terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Cinderela às avessas - Capítulo 10: A vida se tornou muito dura com ela

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A vida se tornou muito dura com ela

O som do despertador não foi suficiente para acordá-la e foi preciso que Cassandra lhe cutucasse com a ponta do pé para tirá-la daquele coma profundo.

- Acorda, princesinha. Vai ficar aí o dia inteiro?
- Ai, credo! Que horas são?
- Cinco e meia da manhã. A gente tem que tomar banho e começar a trabalhar as seis. Não leu a lista de tarefas que te dei ontem?
- Aquela coisa enorme? – Carmem perguntou levantando com dificuldade. Aquele colchonete era fino demais e seu corpo doía. – Já vi que vou ter de limpar a casa inteira.
- Não reclame. Eu te dei a metade das tarefas, é muito justo.
- E a Marlene?
- Ela é cozinheira. Nós somos as empregadas. Anda logo.

Cassandra pegou sua toalha e sabonete para tomar banho e Carmem se deu conta de que não tinha nada. Ela teve que dormir usando a mesma blusa com a qual tinha sido expulsa da sua casa e estava sem toalha, sabonete, nem mesmo uma roupa intima limpa para vestir.

- Er... você pode emprestar uma toalha? É que eu não tenho nada e...
- E eu com isso? Cada um com seus problemas. Enxuga com sua blusa mesmo.
- Mas só tenho isso pra vestir!

A outra deu de ombros e foi ao banheiro sem se importar com as dificuldades da colega de quarto.

- Aqui, pode ficar com essa. – Marlene falou lhe estendendo uma toalha velha que os patrões tinham rejeitado e estava prestes a virar pano de chão.
- Obrigada. Que coisa, por que a Cassandra é tão má comigo?
- Ignore. Quanto mais você se importar, pior. Vou ver se falo com ela depois.

Quando chegou sua vez de tomar banho, Carmem viu que também não tinha sabonete e teve que se virar usando sabão de lavar roupa. Aquilo tinha um cheirinho meio desagradável e deixou sua pele toda ressecada.

Na cozinha, Marlene fazia o café da manhã enquanto Carmem esperava para servir a mesa. Havia brioches, bolos, biscoitos e algumas frutas. Para os empregados, apenas um pão francês para cada um acompanhado por uma xícara de café. Nem leite eles podiam tomar.

Após servir os patrões e tomar seu café, ela viu que não dava para evitar. Tinha que colocar a mão na massa de qualquer jeito e sentiu um grande desânimo quando viu a lista de tarefas que Cassandra tinha lhe dado. Algumas coisas tinham que ser feitas todos os dias. Outras a cada semana ou quinzena. A primeira tarefa era limpar o banheiro da suíte de casal.

- Ai que nojo! – ela exclamou quando entrou no banheiro e se perguntou há quantos dias aquele lugar não era limpo. A grande banheira de hidromassagem estava cheia com uma água meio escura, espuma e esponjas.

O vaso exalava um cheiro ruim e tinha um pouco de crosta ao redor da água. Será que aqueles dois não sabiam dar descarga? Tinha alguns pedaços de papel higiênico no chão, cabelo no ralo da pia e do banheiro, o espelho estava sujo com respingos de água que tinham secado e os metais das torneiras estavam embaçados e sem brilho. Era tanta coisa para fazer ali que ela nem sabia por onde começar!

- Deixa eu ver... acho que vou esvaziar essa banheira. Tá nojento demais! – outro problema. Como enfiar as mãos naquela água suja?

Foi preciso tomar coragem, prender a respiração e conter a ânsia de vômito para colocar a mão dentro da água e tirar a tampa do ralo. A água foi descendo, deixando um rastro de sujeira nas bordas. Carmem tentou limpar tudo com um pano e acabou escorregando e caindo lá dentro no meio da sujeira. Um pote de sais de banho estava aberto e acabou caindo na banheira, despejando todo seu conteúdo e misturando tudo com o resto da água.

- Droga, por que essas coisas acontecem comigo?

O maior desafio de todos, no entanto, foi lavar o vaso. Como ela ia limpar aquela coisa infectada? Cassandra foi bem taxativa ao dizer que naquela casa, a patroa exigia que enfiassem as mãos no vaso para que a limpeza fosse bem feita. Nada de usar escova.

- Credo, que nojo! – ela deu a descarga para ver se melhorava a situação. A água ficou limpa, mas a sujeira continuou impregnando a louça, especialmente algumas coisinhas de cor marrom.

Após cinco minutos de concentração, ela pegou a esponja e aproximou lentamente sua mão trêmula até a ponta dos seus dedos encostarem na água. Ela afastou rapidamente choramingando e sacudindo os dedos com força.

- Ai que nojo! Que nojo! Que nojo! – após várias tentativas, ela finalmente conseguiu fazer o serviço. Esse foi o maior trauma de toda sua vida.

Depois do banheiro, ela teve que aspirar o pó da casa. Como se mexia com o aspirador mesmo? Ela se lembrava muito vagamente de ter visto uma empregada usando e resolveu arriscar.

- Até que não é tão ruim assim. – ela falou aspirando o tapete. Quando foi aspirar perto da cortina, o aspirador acabou sugando o tecido, rasgando-o no meio. Carmem ainda tentou salvar alguma coisa e acabou tropeçando numa mesa e derrubando um vaso e um cinzeiro. – Essa não! Será que eles vão dar falta?

Ela também precisou tirar o pó dos móveis, limpar os vidros das janelas e também o sofá da sala que chegava a doer os olhos de tão branco. Só que ao passar o pano no sofá, ela acabou deixando um rastro de sujeira.

- Grrrr! Essa não! O que faço agora? O que faço? Ah, já sei! – ela colocou uma almofada em cima da mancha e se deu por satisfeita. Quem disse que ela não era capaz de pensar?

Horas depois, ela estava exausta e ainda nem eram onze da manhã.

- Como foi o primeiro dia? – Marlene perguntou brincalhona.
- Ai, foi horrível! Acredita que eu precisei enfiar a mão dentro do vaso pra limpar tudo? Que nojo!
- Por que não usou a escova primeiro? Joga um pouco de sabão, esfrega bem com a escova e depois termina o resto com as mãos com o vaso já quase limpo.
- Mas a Cassandra falou que... que... Grrrrr! Que ódio, ela fez de novo! Eu vou agora mesmo dar na cara dela e...

Marlene a segurou pelo braço e disse.

- Nada disso. Se brigar com ela, você vai apanhar feio e ainda poderá perder o emprego. Tenta ir levando que daqui uns dias ela cansa e te deixa em paz.

Ela teve que apertar os lábios com força para não dar um grito de raiva.

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Após mais uma consulta, Berenice levou chá com biscoitos para Creuzodete.

- Faz uma semana que aquela moça está trabalhando. Como será que andam as coisas?
- Imagino que deve estar sendo muito difícil para ela, mas com o tempo vai aprender.
- Espero que sim. Temo que eles a mandem embora. Ela não sabe fazer nada!
- Farei com que isso não aconteça. Ela não pode ficar nas ruas, é perigoso. Tenho que garantir sua segurança.
- Quando irá falar com ela?
- Deixarei passar mais alguns dias. Ela ainda tem muito que aprender.
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Os dias foram passando e as coisas não estavam sendo nada fáceis para Carmem. E Cassandra não colaborava em nada. Por que ela lhe tratava tão mal daquele jeito? Como se isso não abastasse, aquela megera ainda sabotava seu serviço piorando mais ainda o que já era ruim e mal feito.

Mais e mais broncas da sua patroa enquanto ela tinha que fazer tudo de novo. E Rebeca não poupava nos xingamentos quando a mandava refazer o serviço.

- Sua porca, olhe como ficou meu tapete!
- Que nojo, limpe esse vaso direito!
- Por acaso você nasceu em algum chiqueiro?
- Céus, como você é estúpida! Não entendeu nada do que eu disse!

Era sempre assim quando a patroa lhe reprimia. A vida naquela casa era mesmo horrível.

Como ainda não tinha recebido salário, ela era forçada a se virar como podia usando sua blusa como camisola, se virando com apenas uma calcinha e sutiã, tomando banho com sabão de lavar roupa e se enxugando com uma toalha velha. Cassandra tinha hidratante e produtos de beleza, mas não lhe emprestava nada.

Sua pele tinha ressecado, os cabelos pareciam palha de milho, as unhas estavam quebradas e alguns calos começaram a despontar em suas mãos.

De noite, deitada em seu colchonete, ela lembrava da vida boa que tinha sendo mimada pelos seus pais e servida pelas empregadas. Em sua casa, ela podia fazer o que quisesse e não havia restrição para nada. Podia ver televisão sem problemas, pois tinha uma só para ela em seu quarto. Tudo era seu sem ter que dividir com ninguém. Nada lhe faltava e a vida era ótima. Por que aquilo estava acontecendo?

“Será que meus pais não vão me buscar nunca mais? Não... não pode ser!” ela pensou com os olhos cheios de lágrimas. Então era isso. Eles deram um jeito de colocá-la para fora de casa. A essa altura, ela deve ter sido deserdada e não tinha direito a mais nada. Tudo por causa daquele desfile idiota! Por que ela teve que fazer aquela compra absurda?

Antes ela tivesse obedecido seus pais. Assim ela continuaria com a vida boa de sempre. Mas não, ela teve que enlouquecer por causa de algumas roupas e agora estava ali, dormindo em um colchonete desconfortável e fazendo trabalho semi-escravo.

“Eu quero voltar pra casa! Não agüento mais essa vida!” foi seu pensamento antes de dormir. 
 

3 comentários:

  1. Estou adorando a fanfic! E ralando até agora pra desvender o mistério "Cascuda-sabe-de-tudo". E é tudo tão real que dá raiva da Cassandra e da Sra. e Sr. Aguiar. A Marlene e o Rafael são bem legais! E, mesmo assim, a Carmem até que merecia isso, viu? #TeamCreuzodete

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  2. Será que a Carmem vai conseguir ser uma pessoa mais humilde (pelo menos no jeito de ser)? Bem, acho que falta muito.

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  3. Essa Cassandra é tão malvada com a Carmem que até dá um pouquinho de dó, essa Sra. e o seu marido são tão metidos que nem a Carmem antes. E ela ainda reclama sem motivo, só tirando a parte de dormir num colchonete duro e ela ter de usar a mesma calcinha todos os dias ARGHH!!!

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