando estão errando e tem sim controle sobre seus atos.

As pessoas têm a tendência de achar que quando o cara trai, a culpa é de todo mundo: da namorada/esposa, da outra, das forças do além, lua conjugada com netuno... tudo menos ele próprio! Meninas, se queremos que as coisas mudem, temos que parar com essa mentalidade ridícula ou então vamos sempre sofrer desnecessariamente.

Querem saber o que eu achei mais interessante? Quem escreveu isso (não sei se foi o próprio Mauricio ou outra pessoa) deve ter se esquecido de uma coisa muito importante: desde os gibis, já existe uma piriguete na turma, em sua versão masculina: o Titi. Ohhhh, estão chocados? Pois é, crianças. Quem lê as histórias do gibi já deve ter percebido o comportamento galináceo do Titi, sempre xavecando as outras meninas apesar de ter namorada.

E esse comportamento pelo visto não mudou em nada. lembram da Ed. 31, “Divisão por dois”? Quando eles terminaram, o Titi ficou paquerando praticamente todas as garotas da turma, sem sequer se lembrar que a Aninha existia. Será que ele é tão melhor assim do que a Amanda? Se ela é piriguete, ele é o que? Santo?

Mas parece que somente ela está recebendo o rótulo, enquanto ele prossegue livre e numa boa. Não, coitadinho, ele é homem, tem que aproveitar. As garotas que se segurem, não é mesmo?

Pois bem: a Amanda não é nada menos do que uma versão feminina do Titi, apenas isso. Ela não tem nenhum respeito pelos rapazes? O Titi também não tem lá muito respeito pelas garotas também. Os dois são basicamente iguais.  

“E sequer se preocupavam ou se preocupam em mascarar suas intenções. Ou melhor, seu objetivo, que é laçar o melhor partido de um grupo masculino.”

E o que tem isso? Ah, tá. Quem deve ir a caça é só o homem, né? Porque há trocentos mil anos atrás, eram os homens das cavernas quem caçavam, então hoje tem que ser assim também. Mulher ir a caça é errado, coisa feia, vadia, manda para fogueira!

Até que do restante eu gostei porque é bem por aí: relacionamentos verdadeiros não se deixam por qualquer coisa. Se o cara sabe valorizar a garota do seu lado, ele vai manter a cabeça do lugar porque entende que não vale a pena abrir mão de algo importante só por alguns minutos de prazer. Agora, se ele não entende isso, então é até um favor que ele saia das nossas vidas.  

Sei que posso estar parecendo uma feminista chata. Afinal, é só uma história em quadrinhos. Mas acontece que o machismo é reforçado de todas as formas na nossa sociedade. Pode parecer uma história inofensiva, mas se as pessoas não lerem com olhos críticos, vão acabar reforçando preconceitos sexistas que só servem para atrapalhar e deixar as pessoas mais infelizes.