Muitos devem ter estranhado eu demorar tanto para fazer a
crítica. Bem... acontece que eu gosto de ler a história duas vezes antes de
falar qualquer coisa. Assim pego melhor os detalhes. O problema é que nesse caso
eu custei a ler uma vez só, imaginem duas.
Sabe... no mês passado eu pensei que tinham pegado toda a
chatice do Cebola e juntado numa revista só. Me enganei. Parece que eles
deixaram um bocado para o mês seguinte. Aff... eu não sei o que eles ganham deixando
esse personagem tão antipático assim sendo que ele tem muitas qualidades e sabe
ser legal quando quer. Mas enfim... tem gosto para tudo.
Por outro lado, essa história me lembrou uma série que eu de
vez em quando assistia há muito tempo atrás. Se chama Welcome to Paradox e era
uma série de ficção científica que se passava numa cidade futurística chamada
“Betaville”. Essa série abordava temas sobre o impacto das novas tecnologias no
corpo e na mente humana. Um episódio em particular me chamou bastante a atenção
e tem tudo a ver com a edição desse mês.
Resumindo, a história fala de um cara insatisfeito com o seu
casamento que resolve comprar um robô para substituir a esposa de carne e osso.
No início, parecia a mulher perfeita. Sempre sorridente, nunca brigava e nem
questionava, sempre concordava com tudo, se desdobrava para agradá-lo e nunca o
contrariava em nada.
Qualquer bobagem que ele fizesse, ela achava lindo.
Mas no fim ele percebe que tudo aquilo era artificial. O
robô só fazia aquelas coisas porque era programado, não porque queria fazer. Todo
o carinho, dedicação e amor eram artificiais e não havia nada espontâneo ali.
Então o sujeito resolveu fazer as pazes com a esposa que apesar de ser
imperfeita, o amava de verdade, com todas as qualidades e defeitos.
Foi meio o que aconteceu com a história desse mês e creio
que o objetivo seja mostrar que computadores e hologramas podem até ser
perfeitos, mas as emoções são falsas e nunca serão capazes de substituir a
convivência com gente de verdade.
Muitas vezes as pessoas preferem trocar as relações humanas
pelo mundo virtual, jogos e personagens porque não conseguem conviver com o
defeito das pessoas. Confesso que de vez em quando eu também me canso das
pessoas e suas chatices. É... conviver com pessoas reais não é mole não,
crianças!
E sabem uma coisa que eu acho interessante no Cebola? É que
ele ilustra perfeitamente aquela frase bíblica: “Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
Ele parece ser muito intolerante com os defeitos dos outros (especialmente os
da Mônica), mas simplesmente não enxerga os próprios e não faz nada para
melhorar. Esse é um dos defeitos que prejudica muito a convivência entre as
pessoas, porque geralmente enxergamos só os defeitos dos outros e ignoramos os
nossos.
Aliás, eu acho muito contraditório ele falar que quer
derrotar a Mônica para estar a altura dela, mas ao mesmo tempo criticar tanto
seus defeitos. Ora, para querer estar a altura de uma pessoa, é preciso
admirá-la. Mas como admirar uma pessoa vendo somente os defeitos dela e
ignorando suas qualidades? Tem como?
E o Cebola não apenas gosta de apontar os defeitos da
Mônica, como é capaz de se afastar dela por causa de qualquer problema. Ainda que
por um tempo, os sentimentos dele por ela ficaram abalados por causa das
garotas do game, porque elas eram sempre perfeitas. Sinto muito, mas para mim
isso não é amor.
Quando eu dou meus palpites sobre as histórias, geralmente
erro muito e acerto pouco. Nesse caso eu até que acertei bastante, mas não
estou nem um pouco feliz. Preferia ter errado tudo e me surpreendido com uma
bela história. Para mim, foi apenas mais do mesmo: Cebola se encantando com um
game, ignorando e maltratando a Mônica, depois ele se decepciona e volta para
ela com o rabinho entre as pernas.
Se bem que pelo menos dessa vez ela pareceu ter tomado um
pouco de vergonha na cara, mas no fim acabou aceitando ele de volta do mesmo
jeito. Daqui a umas edições, a novela mexicana começa de novo: ele vai
aprontar, ela vai chorar e sofrer um monte e no fim os dois vão fazer as pazes
e blábláblá o de sempre. Aparentemente ela deu o troco nele jogando o mesmo
game, mas isso não pareceu incomodá-lo em nada. Ele até achou graça.
Tá, eu sei que é isso que faz vender revistas (e no fim, é
só o que interessa mesmo). Mas sei lá... ando sentindo falta das aventuras de
antigamente, quando eles não se penduravam tanto no drama da Mônica com o
Cebola e mesmo assim faziam ótimas histórias. Sem falar que o Cebola precisa
amadurecer um pouco e parar de se apaixonar por jogos e robôs, né? Fala sério!
A Mônica tinha toda razão por ficar chateada com ele. Se ele
tivesse se apaixonado por outra garota, ainda vá lá. É direito dele. Agora,
tratá-la como lixo por causa de um joguinho? Por causa de alguém que nem
existia de verdade? Por nada? Isso é para vocês verem como é grande o amor que
ele sente por ela.
Pelo menos ele foi capaz de enxergar as próprias
contradições no fim da história ao ver que as qualidades citadas pela Hortência
não tinham nada a ver com o que ele demonstrava na vida real. Acho que um pouco
de semancol ele ainda deve ter, então esse crédito ele merece.
E ainda tem as personagens virtuais, que até que dariam boas
personagens reais apesar as personalidades delas terem saído um pouco
estereotipadas: a meiguinha delicada e cheia de insegurança, a descolada
impulsiva e cheia de atitudes e, claro, a garota perfeita que também é uma
narcisista arrogante. O nome Narcisa não foi escolhido a toa, né?
O que eu achei mais curioso foi o Cebola ter escolhido
justamente a mais tímida e insegura. No início da TMJ, ele parecia ser do tipo
que preferia garotas fortes e decididas. Aliás, naquela história do gibi onde
ele chegou a namorar a Penha, ele próprio falou que gostaria de namorar uma
menina mais segura e confiante. O que deu nele agora para preferir as choronas
mimizentas? Ou será que o ego frágil dele não suporta ter ao lado uma garota
com vontade própria que não vive por conta só de agradá-lo?
Ah, sim... essa é a parte complicada de se conviver com
outras pessoas. Nem sempre elas farão o que a gente quer e muitas vezes farão
exatamente o que a gente não quer. Paciência, é assim mesmo. Tanto ele quanto a
Mônica precisam aprender isso. sim, porque a Mônica é controladora, mas ele
também não fica atrás porque se desgasta muito facilmente com os erros dos
outros e costuma ser radical para julgar e condenar.
Bom... é isso. Acho que não consegui escrever nada legal
esse mês porque a história realmente não me inspirou. Se bem que eu até
consegui fazer um desenho mostrando o final que teria sido mais adequado, só
que vai levar um tempinho para sair porque ainda nem comecei a colorir. Eu meio
que aproveitei alguns desenhos da revista para fazer esse, espero que fique
bom.