sábado, 9 de maio de 2015

CBM#20 - Um caipira na corte do Rei Artur: críticas




Hoje eu li a ed. 20 do Chico bento. E sabe... é meio difícil descrever o que estou sentindo agora. Se por um lado eu gostei da história, por outro eu fiquei decepcionada com o Chico.

Tudo começa com o Chico tendo muitas dificuldades nos estudos e até sendo ridicularizado pelo Genésio, dizendo que ele é um caipira que devia ter ficado quieto na roça. E nós sabemos que o Chico nunca foi estudioso quando criança e pelo visto está tendo muitas dificuldades agora.

Então, por um mistério que nunca foi explicado em momento algum, ele adormeceu sob um cedro e não só voltou ao passado como foi parar em outro continente. Mas tranqüilo, desenvolver mais essa parte ia ocupar espaço precioso da revista e esse tipo de explicação não teria muita relevância para a história.   

Ele mal chega na Idade Média e já arruma confusão com um cavaleiro que o leva ao rei Artur e inventa um monte de mentiras a seu respeito. E como o povo naquela época era muito supersticioso, acabam acreditando e ele vai para a fogueira, mas se salva usando o velho truque de apagar o sol.

Sim, eu já tinha visto esse tipo de coisa em outras histórias e filmes. O sujeito memoriza a data de um eclipse e diz que vai apagar o sol. O povo acredita e fica com medo. Só que nessa história teve um pequeno furo porque o Chico não sabia a hora do eclipse, então foi muita sorte tudo ter acontecido exatamente na hora certa, senão teria virado churrasquinho.

O resto é tranqüilo. Merlin se dá mal, o Chico vira conselheiro do rei e vai viver na Idade Média ajudando todos com o seu conhecimento do futuro. Ah, só uma pequena observação sobre uma frase que Alisande tinha falado: “e que mundo é este, onde não se pode dizer o que pensa?”. Pois é, na Idade Média não existia liberdade de expressão. Quem falasse demais, virava carvão. E quem não falava também virava, porque naquele tempo era muito fácil denunciar uma pessoa por bruxaria. Ninguém pedia prova de nada.

Voltando a história, acho que agora posso dizer por que fiquei decepcionada com o Chico. Eu já tinha lido comentários sobre ele ter ficado na Idade Média e até fiquei surpresa ao saber que ele casou e teve filhos, mas fiquei de boa porque pensei que ele tinha ficado preso no passado sem poder voltar. E se ele REALMENTE não tinha como voltar, se estava preso, então era compreensível que tentasse refazer sua vida ali da melhor forma possível. E como ele não podia mesmo voltar para a Rosinha porque estava preso, não havia nada de errado em casar com outra pessoa.

Poréeeeemmmm... Ao ler a história eu vi que ele sequer tentou voltar, muito pelo contrário. Ele tinha até medo de dormir debaixo da arvore e acabar voltando. Ou seja: ele escolheu viver ali. É aí que a coisa fica complicada.

A primeira vista pode parecer que ele fez isso para ajudar as pessoas, mas tenho cá minhas dúvidas. A meu ver, ele fez por egoísmo. No presente ele era só um “caipira lesado” com dificuldades nos estudos, mas no passado o pouco conhecimento dele o colocava acima dos demais. Tipo aquele ditado “em terra de cego, quem tem olho é rei”. Talvez eu esteja sendo muito severa ao julgar o Chico, mas do jeito que foi falado, ele não ficou somente para ajudar as pessoas e sim porque ali ele era uma pessoa importante, respeitada. Era visto como um sábio. Até aí tudo bem porque ajudar pessoas apenas para fazer o bem é coisa para pouquíssimos iluminados.

Eu não o critico por querer viver em um lugar onde é respeitado, pode ajudar as pessoas e ser útil. Nesse ponto eu o entendo. O problema foi o que ele deixou para trás ao fazer essa escolha: pessoas que o amam e se preocupam com ele.

Será que em momento algum ele pensou na dor e tristeza que tinha causado na família, nos amigos e na Rosinha? Não pensou em como essas pessoas iam sofrer por sua ausência? Quando uma pessoa desaparece e nunca mais dá notícias, o sofrimento de quem fica é muito pior porque eles não sabem se a pessoa está viva ou morta. Não tem nem mesmo um túmulo para chorar, não tem nada.

Chorar perto da árvore pedindo perdão pode ter servido para limpar a consciência dele, mas foi inútil porque sua família não ouviu nada e continuou sem notícias do mesmo jeito.

Sem falar que ele ainda era namorado da Rosinha, mas simplesmente a deixou de lado. Ele não pensou que ela ia ficar anos sofrendo sem ter notícias dele? Ele seguiu sua vida e arrumou outra namorada, mas como ela ia poder fazer isso sem saber o que aconteceu e com o pensamento de que ele poderia voltar a qualquer momento? Antes de começar um novo ciclo, é preciso encerrar outro. Como ela ia fazer isso sem nem ao menos saber o que tinha acontecido com ele?

E a meu ver, ele a traiu. Sinto muito gente, mas para mim aquilo foi traição. Eles ainda estavam namorando, não houve rompimento, nenhum esclarecimento e ela não fazia a menor idéia do que estava acontecendo. Então, para todos os efeitos, ela ainda esperava por ele e o via como namorado. Confesso que fiquei até muito surpresa com a facilidade com que ele ficou com outra garota sem nunca mais pensar na Rosinha novamente e isso me fez questionar bastante o amor que ele diz sentir por ela.

Sei... sei... vocês ainda podem dizer que ele sacrificou tudo por um “bem maior”, para ajudar as pessoas do passado que estavam passando por dificuldades. Bem... vou fazer de conta que acredito nas boas intenções dele só por um instante.  Mas mesmo assim, foi uma atitude irresponsável porque ele acabou mudando o passado ao trazer conhecimentos que as pessoas ainda não tinham. Será que ele não parou para pensar que isso poderia ter conseqüências no futuro? Isso poderia até ter impedido o nascimento dele próprio.

A volta dele para o presente também foi esquisita. Ele se jogou num precipício com Merlin, com certeza morreu e acordou na época atual com a mesma idade, como se nada tivesse acontecido. Agora ele pode voltar para sua família, amigos, namorada... e é isso que me intriga: como ele vai encarar a Rosinha de novo sabendo que casou com outra (teve sua primeira vez com ela) e teve filhos? Como ela iria se sentir se soubesse que ele a esqueceu muito facilmente para ficar com outra mulher?

Mas por outro lado, eu meio que vivia criticando a postura sempre “certinha” e “perfeitinha” dele, então acho que o lado bom dessa história foi mostrar que ele não é isento de cometer erros e pode agir por egoísmo também.

Para não dizer que tenho só criticas negativas, vou dar um ponto pelo rumo inesperado na vida do Chico. Colocá-lo casado com outra mulher e tendo filhos com ela foi realmente ousado, diferente, algo que ninguém esperaria. Eu não esperava, tanto que ao ver a 4ª capa pensei que fosse algum ancestral dele. Sim, eu fiquei com certo mal estar ao vê-lo beijando outra garota como se a Rosinha nunca tivesse existido na vida dele, mas ainda assim admiro essa ousadia em colocar algo que de certa forma pode chocar alguns fãs.

Afinal, muitos são contaminados pelo mito do amor romântico, aquela coisa de casal predestinado, de somente uma única pessoa ser a “alma gêmea” de outra, etc. Isso mostra que é possível o Chico ser feliz com outra pessoa também. E seria interessante se fizessem o mesmo com a Rosinha, mostrar que ela também pode ser muito feliz com outro homem. Ou será que o Chico pode, mas ela não porque é “diferente”?

Sem falar que o colocaram um pouco mais humano e humanos erram. Por isso eu tento pensar que quando ele acordou no presente, tudo o que aconteceu ficou no passado (talvez como outra vida) e ele continuará sendo fiel a Rosinha como tem sido até antes dessa edição. E ao acordar no presente, ninguém deu pela sua falta, ninguém sofreu. Foi uma solução simples para um grande problema que a ausência dele poderia ter causado. Logo, tudo ficou como estava, embora eu tenha achado estranho ele dizer que sempre ia amar a antiga esposa e os filhos, mas quando estava no passado em momento algum falou que sempre ia amar a Rosinha e tê-la em seu coração.

Outra coisa que ficou assim meio estranha é que quando ele se jogou no precipício com o Merlin, acabou deixando para trás uma esposa e dois filhos pequenos. Sim, eu sei que foi necessário esse sacrifício, mas aí fico pensando... se depois de ele voltar ao presente lhe fosse oferecido a chance de escolher, o que ele faria? Voltaria ao passado para continuar a vida com sua família ou ficaria no presente?

Tem uma coisa importante que a luta dele com o Merlin mostrou no final: o interesse de quem está no poder de manter o conhecimento só ao alcance de todos. Isso não é só história não, gente. É fato, realidade. Ao longo do tempo, quem esteve no poder sempre lutou para manter o conhecimento o mais restrito possível. Conhecimento é poder. Ignorância aprisiona.

Quem quiser manter um grupo de pessoas sob controle só precisa fazer uma coisa simples: alienar, manter na ignorância, não deixar que tenham acesso ao conhecimento. Ignorância gera medo, divide, mantém as pessoas aprisionadas sem saber do que são realmente capazes. Conhecimento dá poder, traz progresso, faz com que as pessoas mudem a si mesmas e a realidade ao seu redor.

Por que vocês acham que nosso governo tem tanto descaso com a educação? Pois é. Conhecimento faz pensar. Quando a pessoa começa a pensar muito, começa a questionar também. Do questionamento, vem a ação, o desejo de mudar as coisas. Já pensou se o povo inteiro resolve que quer mudanças? Aí acabou toda a mamata dos políticos, acabou a mordomia, os altos salários, auxílio moradia, propinas, etc. Quem está no poder jamais vai querer uma coisa dessas. Esse ponto da história foi realmente bom e ajuda a pensar e refletir.

Bem... desculpem por ter sido tão pesada nas críticas, mas essa história realmente me deu mal estar. Tudo bem, já passou. Parece que a próxima história vai ser bem tensa porque a Rosinha vai morrer. Será mesmo? Que doideira!



Eu vi o preview da ed. 21 ontem e parece que o Chico tinha um encontro com ela num mirante, mas esqueceu (ele esquece dela muito fácil, né?). Acho que depois disso, deve acontecer alguma tragédia e ela acaba morrendo, não sei. Aí ele vai tentar mudar o curso dos fatos. Será que uma edição é continuação da outra? Estão relacionadas ou são histórias diferentes?

Se estão relacionadas, será que ele vai ao menos ser sincero com ela e contar o que aconteceu? Se bem que isso pode não ser boa idéia. Ele já fez mesmo e nada vai mudar isso, então o melhor seria colocar uma pedra sobre o assunto e seguir em frente. Ela já é desconfiada, se souber disso as coisas podem piorar mais ainda. Confiança perdida é que nem vaso quebrado. Não tem conserto.

Eu refiz aquela imagem onde o Chico beija Alisande, mas fiz algumas... mudanças. Espero que gostem. Já tem png e quebra-cabeça. 



Aqui tem o vídeo do Canal Opinião Turma da Mônica Jovem com uma crítica da edição. Só uma pequena observação: o autor do vídeo estranha a presença de escolas na Idade Média, mas na história a gente vê que isso foi obra do Chico, que fez com que as escolas se tornassem acessíveis aos camponeses. Antes disso, todo o conhecimento era controlado pela igreja e só era acessível aos membros do clero e da nobreza, que podiam pagar.

11 comentários:

  1. Concordo com tudo e acrescento mais uma crítica: desde quando o Merlin é do mal? Na lenda do Rei Artur mesmo, tinha toda uma história de o Merlin ter nascido em uma família de bruxos, porém era uma pessoa boa... Tão querendo transformar todo mundo em vilão (sim, Curupi...Caipora, estou falando com vc)... :P

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    1. Não atinei com essa parte porque não conheço muito bem a história do rei Artur. É que eu já vi desenhos e filme de pessoas voltando ao passado na história do rei Artur e nesses casos o Merlin apareceu tipo um vilão porque ficou com inveja do visitante, por isso nesse caso acabei achando normal.

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  2. Ah, e já leu a ed. 81? Eu li e fiquei bem, tipo... chocado, com uma parte... Só não vou falar porque odeio spoilers. E a edição em si foi legal e inteligente, todos tiveram uma boa participação...

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    1. Eu ainda não li, mas tô doida pra ler e vc me deixou ainda mais curiosa! Obrigada por não ter dado spoiler.

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    2. Você deve estar falando da página 116 , meu pai, que triste né.
      Já sobre o CHB, a história foi inspirada (pra dizer o mínimo) num filme da Whoopy Goldberg que passava o tempo todo na sessão da tarde "Uma Cavaleira Em Camelot".

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  3. Também não achei certo o que o Chico fez, mas entendo seus motivos. Ele ajudou muito o povo da Idade Média e não crítico a escolha dele, a única coisa que me incomodou foi a facilidade dele em deixar o Presente e a vida dele para trás. Deveria ter demorado mais, mas como a edição ia ficar muito longa...

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    1. Foi o que me causou maior espanto: a facilidade com que ele esqueceu a Rosinha e se jogou pra outra garota. E eu tb entendo os motivos dele, mas ainda assim achei que houve certa dose de egoísmo e ele tb devia ter pensado na dor que ia causar na sua familia.

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  4. So uma curiosidade: a historia tem uma base: o livro ''A Connecticut Yankee in King Arthur's Court'' (em portugues, ''Na Corte do Rei Artur). A ediçao pega muitos elementos do livro, como Merlim ser malvado, os personagens de Alisande e Sir Kay (que também é um caveleiro que existe na lenda original), entre outras coisas. Queria adicionar também que tudo que o Chico fez sofre das complicaçoes das viagens no tempo, como universos paralelos, mudança da linha temporal, etc... e que apesar de tudo pode ter sido um sonho mesmo e ele so tenha ''revivido'' as experiencias de um personagem pouco conhecido da historia arturiana, teoria que é suportada pelo despertar dele justamente no momento de uma queda, algo frequente em sonhos.

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  5. Não tinha nenhuma Morgana LeFay nessa história?

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    1. Pera... pois é, não. :P
      Nem tinha percebido, pelo jeito o Merlin tomou o lugar dela.

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  6. eu li o numero 20 e nao gostei e a edicao 21 da cbm eu li mas nao entendi direito sobre tal de cosmo do tempo

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