Confesso que tenho andado meio atrasada com as criticas do
Chico Moço porque ultimamente tenho sofrido com um bloqueio criativo. Tipo, não
estou conseguindo escrever, parece até que eu esqueci como se faz. Quer dizer,
eu ainda sei escrever, mas parece que a criatividade está bloqueada.
Nessa edição, o Zé Lelé fica com saudade do Chico e resolve
fazer uma visita surpresa. Confesso que me lembrou um pouco da minha infância
porque quando eu era pequena, a gente ia visitar as pessoas de surpresa mesmo,
sem avisar. E as visitas chegavam na nossa casa sem avisar também. Era tudo bem
informal.
Hoje isso já não é recomendável e muitas vezes nem
aceitável. Parece que tudo mudou e fazer visitas surpresas pode causar
situações desagradáveis. Aliás, quando eu estava na faculdade me lembro de um
professor falando que um amigo e sua família foi viajar para a Holanda e
resolveram visitar uns parentes que moravam lá. Só que eles chegaram sem avisar
nem nada.
O sujeito ficou todo eufórico, cumprimentando o parente,
falando que era da família e tal, mas o dono da casa apenas perguntou se eles
tinham marcado hora. Como não tinham avisado nem nada, ele educadamente pediu
para que ligassem para marcar uma visita e assim poderem ser recebidos
adequadamente. E fim. Mais formal que isso, impossível e os estrangeiros têm
uma forma de pensar bem diferente da nossa.
Voltando ao assunto, essa edição foi realmente de
desencontros. Muitas vezes eles estavam a poucos metros de distância, mas
acabavam tomando rumos diferentes e um acabou não vendo o outro.
Enquanto o Zé faz uma grande busca pela cidade, o Chico está
ralando em quatro empregos para ver se consegue voltar a morar com seus amigos.
Quatro empregos não é mole não, viu? Mas enquanto lia essa edição, confesso que
uma coisa começou a me incomodar.
Quem lê fanfictions já deve ter ouvido falar de personagens
do tipo Mary Sue. Para quem não conhece, é aquela personagem perfeita, boa em
tudo, praticamente infalível que sem fraquezas significativas. É aquela que
entra na história dominando tudo, atraindo todos os holofotes. Só que também
tem um equivalente masculino chamado de Gary Stu, que é aquele cara perfeito
demais, infalível, etc. e é nisso que estão transformando o Chico, a meu ver.
Não sei se é impressão minha, mas ele tem andado perfeitinho
demais para o meu gosto. Muito centrado nos estudos, excessivamente maduro,
responsável, sempre meigo, gentil, educado, bem humorado, admirado pelos amigos
e professores, capaz de suportar trocentos empregos sem comprometer os estudos,
boa aparência, blábláblá etc. e tal. Quem leu as histórias dele nos gibis, sabe
que quando criança ele não era exatamente esse modelo de perfeição.
Certo, eu não estou falando para colocá-lo como um cretino,
idiota, irresponsável, preguiçoso ou coisa parecida. Mas pelo menos deviam
pensar em um personagem um pouco mais... humano!
Caramba, tudo dá certo para ele, tudo caminha bem, todos o
adoram (exceto o Vespa, que é retratado como um filhinho de papai idiota e
invejoso) e ele vence as dificuldades como se não fossem nada e ainda com um
sorriso no rosto.
Não estou dizendo que esse tipo de coisa é impossível, mas
não é a realidade da maioria das pessoas. Ele faz tudo parecer muito simples e
fácil sendo que na verdade não é. Após fazer uma pequena pesquisa, eu vi que a
mensalidade de um curso de agronomia varia entre 620 e 997 reais. Supondo que a
mensalidade dele seja 620, caramba é muita coisa! Além de pagar aluguel e as
próprias despesas, ele ainda consegue ajudar na mensalidade? Não digo que é
impossível, mas me parece meio irreal.
Eu gosto do Chico e das histórias, sério. Elas são até um
pouco mais profundas que as da TMJ. Mas acho que eles deviam repensar um pouco
sobre esse personagem e não colocá-lo tão perfeito assim, tão inatingível. Se
não me engano, o único erro que ele cometeu foi na Ed. 3, quando sugeriu que
fizessem aquele festival no parque e mesmo assim isso acabou se transformando
em uma coisa boa. Pessoas reais erram, fazem burrada e depois se arrependem.
As histórias estão muito boas, não vou negar. Mas podem
ficar chatas se o transformarem num Gary Stu.
É até engraçado a gente ver o Cebola sendo um cretino
completo de um lado, e o Chico super perfeito de outro.
Voltando a história, no fim das contas o Zé não achou o
Chico, mas conheceu a Fran e até andou rolando um climinha entre eles, deixando
uma brecha para quem sabe um romance futuro. Ficou até interessante ver que ela
tem mesmo interesse pelo Chico, mas não teve a chance de saber se ele tem ou
não namorada. Se bem que o Zé foi meio lerdinho para responder, não é?
Isso promete criar uma boa trama para o futuro, porque sem
saber que ele tem namorada, a Fran pode tentar investir no relacionamento e
existe o risco de sair magoada. Mesmo que role um clima entre eles, acredito
que o Chico vai continuar fiel a Rosinha. Aí a Fran vai ter que lidar com isso
de outra forma.
No fim a história até ensinou uma lição interessante e me
fez lembrar de uma historinha onde dois garotos cavavam um buraco no quintal
falando que iam chegar a China. Um adulto debochou deles, achando que era
idiotice e perda de tempo. depois de muito cavar, eles acabaram achando um pote
cheio de bolinhas de gude e ficaram até mais felizes do que teriam ficado se
tivessem conseguido chegar até a China.
Em alguns momentos, não importa tanto o destino e sim as
flores e frutos que vamos colhendo pelo caminho. Foi o que ocorreu com o Zé.
Ele fez novos amigos, passeou bastante, ganhou um novo par de botas, conheceu
alguém que pode se tornar especial para ele no futuro e voltou para casa em
segurança para prosear com sua Oncivarda.
No fim, enquanto olhava a bela paisagem, ele terminou a
história se perguntando se os bentos sempre tinham uma queda por meninas com
nome de flor. Olha, vai ser uma trama bem legal no futuro! O Zé gostou da Fran,
que gosta do Chico, que ama a Rosinha, que também ama o ama, mas tem o Paulo de
olho nela. Vixe, parece que temos um pentágono amoroso aqui!
E aí? O que vocês acham? Será que o namoro do Chico com a
Rosinha não poderia dar um tempo? O Chico deveria ficar com só ela ou
experimentar algo diferente com a Fran? Assim a Rosinha também estaria livre para
ficar com Paulo. Será que isso pode acontecer no futuro? Talvez um rompimento
temporário entre eles, algo que os permita seguir caminhos diferentes por um
tempo para depois chegarem a conclusão de que querem ficar juntos e começar um
novo relacionamento mais maduros e seguros do que querem.
Considerando que eles seguem uma linha diferente da TMJ,
isso não seria impossível de acontecer.