sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sugestão de leitura - Desventuras em Série




Sim, sim... eu sei que o objetivo desse blog é falar sobre a TMJ. Poréeemmmm

1 – TMJ e CBM só saem uma vez por mês. Durante o resto do tempo não há muito o que falar.
2 – Não sou como os outros fãs que sempre acompanham as novidades de perto. Basicamente, me concentro mais em falar sobre as histórias que leio todo mês.
3 – Eu leio muito. Gosto de ler. De repente, assim do nada, pensei: por que não falar dos livros que eu leio? Parece interessante, não?

Então vou fazer uma crítica dos livros que mais me chamaram a atenção, mas vou tentar fazer isso com o mínimo de spoilers e sem revelar o final. Ainda assim, estejam atentos porque alguma coisa vai sempre acabar vazando.

Agora falta escolher o primeiro livro de que gostaria de falar. Só um me vem a cabeça. Na verdade, treze. Como é? Sim. Treze livros: desventuras em série. Imagino que vocês tenham ao menos ouvido falar desse título, talvez assistido o filme.

A história, para quem não conhece, é a seguinte:

Três irmãos, os órfãos Baudelaire, perdem os pais num incêndio. A partir daí a vida deles vira do avesso e de cabeça para baixo numa série de desventuras, um azar após o outro. Essas três crianças são muito inteligentes e cada um tem um talento especial.

A mais velha se chama Violet, tem quatorze anos e é inventora. Ela é especialista em dispositivos, engenhocas, é capaz de criar várias coisas com poucos recursos disponíveis. Basicamente um MacGyver de vestido e fitinha nos cabelos.

O irmão do meio, Klaus, tem doze anos é um grande leitor. Não só um grande leitor como também pesquisador. Tem um vocabulário imenso, parece saber o significado da maioria das palavras e é capaz de pesquisar em vários e vários livros sem ficar maluco ou confuso. Sem falar que tem uma memória excelente.

A mais nova se chama Sunny, tem três anos e por enquanto adora morder objetos. Ela se comunica com sons de bebê que só seus irmãos entendem. Mas não a subestimem, ao longo da série seu talento de morder ajudou várias vezes.

Bom, o objetivo aqui é fazer uma crítica do livro, não uma sinopse. Quem quiser saber mais sobre o enredo do livro, pode olhar aqui: (Desventuras em Série)
Sabe, inicialmente a história parece meio inocente. Órfãos herdeiros de uma imensa fortuna são constantemente perseguidos por um parente ganancioso (Conde Olaf) que quer botar a mão na grana deles. Conde Olaf sempre aparece com disfarces ridículos que qualquer um com meio neurônio na cabeça seria capaz de perceber. Mas parece que tirando as crianças, grande maioria dos personagens desse livro não tem nem meio neurônio.

E é isso que torna a história tão interessante: ela é absurda. Livro após livro, as crianças enfrentam situações absurdas, surreais, ridículas e muitas vezes injustas. Ninguém os escuta, ninguém os leva a sério porque são crianças.

Sempre que tentam contar aos adultos que Conde Olaf estava atrás deles com um disfarce ridículo, ninguém acreditava. Só percebiam quando era tarde demais e o vilão acabava fugindo.

E como as histórias são sempre absurdas e muitas vezes exageradas, as crianças sempre eram colocadas em situações surreais, coisas que a gente nunca imaginaria ver uma criança fazendo. E os adultos ao redor pareciam achar tudo normal.

Outro detalhe interessante no livro é o grau de alienação, burrice e falta de noção das pessoas. Pelo visto, só as crianças pensavam realmente. O resto se deixava levar pelas leis, regras, senso comum e especialmente pela mídia. Tipo, se algo aparecia no jornal, as pessoas automaticamente tomavam como verdade absoluta e nunca questionavam.

De livro em livro, as crianças são levadas de um lugar para outro na esperança de encontrarem um bom tutor, mas um acaba sendo pior que o outro, com exceção do tutor do segundo livro que era muito gente boa e realmente se importava com as crianças. Mas... não vou falar. Isso seria spoiler.

No início eu pensei que as histórias eram repetitivas e iam sempre seguir o mesmo padrão. Mas a partir do sétimo livro elas começam a tomar outro rumo e é aí que ficam mais legais e prendem nossa atenção.

O Conte Olaf é algo que merece ser falado. Ele parece um vilão cômico no início, mas com o tempo vemos que é um homem sinistro, um tanto violento e muito perigoso. Ele não está aí para brincadeiras e é capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer. Sua especialidade para infernizar a vida das crianças é fora do comum e ele as persegue com uma tenacidade impressionante. Não importa para onde elas vão, ele sempre as acaba encontrando.

Uma coisa que o livro ressalta bastante são seus olhos muito brilhantes que sempre se destacam não importando qual seja o disfarce. Ele sempre aparece como uma pedra no sapato, um flagelo pronto para tornar a vida das crianças ainda mais miserável do que já é, sempre estragando tudo.

Falando em estragar tudo, o título “desventuras em série” não é apenas um título. É basicamente o estilo de vida dos órfãos. É um azar após o outro. Para cada coisa que dá certo para eles, pelo menos cinco dão errado. Quando tudo parece bem encaminhado, algo desanda e eles continuam com o mesmo azar de sempre. Em cada livro, a única vitória deles é escapar do Conde Olaf e continuarem vivos. Fora isso, é uma zica atrás da outra. Se forem ler esses livros, tenham em mente que verão a Lei de Murphy em funcionamento na mais pura essência.

E como se essa sequência de azares não fosse suficiente, ainda temos o mistério sobre a morte dos pais deles, uma misteriosa organização cuja sigla é CSC que ao longo dos livros tem vários significados. Muitas informações, mistérios, pistas e charadas.  Tudo vai se emaranhando aos poucos. Para cada pergunta respondida, outras dez ficarão sem resposta. Preparem-se para ver muitos, mas muitos fios soltos nessa história.

A forma de narrativa é boa, uma espécie de mistura de primeira com terceira pessoa. Existe um narrador onipresente que conhece toda a história e narra tudo, mas ele também fala de si mesmo e da própria vida. Aliás, o narrador costuma ser bastante cínico em várias partes, um tanto prolixo em outras e repetitivo também. sempre que aparece uma nova palavra, supostamente desconhecida, ele diz algo assim: “uma palavra que aqui significa…”

Seu humor é sombrio e ele fala constantemente que a história será triste, miserável, um mar de lágrimas e sempre nos aconselha a deixar o livro de lado e procurar algo mais alegre. Legal, não nego, mas as vezes meio irritante por causa da freqüência. Mas talvez seja isso que dá um tempero a mais ao livro. Ele conta a história acrescentando fatos aqui e ali que aparentemente esclarecem o mistério, mas no fim levanta mais perguntas.

O clima da história é um tanto sombrio também, se passando num mundo que pareceu bastante distópico para mim. Eu jamais iria querer viver nesse tipo de lugar que me pareceu tão sem esperança, não sei. As pessoas são muito alienadas, a justiça praticamente é uma piada e constantemente temos a impressão de que não existe para onde correr. Os órfãos estão sozinhos para resolverem seus problemas porque as pessoas que teoricamente deveriam ajudá-los sempre falhavam, decepcionavam ou viravam as costas. 

A essa altura, vocês devem estar se perguntando por que eu gostei tanto desses livros. Bem... a história é interessante, desperta a curiosidade e apesar do que o narrador dizia, eu continuava a ler na esperança de que lá no finalzinho eles pudessem ter um final feliz ou algo que se parecesse com isso.

Eu gostei da personalidade das crianças, que de bobas não tinham nada. Eram apenas crianças, não nego, mas muito inteligentes. Gostei especialmente de terem colocado uma garota no papel de inventora. Geralmente colocam meninos para esse tipo de coisa. Violet é inteligente, consegue desvendar dispositivos complicados, pode montar engenhocas com o que tem disponível e sempre tem boas idéias para ajudar a ela e aos irmãos.

Klaus é meio nerd, mas não parece um nerd. É um bom garoto, não mostra arrogância e é muito fiel e preocupado com as irmãs. Sunny é um bebê fofo, muito inteligente e apesar de tão nova, procura ser independente para não dar trabalho aos irmãos e ao longo da série vai crescendo, se tornando mais forte e aprendendo novos talentos.

E não é só ela que cresce como também as outras crianças, que vão aos poucos adquirindo mais e mais independência quando percebem que ninguém vai cuidar delas. Eles são muito unidos, cuidam uns dos outros e não me lembro de nenhuma briga ou discussão entre eles. Afinal, eles só tem uns aos outros e é essa união tão forte que os fez vencer todos os desafios. Tudo podia desmoronar e dar errado, mas eles sempre permaneciam juntos a todo custo.

Claro que ao longo das histórias eles precisavam se virar de todo jeito para sobreviverem e muitas vezes acabavam questionando a si mesmos porque ficam confusos sobre conceitos de certo e errado. Os adultos ao redor são confusos, contraditórios e não oferecem nenhum tipo de apoio. Logo, é normal que eles também percam um pouco o rumo e muitas vezes se perguntem se não estão se tornando vilões.

Para quem está lendo é fácil dizer que eles agiram de determinadas maneiras por causa do desespero, sobrevivência e porque não tinham escolhas. Eles sempre eram colocados em situações surreais e quase não tinham ajuda. Especialmente no penúltimo livro, onde ao invés de levar as crianças a um lugar seguro e protegê-las, os adultos dão a elas uma tarefa absurda onde tinham que lidar com as situações e fazer julgamentos sozinhas, sem nenhum tipo de ajuda ou orientação.


É fácil se perder em um mundo tão confuso e de certa forma, eles se sentiram meio perdidos. Por fim, resolveram chutar o balde já que tinham o mundo inteiro contra eles, ninguém ouvia, todos só acusavam e não havia mais nada a se fazer. Só lendo a história para entender do que eu falo.

Embora pareça uma história inofensiva para crianças, ela não é. Pode ser lida por crianças, claro, mas por adultos também. Não é algo que a gente lê passivamente. Temos que raciocinar um pouco, ir ligando os pontos e entender os enigmas. E mesmo assim... ops, sem spoiler!

Mas uma coisa é certa: o autor criou um mundo que mostra bem os defeitos do nosso, ainda que ampliados e bem evidentes. A alienação, pessoas que acreditam em algo só porque saiu nos jornais, o gosto por violência e sangue, o apego estrito as leis sem importar com as particularidades da situação, crianças vivendo em situação miserável sem que quase ninguém se importe e um vilão que ninguém conseguia deter. Praticamente o mundo real.

Minha conclusão é que os livros valem a pena. Sim, eu sei que são treze livros e isso pode assustar um bocado. Mas são todos pequenos a meu ver. Acho que dá para acabar com todos em um mês. Vale a pena.

Também tem o filme, que aborda os três primeiros livros e até já falaram em uma série que seria produzida pela NetFlix, mas que ainda não saiu do trailer. O filme ficou legal, acho que Jim Carrey deu um excelente Conde Olaf apesar de ter roubado um pouco a cena e saído mais cômico do que deveria. Alguns eventos foram trocados de lugar para adaptar ao filme e infelizmente o tempo não foi suficiente para colocar tudo o que tinha nos três livros. Sem falar que o Violet saiu um tanto inexpressiva sendo que no livro ela é uma personagem mais forte, inteligente e atuante.

No primeiro livro, foi ela mesma quem se salvou de uma situação horrível agindo com inteligência e pensando rápido, mas no filme ela acabou sendo salva por Klaus e eu não gostei dessa mudança.

Eu prefiro o livro e sei que vocês vão gostar também. Especialmente porque a história é bem incerta, não dá certeza de um final feliz. A gente tem que ler cruzando os dedos para que ele aconteça.

Aqui tem o suposto teaser para a série baseada no livro, mas dizem que foi apenas um fandom (trabalho feito por fã). Vou ficar na torcida para que a série realmente saia um dia.


3 comentários:

  1. Vou ver se leio. O blog e seu e você pode postar isso bom e que chama mais leitores, e quem não quer saber sobre isso e só não ler, simples não?

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  2. Digitei errado e "o blog e o e você pode postar isso e o bom e que chama mais leitores para a leitura

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  3. Eu amooo Desventuras em Série!! <3 Lembro que minha amiga me apresentou no ensino médio e incentivou todas as nossas amigas para lerem! Ficavamos comentando nos intervalos e tentando descobrir as charadas. Acabou que uma delas comprou o livro The Beatrice Letters (não tem disponivel traduzido) para descobrirmos o que aconteceu com as crianças (bem, ele só deixa a pista e temos q ficar com nossas conclusões ;-;)
    Amo o Daniel Handler e adoro a ideia de ele ter esse segundo nome, Lemony Snicket. Acabo tendo dois autores favoritos kkkkkk
    Se você ficou muito fã mesmo, indico esse livro e o "Lemony Snicket: Autobiografia Não Autorizada" que "promete" desvendar algumas questões, mas só te deixa com mais duvidas ainda xD

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