sábado, 15 de fevereiro de 2014

Piteco - Ingá: críticas



Hoje eu li aquela história do Piteco, Ingá, último volume da série Graphic MSP. Estava esperando por ela há bastante tempo e finalmente tive a chance de ler e gostei muito.

Os desenhos são bem diferentes do que a gente vê nos gibis. Os personagens ficaram mais adultos, mais humanos e menos cartoon. É tipo como seria o Piteco e sua turma caso fossem como pessoas de verdade, ainda que mantendo os traços de cada personagem.

A história é narrada pela Thuga em primeira pessoa, mostrando que o enredo é centrado nela e na sua importância para a tribo.

Resumindo, o povo de Lem está chegando a um tempo de mudanças. O rio que abastecia a tribo secou e como eles eram agricultores e dependiam do rio, tiveram que tomar novos rumos sob a orientação de Thuga, que tinha se tornado xamã da tribo. Mas Piteco não estava lá muito empolgado com essa idéia porque ele era caçador e não gostava de depender das chuvas nem de esperar que as sementes brotassem.

Ela tentou explicar que era preciso mudar o estilo de vida para que a tribo sobrevivesse. Afinal, não era todo dia do ano que tinha caça, por isso eles precisavam de outra forma para sobreviver. Mesmo ela tendo explicado tudo, ele preferia continuar como caçador porque não cultivava raízes e nem plantava sementes.

Por causa dessa conversa e para seguir um tipo de profecia dos ancestrais, ela se deixou capturar pelos homens-tigres, guerreiros que usavam pele do tigre dente de sabre. Sim, pessoal, já teve tigre aqui no Brasil até mais ou menos dez mil anos atrás. Creio que essa história deve ter se passado mais ou menos nessa época.

No dia seguinte, quando descobre que ela foi capturada pelos homens-tigre, Piteco decide ir ao seu resgate (finalmente é ele quem corre atrás dela!) junto com seu amigo Beleléu enquanto o resto da tribo seguia em frente.

Então começa uma longa e perigosa caminhada, repleta de armadilhas, criaturas místicas (umas ajudam, outras atrapalham), muitos apertos e até uma boa briga com sangue e tudo travada com os homens da tribo de Ur! Só que quem encarou essa briga foi outra personagem: Ogra, que os seguiu por achar que eles não estavam seguros o bastante. Ela deu uma surra e botou todo mundo para correr. A ajuda dela foi de grande importância não só para protegê-los, como também para ajudá-los a alcançar os homens-tigre que tinham tomado boa dianteira por causa dos atrasos deles.

Quando Thuga e os homens-tigre chegaram à aldeia, finalmente descobrimos porque ela foi capturada. As mulheres daquela tribo estavam doentes e o rei dos homens-tigre achou que tinha sido culpa dela por causa das intrigas de um xamã velho, feio e fanático. Então toda a razão de ela ter sido capturada fica bem clara e nessa parte nós também vemos meio que o nascimento da misoginia (ódio contra mulheres) por causa das atitudes desse xamã.

No fim, depois de muita luta com animais selvagens e alguns místicos, Piteco, Ogra, e Beleléu resgataram Thuga e depois reencontram o resto da tribo. As tribos de Ur e dos homens-tigre também se juntam a caminhada e uma nova sociedade baseada na agricultura começa a surgir.


É uma história boa, mas um tanto complexa e tem que ler com atenção porque algumas partes não têm diálogo e outras têm, mas em uma língua que não entendemos. Tem que ficar atento para interpretar tudo e às vezes reler a mesma página mais de uma vez.

A história, curiosamente, se passa no Nordeste brasileiro e o título veio da Pedra do Ingá, que realmente existe no município com mesmo nome no estado da Paraíba. É uma grande pedra cheia de inscrições pré-históricas cuja origem ainda é tipo um mistério. Uns acham que foram os fenícios, outros pensam que foram os egípcios e há até quem diga que foi coisa dos ETs. Se repararem, as inscrições dessa pedra parecem mesmo com a do livro ilustrado. 


As criaturas místicas que aparecem na história são na verdade personagens do nosso folclore que o roteirista repaginou e fez do seu jeito. Já o morcego gigante veio da região dos Andes, se não me engano. É daqueles lados de lá.

Outra coisa de que gostei foi da arte. Apesar de não entender muito disso, acho que os traços ficaram ótimos, dando personalidade para cada um. Os cabelos no estilo drealock deu um toque bem primitivo aos personagens, cada um com um penteado diferente, mas de certa forma que lembra o original dos gibis.

A Thuga ficou muito bonita e até sexy apesar de não estar nos padrões anoréxicos que a sociedade tenta empurrar pela nossa goela. Além disso, ela é a xamã da tribo, aquela que narra a história e orienta o povo sobre as mudanças que estavam por vir e os novos rumos que todos tinham que tomar.

Isso me impressionou porque nos gibis, a única função dela era ser a destrambelhada que vivia pegando no pé do Piteco. Agora é ela quem orienta o povo sobre as mudanças que virão e os novos rumos que todos precisam tomar para sobreviver e criar uma nova sociedade. Sua importância é tão grande que o Piteco falou que não dava para fundar uma nova tribo sem ela.

Quando tudo foi resolvido na tribo dos homens tigre, o chefe até queria que ela ficasse para ser a nova xamã e também sua esposa.

Já Ogra ficou uma típica mulher guerreira, forte e independente, com o corpo atlético e ágil. Ela lutava, massacrava os inimigos e dava conta do recado muito bem, obrigada. Mas seu visual ficou bem diferente dos gibis, um visual bem incrementado de guerreira, cheia de acessórios e não usava aquele dreadlock (cabelo todo enrolado) como os outros. Seus cabelos são curtos e ela até tem uma cicatriz, provavelmente de batalha, no rosto. Na história ainda é amiga de Thuga, embora as duas não tenham interagido.

Outra coisa legal foi que tudo se passou aqui no Brasil, foi tipo uma pré-história brasileira. Apesar de ter aparecido animais místicos e tal, não teve nenhum dinossauro como acontece nos gibis porque na verdade os seres humanos nunca conviveram com eles.

Ao que tudo indica, eles estava num período de transição, quando a agricultura estava prestes a se tornar atividade dominante. O povo de Lem estava a frente das outras tribos porque além de já cultivarem a terra, eles também tinham noções de astronomia, mediam o tempo e usavam o fogo.

As outras duas tribos, de Ur e dos homens-tigre, também são conhecidas nos gibis. Dessa vez, eles ganharam traços mais realistas com cada tribo tendo suas roupas e ornamentos característicos. A tribo de Ur vive em árvores e usa galhos, folhas e frutos para se vestir. Aparentemente são os mais primitivos porque ainda não faziam o uso do fogo. Os Homens-tigre vivem no meio de uma densa floresta e vivem em barracas de pele, se enfeitam com ossos e pele também. Já a tribo de Lem, aparentemente mais avançada, vive em cavernas.

A origem dessas tribos também é contada na história, que tem um ar de lenda e mitologia.

Também tem uma coisa legal: a importância da mulher não é desprezada. Durante muitos anos, quando se falavam da pré-história, essa visão era contaminada pelo machismo dos historiadores. Os “homens das cavernas” eram a figura central como se eles, sozinhos, fizessem tudo enquanto as mulheres só ficavam nas cavernas fofocando e pintando as unhas.

A maior parte das descrições sobre a mulher pré-histórica era baseada na visão que tinham das mulheres no século XIX. Naquela época, elas viviam restritas ao ambiente doméstico e familiar. Logo, os historiadores “deduziram” que as mulheres das cavernas também viviam assim.

Mas com o tempo, percebeu-se que essa visão da mulher era apenas reprodução dos valores patriarcais dominantes. Pesquisas mostram que as mulheres tinham um papel muito mais ativo do que se pensa. Além de cuidar da caça, fazer os cortes e transportar tudo, elas também colocavam comida na mesa através da coleta de folhagens, frutos e raízes comestíveis que acabavam garantindo o sustento de todo um grupo.

Foi com isso que elas também adquiriram grande conhecimento com ervas e raízes que matavam e também curavam. E com esse conhecimento, elas também exerciam a medicina da época, dando chás e ungüentos para curar as pessoas. Com o tempo, esse encargo foi arrancado de nós, assim como todo o resto e fomos jogadas em segundo plano. Mas isso não vem ao caso agora.

Voltando ao assunto, é uma história que vale a pena ler, apesar de eu não saber se é indicado para todas as idades. Procurei e não vi em lugar nenhum a classificação, o que é um erro a meu ver. Então sugiro cuidado para quem tiver menos de 14, 15 anos.

A história não foi feita nos mesmos moldes da TMJ, logo não esperem um mundo perfeito, inocente e cheio de fantasias. Mas podem acreditar que a história é boa e vale a pena ler. 

4 comentários:

  1. Olá Mallagueta tenho 13 anos e fiquei bem curiosa pra ler essa história, queria saber se tem alguma cena imprópria ou se a história é somente um pouco complexa de se ler para menores de 14 anos. Recomenda que alguém da minha idade leia?

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    1. É o seguinte: não tem cenas de sexo ou coisa assim, mas rola um pouco de violência, sangue, luta e um pouquinho de nudez embora não seja explícito. Por exemplo, quando a Ogra está lutando com os homens de Ur, a roupa dela se levanta um pouco, mostrando parte do traseiro dela. Nada de agressivo, vulgar, etc. Mas pode meio que chocar um pouco.

      Bom, claro que nas novelas rola coisa muito pior e nem vou discutir, mas acho que quem tem menos de 14 anos precisa tomar muito cuidado ao ler e se preparar bem. Quem não está acostumado com essas coisas, melhor não ler.

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    2. Obrigada por responder, irei pensar se começo ou não a ler.

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  2. Nossa, deve ser muito boa essa história! Você me passa o site em que leu?

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