sábado, 19 de maio de 2012

Um exemplo a não ser seguido

Sabe... a edição que mais me deu raiva foi a 34. O fim da edição 30, “o mundo Do Contra – parte 2”, foi meio ridículo mesmo, mas foi esperado. Em momento algum eu tive esperança de que a Mônica e o DC fossem ficar juntos, então nem esquentei a cabeça quando ele deu o fora nela. Ridículo? Sim. Porém previsível.

Só que com a edição 34 foi diferente. Quando fizeram o anúncio, a bobona aqui pensou que os dois fossem se entender de vez e ficar juntos, então eu não esperava aquele final decepcionante. Eles fizeram o maior show pirotécnico em volta dessa edição e o final foi aquela porcaria elevada a enésima potência.

Bem... não é exatamente disso que eu quero falar e sim de outra coisa. Eu já vi, centenas de vezes, mulheres sofrendo por causa de homens indecisos, que nunca tomam nenhuma atitude, enrolam por uma eternidade e elas não conseguem se desligar deles. O cara é tipo um mosca de padaria: não come e nem sai de cima. Ele nunca toma uma decisão, não assume o namoro e sempre deixa a mulher no vácuo.

Quando ela decide seguir em frente e ser feliz com outra pessoa, eis que o mosca de padaria aparece para confundir a cabeça dela de novo, fazendo-a acreditar que ele quer sim algo sério e ficar com ela. Só que quando ela cai nessa conversa, o sujeito se afasta de novo e o jogo de gato-e-rato recomeça. De certa forma, é isso que eu estou observando no relacionamento entre a Mônica e o Cebola. Ele não se decide e também não deixa que ela siga em frente com outra pessoa. Ela deixou isso bem claro na edição 34, e quando Magali lhe aconselhou a se libertar, ela falou que não estava forte o suficiente para abrir mão do Cebola.

Normalmente eu acharia isso patético, digno das mulheres que freqüentam o grupo do MADA, mas dessa vez eu dei um desconto porque ela só tem 15 anos, não dá para esperar muita coisa mesmo. E, claro, se a Mônica desencanasse do Cebola e seguisse em frente, as vendas da revista iriam despencar e a MSP jamais vai querer isso.

O que eu quero dizer é o seguinte: nas revistas, tudo pode acontecer porque é um mundo imaginário. Os personagens farão aquilo que os escritores quiserem que eles façam. Porém, no mundo real as coisas funcionam de outra forma. Quando um homem não se decide, não assume o namoro e não toma nenhuma atitude, é porque ele não está afim. Fato.

Quem ama, quer ficar perto, ouvir a voz da pessoa amada, ter a presença, sentir o cheiro, o toque... quem ama não quer ficar longe correndo o risco de perder a pessoa. Quando uma pessoa (seja homem ou mulher) ama, está feliz e curtindo o namoro, ela não termina por simples bobagens. Muitas vezes, não terminam nem pelas grandes. Quem ama não desiste facilmente de um relacionamento só por causa de um desentendimento. Foi o que o Cebola fez. Quando descobriu o plano da Mônica, simplesmente achou mais fácil terminar porque sua baixa auto-estima não suportou ser vencido por um plano dela. Ao invés de lutar pelo namoro dos dois, de procurar uma forma de resolver aquilo, ele apenas achou mais fácil fugir da luta com aquela desculpinha esfarrapada de derrotá-la.

Na vida real isso não existe. Quem ama de verdade não abre mão de um relacionamento que está bom por causa de bobagens como essa. Quando a pessoa ama, ela luta, se esforça e tenta contornar os obstáculos e resolver os desentendimentos.

Então, meninas, essa conversa do Cebola pode ser bonita nas histórias, mas na vida real isso não existe. Nas histórias tudo pode ser feito de acordo com a vontade dos criadores, então é claro que o Cebola a ama de verdade, porque é assim que seus criadores querem.

Pode até ser bonita e romântica a atitude dele de querer estar à altura dela, de ser bom o suficiente para merecê-la e por isso preferir só começar o namoro quando estiver preparado. Claro que tudo isso é só coisa da cabeça dele, já que a Mônica não faz nenhuma exigência desse tipo. E caso isso seja realmente importante, ele pode se esforçar para merecê-la sendo um bom namorado, presente, carinhoso, que incentiva e apóia. Ele poderia continuar trabalhando nisso durante o namoro. Mas... nós sabemos que isso só uma história e toda história tem que ter uma trama. Por que simplificar se podemos complicar? É a complicação, os desencontros e o suspense que faz vender as revistas.

Por outro lado, em uma situação real quem ama não termina, não quer ficar longe e não desiste de um relacionamento que está bom por causa de bobagens como aquela. Esse tipo de relacionamento pode até dar certo nas historias fictícias, mas no mundo real o buraco é mais embaixo.

O relacionamento estava bom, ele estava curtindo aos montes e estava feliz, só que preferiu acabar com tudo porque achou que a questão de derrotar a Mônica era mais importante do que o namoro dos dois e seus sentimentos por ela.

Ele achou ruim por ela ter feito um plano? Se isso fosse razão para terminar o namoro, então a Mônica não estaria sequer conversando com ele. Se ela fez um plano contra ele, ele fez trocentos contra ela. Colocando tudo na balança, ele ganha disparado.


Um comentário:

  1. Acho que você já deve ter ouvido falar de Madame Curie (Marie Curie, descobridora do radium). Li o livro biográfico dela, escrito pela sua filha caçula e traduzido por Monteiro Lobato. Sua filha foi bem escrupulosa e só deixou escrito aquilo do qual tinha certeza que aconteceu. Segundo ela, não inventou nem mesmo uma cor de vestido.
    Ela relata a infância e a adolescência da mãe, do tio e das tias. Eram eles pessoas comuns, pobres, sem nobreza. Quando moça, ainda na Polônia (que na época nem existia como país), Marie dava aulas particulares, em alguns casos, morando na casa dos patrões. Esse foi o caso de fidalgos rurais da Polônia, que no livro aparecem apenas sob a designação Z... Marie era bem tratada por eles e chegaram mesmo a convidar sua família para visitá-los um dia. Achou que eram gente fina, mas de boa índole, que aceitavam-na como a pessoa que era. Até o dia em que o filho do casal, que estava fora, voltou e deparou-se com aquela jovem bonita, educada, gentil e cheia de ótimos predicados. Apaixonou-se. E ela também.
    Vendo que os pais pareciam aceitá-la bem, quase sem receio revelou-lhes o desejo de tê-la por esposa.
    A casa veio abaixo. Ficou louco cara! Onde se viu escolher por noiva uma moça sem vintém! Logo ele, que podia escolher qualquer outra moça rica e bem nascida da região. A bondade, humildade, honradez e tantas outras qualidades boas que Marie tinha nada serviam contra as ferozes palavras:
    _ Não se casa com uma governanta!
    Frouxo, o rapaz não defendeu o seu amor. Marie, magoada com isso, recolheu-se à sua "insignificância". Mas como diz a filha no livro: não basta decretar pena de morte ao amor para que ele morra. Ela ficou ainda alguns meses (ou anos, não sei a conta certa) alimentando a esperança de que o jovem poderia enfim virar a mesa e decidir por ela.

    Mas isso não acontecia. Quando enfim Marie viu-se em condições de ir para a França, ficar junto com a irmã e o cunhado e estudar na Sorbonne. Encontrou-se com o jovem nobre e como pela enésima vez ele punha suas dúvidas e hesitações, ela finalmente decidiu:
    _ Se não pode encontrar a solução para o nosso caso, não espere que eu o faça.
    E assim ela foi para a França, formou-se em Química, casou-se enfim com um homem à sua altura (Pierre Curie), ganhou 2 prêmios nobéis em física e química (estes valem alguma coisa: o da Paz e Literatura são só perfumaria), acompanhou o corpo médico na I Guerra Mundial, montando unidades móveis de raios X, etc etc etc e finalmente morreu em 1934, vítima de suas próprias descobertas: o rádio e outros elementos radiativos liquidaram com sua medula óssea e ela morreu de leucemia.

    Dela disse Einstein: Madame Curie é, de todas as celebridades, a única que a glória não corrompeu.

    Pra você que é feminista, tente um dia ler esse livro (Madame Curie, autora Eva Curie - Companhia Editora Nacional, 10 edição, 1957) e veja como os cientistas homens viam uma mulher cientista.

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