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A gata borralheira não vai ao baile
O natal estava chegando, para tristeza de Carmem. Era a primeira vez que
ela ia passar o feriado longe da família e dos amigos. Como eles
estariam? Claro, ninguém devia estar sentindo sua falta. Todos os anos,
as famílias reuniam para dar uma grande festa e todos compareciam. Já
ela e seus pais preferiam passar o natal no exterior, então Carmem nunca
teve a chance de participar dessas festas e naquele momento faria
qualquer coisa para ser convidada.
- Ai... a Cascuda bem que
podia me convidar! – ela falou consigo mesma limpando em volta da grande
arvore de natal que foi montada na sala de estar. Só mais um trambolho
para lhe dar trabalho.
Rafael e Cassandra iam passar o natal com
suas famílias, que viviam em outras cidades. Em último caso, ainda tinha
Marlene, mas ela não ia querer levar uma estranha para passar o natal
na sua casa. Por que faria isso? Ela mesma não faria.
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As
meninas conversavam alegremente sobre a festa de natal e Cascuda não
conseguia deixar de pensar na Carmem. Como ela ia fazer para passar o
natal?
“Aff, acho que tô ficando maluca mesmo.” ela pensou meio
irritada consigo mesma por ainda se preocupar com aquela garota fútil
que mesmo apanhando não era capaz de aprender. Bem... natal era tempo de
boa vontade, então ela resolveu deixar sua birra um pouco de lado e
convidar aquela tonta para passar o natal com os amigos, embora ninguém
ali a conhecesse mais. Quem sabe não seria uma nova chance de refazer as
amizades de um jeito melhor e sem esnobar todo mundo?
- Você tá tão pensativa... – Mônica falou reparando no seu silêncio.
- Ah... é uma amiga minha, sabe... ela não tem ninguém no mundo e vai passar o natal sozinha.
- Que triste! – as outras falaram sentindo pena.
- Teria problema se eu a convidasse pra nossa festa de natal?
(Magali) – Claro que não, por mim tudo bem!
(Mônica)
- Por mim também. Passar o natal sozinha é muito triste. Mas vem cá,
quem é sua amiga mesmo? Nunca te vi andando com gente de fora da turma.
-
É que ela mora em outro bairro... tipo assim, trabalha como empregada e
não pra onde ir. É uma pobre coitada, não tem família e nem parente.
– Ai que dó! – todas falaram ao mesmo tempo compadecidas com aquela situação triste.
- Mas tem uma coisa. Er... tipo assim... vocês lembram daquela loirinha do outro dia?
Mônica e Magali fizeram que sim com a cabeça.
- Bem... é ela.
(Mônica) - Quêeee? Você é mesmo amiga dela?
(Magali) – Ah, sei lá, ela me pareceu meio doida!
-
Doida não. É que ela tava desorientada, perdida, não tinha nem onde
morar e por isso ficou daquele jeito. Agora que arrumou um emprego, tudo
ficou bem.
(Marina) – Que dó, viu? Eu também ficaria daquele jeito se não vivesse na rua e não tivesse onde morar!
(Mônica) – Tem razão. Ela pode vir a nossa festa sim, não tem problema.
- Obrigada, meninas! Vai fazer muito bem pra ela, coitadinha!
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Rebeca
arrumava as malas para a viagem que ela e o marido pretendiam fazer no
natal. Mesmo o dinheiro estando apertado, eles não pretendiam passar o
feriado trancados dentro de casa.
- Não exagere, querida. Ficaremos só três dias fora.
-
Prevenir nunca é demais! Já pensou se eu resolvo usar uma roupa que
ficou em casa? Ah, e a festa do mês que vem? Resolveu mais alguma coisa?
-
Sim. A propaganda está feita e sei que muitos virão. Agora temos que
pesquisar os preços e contratar um bufê que não saia caro demais.
- Sempre sai caro! Teremos que pechinchar muito!
-
Sim, mas precisamos ficar atentos a qualidade. Lembre-se de que pessoas
da alta sociedade freqüentarão a festa. Não podemos fazer feio. E ainda
tem o jantar.
- Sei, e precisa ser chique e refinado!
- Exato! Também tem as bebidas e precisamos fazer um show para entreter os convidados.
- Essa festa vai sair muito cara!
-
É um investimento, não se preocupe. Receberemos tudo de volta com juros
e acréscimos. Então você poderá comprar aquele colar de safiras que
sempre quis!
- Oh, querido, você é tão romântico! – ela falou enchendo o rosto do marido de beijos. Jóias sempre a deixavam feliz.
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Era
véspera de natal. O casal Aguiar já tinha ido fazer sua viagem e depois
que eles saíram, Cassandra e Rafael também tomaram seus rumos para
aproveitarem um tempo livre com suas famílias. Marlene também se
arrumava para sair, assim como Carmem.
- Então você vai passar o natal com seus amigos?
- Não é demais? Os pais deles vão dar uma festona e todo mundo foi convidado.
- Ah, que bom! Assim você não passa o natal sozinha. Aqui, tome. – ela lhe estendeu um pequeno embrulho colorido.
- O que é?
- Uma lembrancinha.
- Pra mim? Mas eu não te dei nada!
- Sei que sua situação está complicada no momento. Não tem problema.
Carmem aceitou o presente e viu que era um estojo de maquiagem.
-
Ai meu santo! Eu tava mesmo precisando disso! – ela exclamou alegre e
nem se importou com o fato de que era de uma marca desconhecida. –
Obrigada, adorei!
- De nada, menina. Agora deixa eu ir porque ainda tenho muita coisa para fazer hoje.
- Eu também vou indo. Não quero ficar aqui sozinha não!
Antes
de ir embora, Marlene deu a Carmem uma cópia das chaves caso ela
voltasse antes de todos. Assim não ficaria presa na rua. Após se
despedirem e desejar feliz natal, cada uma tomou seu rumo.
Durante
a viagem de ônibus, Carmem acabou se sentindo preocupada. Como a turma
ia tratá-la? Será que a consideravam louca por causa do vexame daquele
dia? O que iam pensar se a visse usando as roupas da Cascuda? Um mal
estar foi tomando conta dela a medida que o ônibus se aproximava do
Limoeiro.
Agora ela era pobre, empregada doméstica, não tinha
dinheiro e nem família. Ela mal tinha roupas para vestir! Com certeza
iam lhe humilhar e maltratar. Ou então olhá-la com pena, como se fosse
uma pobre coitada. Tudo bem que sua situação não era nada boa, mas ela
também não queria a piedade de ninguém.
Carmem imaginou como
seria a festa, com todos trocando presentes enquanto ela ficava num
canto olhando tudo e chupando o dedo. Os filhos abraçando os pais,
amigos se cumprimentando, casais se beijando... e ela? Como ia ficar?
Para todos os efeitos, ninguém ali a conhecia, então seria como estar no
meio de desconhecidos. E como ver todas as famílias reunidas sem chorar
de saudades da sua?
O ônibus chegou ao ponto e ela desceu com a cabeça fervilhando com aquelas preocupações.
- E aí, gatinha? É nova no bairro? – uma voz falou e ela viu Toni encostado num muro e a olhando com cara de safado.
- Er... oi... eu estou indo pra casa da Cascuda...
- Sério mesmo? Então você é a amiguinha pobre que ela vai levar pra festa? Rapaz, não sabia que você era tão gata assim!
Se ele tivesse lhe dado um soco no estômago, não teria doído tanto.
- A-amiguinha pobre? Como assim?
- Tipo assim, ela ficou falando de uma pobre coitada sem ninguém no mundo e pediu pro pessoal deixá-la ir a festa!
- A Cascuda falou mesmo isso?
- Deixa quieto, boneca. Se você tá sozinha, chega mais que eu te faço companhia nesse natal! Eu tô cheio de amor pra dar!
- Er... eu preciso ir... a Cascuda tá me esperando e não posso atrasar! – ela falou se esforçando para não chorar.
- Tranqüilo. A gente se vê na festa!
Era
muita humilhação de uma vez só. Primeiro porque o Toni jamais falou
assim com ela antes. Afinal, ela era a garota rica, popular e com um pai
influente. Ele olhava e de vez em quando gracejava, mas nunca foi
desrespeitoso. Segundo porque ela se sentiu um tremendo lixo ao saber da
forma como Cascuda estava falando dela para a turma.
Então seus
receios estavam certos! Todos iam lhe tratar como uma pobre coitada.
Carmem não sabia se conseguiria suportar aqueles olhares compadecidos,
perguntas inconvenientes sobre sua vida particular e talvez até gente se
oferecendo para lhe dar roupas usadas, porém “limpinhas”.
Definitivamente ela não nasceu para ter aquela vida.
- Bom que você chegou! – Cascuda falou ao atender a porta. – Vamos lá pra padaria do seu Quinzão que tem muita coisa pra fazer.
Ela colocou algumas sacolas em suas mãos e foi andando na frente. Carmem foi atrás e tentou falar.
- Cascuda, o que o pessoal acha de você me levar pra festa?
- Eles não se importam. Você conhece todo mundo e sabe que são gente boa.
- Sim, mas... como você falou de mim pra eles?
- A verdade. Que é empregada doméstica, não tem família e eu não queria que você passasse o natal sozinha.
Carmem parou de andar e apertou os lábios tentando conter o choro.
- Sei... uma pobre coitada sem ninguém no mundo, né?
Cascuda também parou e olhou para trás.
- Encontrei o Toni agora pouco e ele me contou o que você andou falando de mim pro pessoal. Precisava disso?
Ela ficou sem jeito de negar, já que tinha mesmo usado aquele termo ao falar da Carmem. Como aquele Toni era linguarudo!
- Olha, eu precisava contar uma historinha triste pra convencer o pessoal a te deixar ir na festa!
- Você disse que são gente boa! Não precisava ter falado de mim desse jeito!
A outra perdeu a paciência.
-
E por acaso falei mentira? Carmem, sua situação está terrível mesmo!
Sei que você tem pais, mas agora é como se não tivesse ninguém! Você não
tem dinheiro, nem família, nem casa pra morar! E se não fosse por mim,
não teria nem roupa pra vestir!
- Vai jogar na cara, é? Me dá essas roupinhas cafonas e depois me humilha?
- Se não gosta, então tira e me devolve, sua mal agradecida!
- Mal agradecida? Você me trata desse jeito e eu tenho que agradecer?
-
Sabe de uma coisa? Acho que você devia aprender a ter mais humildade!
Tudo isso aconteceu porque você era muito metida e arrogante!
- Agora tá falando que eu mereço passar por isso?
-
É, merece sim. Esqueceu do jeito que você vem tratando todo mundo?
Devia agradecer por te convidar pra nossa festa, porque nem isso tá
merecendo agora!
- Isso, chuta bastante! Agora eu tô caída, né?
Cascuda voltou a andar.
-
Olha, pára com esse chilique porque não temos tempo pra isso. Vou te
levar a padaria do seu Quinzão pra você ajudar nossas mães com os
preparativos. E durante a festa tem que ir servindo os convidados
também, distribuir os salgadinhos, ajudar na cozinha...
- Como é?
- Depois da festa, também vai ter que ajudar a limpar tudo.
- Peraí! Você tá me convidou à festa pra trabalhar?
-
Ué, você tem que contribuir com alguma coisa, né? Todas as famílias
estão dando comida, bebida, decoração, uns estão cozinhando e preparando
as coisas... você também tem que fazer sua parte.
- Você não me falou nada disso no telefone!
- Que diferença faz?
- Pra mim faz muita!
Aquilo estava se alongando demais e Cascuda não estava com a menor paciência com os ataques de birra daquela garotinha mimada.
-
Escuta aqui, garota! Ninguém é obrigado a tolerar suas frescuras. Se
quiser ir a festa, pode vir. Se não, dá meia volta e vai embora. Prometo
que não vou sentir sua falta!
Certo, ela tinha chegado ao seu
limite. Toda aquela humilhação, Cascuda lhe pisando sem consideração
alguma, ninguém se importava com seu sofrimento... tudo aquilo acabou
explodindo de uma vez só fazendo com que Carmem atirasse as sacolas para
longe.
- Ei! Você ficou louca? Tinha coisa de quebrar naquelas sacolas!
- Não tô nem aí! Você não tem o direito de me tratar desse jeito, ouviu?
- Olha aqui...
-
Não! Olha aqui você que fica querendo me dar liçãozinha de moral, mas
tá agindo exatamente do mesmo jeito que eu! No meu caso, eu sou assim,
mas você tá fazendo de vingança!
- Não sei do que você tá falando!
- Claro que não sabe, senhora perfeita superior! Quer saber? Vai comemorar seu natal que eu vou embora!
- Vai mesmo, é? Quer passar o natal sozinha?
- Melhor que ser tratada feito um cachorro!
- Então vai mesmo, ninguém precisa de você aqui!
- Eu também não preciso de ninguém, tá legal? – Carmem gritou chorando de raiva e humilhação.
- Ah, é? Se vira sozinha e não conte comigo pra nada!
- Ótimo!
- Ótimo!
As
duas seguiram direções opostas e Carmem voltou para o ponto pisando
duro e praguejando de raiva. Ainda bem que Marlene tinha lhe dado a
cópia da chave, porque pelo visto ela ia passar o natal sozinha trancada
naquela mansão.
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Pela
bola de cristal, ela viu as duas tomando direções opostas, cada uma
mais zangada do que a outra. Ela deu um close no rosto da Cascuda e
falou para si mesma.
- Pelo visto, aquela garota mimada não é a única a precisar de lições por aqui...
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Cinderela às avessas - capítulo 17: A gata borralheira não vai ao baile
by
Mally Pepper
on
21:42
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Amando! Amando! Será que a Cascuda também vai receber um castigo? ou alguma coisa parecida? Pela primeira vez fiquei com dó da Carmem
ResponderExcluirAmando! Amando! Será que a Cascuda também vai receber um castigo? ou alguma coisa parecida? Pela primeira vez fiquei com dó da Carmem
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