Gente, eu sei que a crítica está super-mega atrasada. Não
costumo demorar tanto assim para falar da Ed. do mês. Acontece que geralmente
gosto de ler a história umas duas ou três vezes antes de falar sobre ela. O
problema é que a Ed. desse mês me deu um mal estar tão grande, uma sensação tão
ruim ao terminar a leitura que não consegui reler novamente por vários dias.
Quando pensava em fazer a critica, me sentia mal. Mas acho que agora dá para
escrever algo sem sentir aquela coisa ruim na boca do estômago.
Primeiro, gostaria de falar um pouco sobre o pássaro
bacurau, aquele passarinho trolão que roubou o colar da Mônica. Pelo que
pesquisei, ele participa de umas três lendas diferentes. A do arco-íris é uma
delas.
A lenda diz que o pássaro carrega o arco-íris no bico e
qualquer um que passar debaixo dele troca de sexo. Existe até uma história de
um rapaz que era delicado demais e na tribo eles matavam rapazes assim. Então
ele fugiu para evitar a morte. Sua mãe, que conhecia o poder do pássaro bacurau,
fez uma oração pedindo que a ave transformasse seu filho num “homem de verdade”
(dentro dos padrões determinados pela sociedade machista onde viviam e sem
nenhum respeito pela individualidade da pessoa). Então o pássaro atendeu o
desejo dela e transformou seu filho num homem dentro dos padrões e a vida dele
foi poupada.
Bom... eu até entendo que tenha sido necessário fazer essa
pequena alteração para adaptar a história, talvez o roteirista tenha lido isso
em algum livro. Mas pesquisando na internet achei uma versão diferente. Fala-se
em mudança de sexo, não mudança de corpos.
A história por si só e seu tema até que não é ruim, admito
isso. Claro que as situações não foram tão engraçadas quanto eu esperava, mas
foi interessante um viver a vida do outro ainda que por algumas horas.
O que me deixou meio bolada é ter visto tanto sexismo, coisa
que eu não consigo tolerar muito bem. Gostaria de saber qual foi a intenção da
Petra ao escrever a história. Foi para mostrar que cada um tem seus problemas particulares
ou dizer que existem “problemas de homens” e “problemas de mulheres” como se
fossem coisas basicamente iguais e equivalentes?
Acho que foi dessa falsa simetria que eu não gostei. Sim, homens
também têm problemas de gênero, mas não chega nem perto dos problemas das
mulheres. No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas e estuprada a cada 12
segundos. Então, sinto muito, mas os problemas dos gêneros não são iguais.
Agora vamos fazer as contas: quantos problemas a Mônica
enfrentou no corpo do Cebola? Unicamente o julgamento dos amigos ao vê-la
brincar de boneca com a Maria Cebolinha.
Quantos problemas o Cebola enfrentou no corpo da Mônica?
Primeiro as roupas, os olhares dos homens na rua (vocês nem fazem idéia do que as
mulheres têm que agüentar), a cobrança por ser sempre certinha e educada... Quer
dizer, Luiza ficou irritada quando a filha soltou um “falaí” porque foi
desrespeitoso ou porque veio de uma garota?
O Cebola deve falar assim com a mãe dele o tempo inteiro e
nem por isso ela fica ofendida. Mas por que as coisas mudaram? Resposta: estava
no corpo de uma garota.
Se bem que foi engraçada a surpresa dele ao ver que garotas
também fazem bagunça. Ou foi apenas fruto do machismo? Afinal, todos esperam
que garotas sejam arrumadinhas, limpas e organizadas, né?
Outro problema enfrentado é ser julgado constantemente por
causa da roupa e da aparência, coisa que pareceu ter maior peso na história. E
na vida real, tem um peso maior ainda, podem acreditar. Assim ele pode
experimentar um pouco como é ser tratado como um objeto que só tem valor pelo
que é por fora, não por dentro.
Pelo menos ele pode ver como é ser criticado a todo instante
por causa da aparência e não pelo que é por dentro. É esse tipo de coisa que as
mulheres enfrentam todos os dias. Ele disse que as meninas não deveriam ligar.
Bem... há meninas que não ligam mesmo e elas são taxadas de esquisitas,
arrogantes, são marginalizadas, etc. Se a mulher cuida da aparência é
criticada. Se não cuida, é criticada do mesmo jeito. Sim, a sociedade
patriarcal onde vivemos é muito contraditória.
O que eu achei horrível foi a Mônica ter brigado com a
Irene. Caramba, ela se entende com a Irene em uma edição e em outra volta tudo
a estaca zero? Se era para ser ridículo, parabéns! Conseguiram!
Mas a parte do Cebola na casa da Maria Melo foi muito boa. E
quando ele enfrentou as alfinetadas da Carmem e da Denise foi melhor ainda. Bom
para ele ver como a Mônica se sente quando um chato fica toda hora falando do
peso dela.
A passagem onde eles enfrentam o Toni também foi boa e a
Mônica viu como era enfrentar alguém sem a força física enquanto o Cebola
sentiu o gostinho de ter a força monumental dela. A minha surpresa foi ele
tê-la defendido, ainda que fosse só para ter o gosto de defendê-la ao menos uma
vez. Pelo menos ele se importou ao invés de deixá-la apanhar.
E as coisas que ele falou da Mônica até que foram legais.
Milagre ele ter reconhecido que ela tem qualidades e não só defeitos!
O final foi como nos filmes do mesmo gênero. Os dois se
entendem, as brigas acabam e cada um volta para seu corpo. Achei legal o Cebola
ter compreendido como era viver no corpo da Mônica e suas dificuldades em
controlar sua força. Ele sempre achou que ela era impulsiva e viu que na
verdade é uma pessoa com grande autocontrole. Afinal, não é nada fácil ter uma
força como aquela e não usá-la.
Agora, não gostei foi de terem colocado as coisas como se um
fosse a força e o outro o cérebro. Como assim? Então a Mônica resolveu o caso
do Toni na Ed. 62 usando somente a força bruta? Ela bateu no juiz? Acho que
não, né? A Mônica já mostrou muito bem que tem inteligência e sabe pensar em
várias outras edições. Ela pode até não ter o mesmo desempenho escolar que o
Cebola, mas burra também não é.
Ninguém é metade de ninguém. Todos somos seres humanos
completos. As pessoas podem acrescentar coisas boas as nossas vidas,
complementar, mas de forma alguma podem ser consideradas partes de nós como se
não pudéssemos viver sem elas. Isso é perigoso.
Muitos vão discordar dizendo que ser inteligente é a função
do Cebola. Acontece que eles vêm com esse papo de que a Mônica mudou, não usa
mais a força bruta para resolver as coisas, etc. Tá. Agora ela não usa a força
bruta porque não resolve mais os problemas com pancada. Mas também não pode
usar a inteligência porque isso é tarefa do Cebola. Então me respondam: ela vai
usar o quê? Pois é.
Sabe, tem outras coisas que me chamaram a atenção na
história, mas vou falar delas em outro tópico para não ficar comprido demais.
sei que essa não é minha melhor crítica, foi mal gente. Mas eu custei a
escrever isso. Não foi nada fácil.
Pode parecer bobagem minha criticar tanto os mimimis da
Mônica com o Cebola, mas acontece que tem andado meio demais ultimamente.
Pensem no seguinte: se TMJ fosse comida, Monica e Cebola seriam o sal.
Se tirar tudo, fica sem graça e sem gosto. Mas se carregar
demais, ninguém aguenta comer. Tem que ser na medida certa. Sem falar que
quando a gente coloca muito sal, não sente o sabor dos outros temperos (demais
personagens).
É basicamente isso que vem acontecendo na TMJ ultimamente.
Está ficando cansativo abrir a revista e deparar com os dois brigando na
primeira página. Tá salgado demais. E tudo que é demais, enjoa mesmo.