Se tem uma coisa que a ed. 61 mostrou bem é como os
estereótipos de gênero são prejudiciais. Mas o que é isso? Vou tentar explicar.
Estereótipo é quando a gente olha para pessoas de um grupo e
diz que elas são de um determinado jeito. Nós damos a esse grupo várias
características como se todos fossem iguais e não levamos em consideração que cada
membro desse grupo é uma pessoa diferente.
É basicamente tentar obrigar todas as pessoas de determinado
grupo a usarem o mesmo número de sapato sem entender que cada um tem o pé de tamanho
diferente.
Por exemplo: quando alguém fala que quem mora na favela é
bandido, isso é um estereótipo porque está colocando todo mundo como farinha do
mesmo saco sem refletir que nas favelas também mora gente honesta e
trabalhadora.
Outro exemplo de estereótipo é quando falam que português é
burro, ou que os japoneses são inteligentes e bons em tecnologia. Deu para
entender?
Estereótipo de gênero é quando determinam regras para homens
e mulheres dizendo como cada um tem que se comportar, vestir, falar, quais papéis
devem desempenhar, etc. Quando falam que toda mulher é delicada e todo homem é
agressivo, isso é também um estereótipo de gênero.
Dizer que toda mulher quer casar e ser mãe também é um
estereótipo, assim como falar que todo homem gosta de cerveja e futebol.
E o que a história da Ed. 61 tem a ver com isso? Essa história
mostra a tentativa da Mônica de se encaixar num estereótipo de gênero onde se
fala que toda garota deve ser delicada, sempre tranqüila e dependente de um príncipe
encantado. Lembram daquele drama que ela fez com o Cascão por causa da bolada? Aquilo
foi uma tentativa de se encaixar naquilo que a sociedade em geral espera das
garotas.
As roupas, atitudes, ver o Toni maltratar seus amigos e não fazer
nada... tudo isso foi uma forma que ela achou de se encaixar no que esperam de uma
garota. Aliás o próprio Toni resumiu bem a mentalidade que as pessoas tem: a de
que mulher não pode ser independente demais ou o homem fica sem função.
Por que isso é prejudicial? A história falou por si só. Ela
foi feita de trouxa pela Carmem e quase caiu na armadilha do Toni. Tudo isso para
se encaixar num estereótipo que não leva em conta a individualidade de cada
pessoa. A Mônica é uma garota forte, mas às vezes sente dificuldade com isso
porque todo mundo diz que as garotas têm que ser de um jeito. Quem não se
encaixa nesse molde é freqüentemente desrespeitado e discriminado.
O objetivo do feminismo é desmontar esses estereótipos de gênero,
dando as pessoas mais liberdade para serem elas mesmas.
Por que uma mulher não pode ser independente e decidida?
“Ain, mas assim o homem fica sem função”
Ué, mas quem disse que a função do homem é proteger e
carregar a mulher nas costas o tempo inteiro? Aliás, se para ser forte, um
homem depende que a mulher seja fraca, então eu sinto pena dele. Só um fraco
depende da fraqueza de outra pessoa para se sentir forte.
Então, gente, antes de dizerem que “mulher tem que ser/fazer
isso” e “homem tem que ser/fazer aquilo”, pensem muito bem se é nisso que
acreditam ou se estão apenas repetindo o que todo mundo fala.
Estereótipos de gênero não são naturais e genéticos. São coisas
moldadas pela cultura e sociedade. Não são verdades supremas e absolutas. Muita
gente sofre, se sente inadequada e deslocada porque não consegue se encaixar
nesses padrões. Lembram do exemplo do sapato? Pois é.
A sociedade nos dá um determinado número de sapato e acha que
temos de calçá-lo de qualquer jeito. E quando não conseguimos nos acostumar com
esse sapato, falam que tem algo de errado com nossos pés.
A Mônica conseguiu se libertar dessa armadilha, mas milhões de
pessoas pelo mundo afora continuam aprisionadas sem nem ao menos saberem. Vivem
a vida inteira tentando se encaixar em algo que não lhes serve só para agradar
a uma sociedade que não os aceitam do jeito que são. Isso não é vida. Pensem
nisso.