segunda-feira, 14 de maio de 2012

TMJ #45 – Bullying além do limite


Atenção, crianças! Nessa postagem tem uns spoilers. Quem ainda não leu essa edição, melhor ler primeiro e só depois voltar aqui.




Eu não vou resumir a história porque estou partindo do princípio de que quem estiver lendo esse post já leu essa edição e eu não quero ficar redundante.



Confesso que achei essa edição bem interessante. Dando uma breve pesquisada aqui e ali, reparei que algumas pessoas associam os gibis da Turma da Mônica com bullying. Afinal, quem acompanha as historias sabe que o Cebola, junto com os outros garotos da rua adoram zoar a Mônica com vários apelidos como dentuça, baixinha, gorducha e derivados.


Sem falar dos planos que ele vive armando com o objetivo de roubar seu coelho de pelúcia e derrotá-la. E quem aí não reparou nos rabiscos que o Cebola faz nos muros e em qualquer outro lugar onde ele possa desenhar?

Nessa edição, ao conversar com Quim sobre o problema dele, Mônica falou que nunca tinha sofrido bullying antes. Bem, confesso que alguns leitores devem ter ficado bem surpresos. Então ela explica: apesar de não curtir as provocações, os garotos eram seus amigos e no fim tudo ficava bem.

Sabe... confesso que esse assunto divide opiniões. Se for perguntado: a Mônica sofria bullying? Uns vão dizer que sim e outros vão dizer que não. Eu mesma sempre achei que sim. Em parte, porque eu também sofria bullying na infância por ser gordinha. Então sempre me identifiquei com a Mônica e confesso que fiquei quase ofendida quando ela chegou e falou que não sofreu bullying nenhum. Eu meio que levei para o lado pessoal porque lembrei das provocações que sofria e quando ela falou que nunca sofreu bullying, foi como se dissesse a aquilo que eu sofri também não era bullying.

Doideira, eu sei. Afinal, é só uma historia em quadrinhos. Não deveria ser levada a sério dessa forma. Então eu debati com quem pensava diferente, pesquisei sobre bullying aqui e ali, pensei, pensei e... cheguei a conclusão de que ambas as respostas estão corretas. Aí depende mais da interpretação da pessoa. Quem acha que sim, está certo. Quem acha que não, está certo também.

Por que sim?

Os apelidos que a Mônica ganhava eram do tipo baleia, elefante, dentuça, gorducha, etc. Será que alguém aí aceitaria ser chamado assim por seus amigos? Eu não aceitaria. Já fui chamada desses apelidos quando era criança e posso garantir que não achava nem um pouco natural. Um pouco de zoação e brincadeiras entre crianças até pode ser normal, mas o Cebola passava dos limites porque mesmo sabendo que a Mônica não gostava, ele continuava sem nenhum constrangimento. Sem falar que eles gritavam com ela, xingavam mesmo e eu não consigo ver isso como brincadeira.

E ele não fazia tudo isso sozinho. Também instigava os outros garotos a fazerem a mesma coisa. A meu ver, reunir uma turma inteira para zoar com uma única criança é bullying sim. Não consigo ver isso como uma brincadeirinha inocente e qualquer criança no mundo real sofreria muito com esse tipo de coisa.

Roubar o brinquedo para jogar no chão, pisar, dar nós na orelha mesmo sabendo que esse brinquedo é estimado também não é uma brincadeirinha normal. Minha mãe me deu boa educação e sempre me ensinou a respeitar as coisas dos outros.

Eu me lembro muito bem de uma historia intitulada "o mata burro", onde o Cascão pegou sem querer um guarda-chuva que deixava as pessoas inteligentes. Então ele bolou um plano que fez com que a Mônica caísse de cara na lama. Nessa mesma história, ela foi coagida num beco pelos garotos da rua enquanto Cascão liderava os garotos com um tijolo na mão. Eu não sei o que ele ia fazer com aquele tijolo, mas a situação por si só não tem nada de "brincadeirinha inocente". Se eu visse uma filha minha nessa situação, sairia distribuído cascudos nas orelhas dos moleques sem pensar duas vezes.

Quando vi a parte em que a Mônica falou aquilo, que nunca sofreu bullying, acabei pensando que a MSP deve ter percebido a campanha anti-bullying na internet e para não ficar feio, eles resolveram falar que ela não sofria bullying porque os provocadores eram amigos dela. Para mim, é a mesma coisa que uma mulher ser agredida por anos e depois falar que não sofria agressão doméstica porque o agressor era o marido dela, pagava as contas em dia, dava presentes e era carinhoso após as agressões. A situação muda, mas o raciocínio é o mesmo.

Eles ficavam de bem depois das brigas? Sim. Só que depois tinha mais e mais brigas. Nos gibis a situação era amenizada porque a Mônica era forte e batia em todos eles, só que no mundo real uma menina na mesma situação que ela teria sofrido muito. E cá entre nós, por que será que ela é encanada com o peso mesmo tendo emagrecido e ficado com o corpo que muitas garotas da idade dela gostariam de ter? Por que será que ela fica tão irritada quando falam do peso dela? Exatamente porque ficaram algumas seqüelas dos tempos em que ela era chamada de gorda e baleia. Aliás, até as meninas lhe dão uma alfinetada de vez em quando por causa do peso, já que pelo visto ela ainda continua com o estigma de gorda.

E se formos analisar bem, qualquer menina do mundo real na mesma situação que a Mônica, sofrendo as mesmas provocações, insultos e “planos infalíveis” teria sofrido muito. Diferente da Mônica, que abre buracos nas paredes com apenas um soco, uma menina do mundo real não teria condições de se defender das provocações.


Por que não?

Nas descrições de bullying há duas que talvez derrube por terra a idéia de que a Mônica sofria com esse mal. Uma delas diz que há diferença de poder entre o provocador e a vítima. Apesar de estar em menor número e sozinha, a Mônica compensava com sua super força. No fim, os moleques sempre apanham.

Também tem outra característica que é o isolamento. Os agressores se recusam a sociabilizar com o agredido. Isso também não acontecia no caso da Mônica, já que o Cebola provocava, mas brincava com ela depois. Talvez por esses dois detalhes, seja possível dizer que ela não sofria bullying. Acho que na revista ela deveria ter explicado isso ao invés de usar a justificativa de que os provocadores eram seus amigos (o que para mim não é justificativa coisa nenhuma).

Quem for se apegar a somente essas duas características, certamente dirá que ela não sofria bullying nenhum.

E temos que levar em conta o seguinte: a Turma da Mônica foi criada no ano de 1959. Naquele tempo, não existia o termo bullying e ninguém sabia o que era isso. Quando acontecia, ninguém dava a devida atenção.

Quando os Trapalhões ainda tinham o Mussum e o Zacarias, eles faziam piadas que muita gente hoje talvez não aceitaria. O Mussum era cachaceiro, adorava tomar seu me e fazia brincadeiras com a própria cor dizendo “eu quero morrer preto se...”. naquele tempo, não havia nenhuma preocupação com essas coisas.

Há um desenho de Tom e Jerry onde o Tom aparecia fumando. Hoje esse desenho não passa mais porque já acham que isso pode dar mal exemplo para as crianças, mas naquele tempo ninguém se preocupava com o cigarro. Dizem que pelo menos vinte e quatro episódios foram acusados de possuir cenas racistas. Se formos ver todas as séries publicadas antigamente, todas não eram politicamente corretas. Com a turma da Mônica se dá o mesmo.


Então...


É uma questão que depende do ponto de vista. A meu ver, ela sofre uma situação de bullying sim, mas não sofre seus efeitos porque ela consegue revidar as provocações e também porque os garotos são seus amigos. Esses dois detalhes neutralizam as conseqüências do bullying que ela sofre. Só que na vida real esse tipo de coisa não aconteceria. Os moleques que me provocavam não eram meus amigos coisa nenhuma eu também não tinha condições de enfrentá-los de forma nenhuma. É basicamente esse o caso das pessoas que sofrem bullying na vida real.



E não, eu não quero criar polemicas, criticar, xingar e nem propor que eles mudem as historias e tirem as provocações e planos infalíveis. Que isso fique bem claro para não haver mal entendido.



Afinal, o Mussum era cachaceiro e eu morria de rir das situações envolvendo ele e o seu precioso “mé”. Se tivessem tirado isso dele, o personagem perderia toda a graça. Eu também morria de rir de outras situações politicamente incorras nos trapalhões e não via problema nenhum. Com a turma da Mônica é a mesma coisa. É essa briga, esse antagonismo entre a Mônica e o Cebolinha que dá graça as historias. Se tirarem isso, vai perder mais da metade da graça.


Agora, negar que a Mônica não sofria uma situação de bullying pra mim é a mesma coisa que negar que o Mussum agia como um cachaceiro.



4 comentários:

  1. É verdade, olhando sobre este ponto de vista, nós podemos ver que a Mônica sofria um tipo de bullyng sim, mais que as unicas consequencias disso é a paranoia dela com o peso. Muito triste uma situação dessas. O CEBOLINHA ERA MUITO MAL!!!
    Adoro seu blog, sou sua fã

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  2. Nossa, eu não fazia idéia de que você sofria bullying na infância, que pena. Tenho que confessar que também sofria bullying da 1ª a 3ª série por ser gordinha também, , mais estou mais magra porque sofro de hipotiroidismo, mais mesmo assim, alguns colegas meus ainda me chamam até mesmo de Monica. Eu não gosto do jeito que o cinco fios cabeça de arame trata a Monica, é muito triste mesmo, eu fico muito chateada com ela as vezes. Amei a crítica

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  3. O meu ponto de vista que irei falar agora, pode parecer a início meio confuso para alguns, mas espero que entendam.
    Bom, na minha opinião, a Mônica sofreria bullying, se a Turma da Mônica se situasse na vida real. O fato de ser uma história em quadrinhos absorve metade da "definição e conceito" do termo "Bullying". O Cebolinha praticava ações que NA VIDA REAL seriam consideradas bullying, mas por ser uma HQ não. Não estou dizendo que o Cebolinha é um santo e não fez nada com a Mônica, mas ele era amigo dela, e eu aposto que se ele a visse voltando para casa triste e chorando por conta das suas provocações, teria sentido pena dela e parado de agir daquele jeito, porque ele a ama. Eu sempre via a Mônica reagindo com a sua força e auto-estima para com as provocações do Cebolinha, e nunca se deixando ficar triste. Zangada sim. Triste raramente.
    Resumindo: É uma história em quadrinhos, e devemos simplesmente relaxar, ler e se divertir.
    Mais um post ótimo, adorei você ter abordado o assunto, continue assim.

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  4. No fim faltou comentar a história da TMJ 45 em si. Lá dos meus tempos em que fiz a disciplina Psicologia da Criança na USP lá em 1995, salientava-se essa crueldade que havia entre as crianças e adolescentes, principalmente no que se referia a apelidos (no meu caso, pelo meu sobrenome, eu era chamado de "amendoim").
    Talvez essa história em si traz a mensagem de quando o bullying é algo efetivo e quando ele não é. No caso do Quim, uma pessoa de aparente baixa estima (seria pelo fato de ser gorducho? seria algo próprio de sua personalidade?), o bullying tinha o efeito desejado pelos agressores, pois ele tinha dificuldade de revidar, já que só é gorducho e grandalhão e não um cara forte.
    O outro detalhe fundamental é a ausência de autoridade. Nos meus tempos de escola, se houvesse alguma agressão ou qualquer outro problema com alunos, o resultado era advertência, suspensão, transferência ou pé no sentador. Não tinha conversa. Hoje com a política da Defesa dos Direitos Humanos e esse tal Estatuto da Criança e do Aborrecente (ops! Adolescente), não tem mais problema: os dimenó podem aprontar o que quiserem e as otoridades vão ter de pensar muito no que fazer, se é que vão fazer alguma coisa.

    Lembra-me o instrutor que me deu aulas de dirigir. Ele relatou que um dia estava esperando para levar sua filha, de 8 anos. E viu a filha, ela o viu, e então ela entrou no banheiro. Logo em seguida, entrou um rapaz de 15 anos atrás dela. Aí ele saiu do carro, foi até lá e, adivinhou, o garotão estava tentando abusar da criança. O pai dela catou o taradão e o levou para a diretoria.
    A diretora disse que NÃO PODIA FAZER NADA, pois ele era menor de idade e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente... Então o pai respondeu:
    _ Tudo bem. Se a senhora nada pode fazer, eu posso: vou quebrar a cara dele!
    A diretora simplesmente saiu correndo em busca da policial militar que patrulhava a escola, pois um aluno foi ameaçado de ser agredido e isso não era admissível, etc e tal...

    Quando pessoas que sofrem bullying sentem-se desamparadas pelas autoridades, suas consequências marcam a vida dela. Pode ficar só nelas ou então acontecer como lá na escola do Rio, onde um ex-aluno que sofreu bullying quando criança e adolescente, revidou como adulto matando crianças que se assemelhavam com seus agressores.

    É... Quem pratica bullying pode achar divertido, mas não vai ter motivos nenhuns para rir quando descobrir que armou uma bomba relógio. Lembra-me que os alguns dos agressores daquele assassino se sentiram muito mal quando viram no que deu o que acharam ser só brincadeira com um banana.

    Finalmente tem uma coisa que não vi em nenhum dos gibis da turma da mônica e os outros da mesma laia que li. Não sei se quem tem mais intimidade com eles viu. Onde estavam os pais dessas crianças? Será que a Dona Luísa e o seu Sousa jamais visitaram a família do Cebolinha e fizeram queixas contra o comportamento dele? Será que a Mônica nunca se queixou aos pais das gozações que sofria pelo seu físico? Eu diria que isso é algo que ficou realmente faltando, mas se tivesse havido, muito do gibi perderia a graça. Isso infelizmente temos de admitir: a desgraça dos outros, dependendo de qual é, pode nos fazer rir. Eu pessoalmente me divertiria muito vendo a politicalha do PT & Cia Bela na Papuda.

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