Ler no Nyah
Ler no AnimeSpirit
A vida se tornou muito dura com ela
O
som do despertador não foi suficiente para acordá-la e foi preciso que
Cassandra lhe cutucasse com a ponta do pé para tirá-la daquele coma
profundo.
- Acorda, princesinha. Vai ficar aí o dia inteiro?
- Ai, credo! Que horas são?
- Cinco e meia da manhã. A gente tem que tomar banho e começar a trabalhar as seis. Não leu a lista de tarefas que te dei ontem?
-
Aquela coisa enorme? – Carmem perguntou levantando com dificuldade.
Aquele colchonete era fino demais e seu corpo doía. – Já vi que vou ter
de limpar a casa inteira.
- Não reclame. Eu te dei a metade das tarefas, é muito justo.
- E a Marlene?
- Ela é cozinheira. Nós somos as empregadas. Anda logo.
Cassandra
pegou sua toalha e sabonete para tomar banho e Carmem se deu conta de
que não tinha nada. Ela teve que dormir usando a mesma blusa com a qual
tinha sido expulsa da sua casa e estava sem toalha, sabonete, nem mesmo
uma roupa intima limpa para vestir.
- Er... você pode emprestar uma toalha? É que eu não tenho nada e...
- E eu com isso? Cada um com seus problemas. Enxuga com sua blusa mesmo.
- Mas só tenho isso pra vestir!
A outra deu de ombros e foi ao banheiro sem se importar com as dificuldades da colega de quarto.
-
Aqui, pode ficar com essa. – Marlene falou lhe estendendo uma toalha
velha que os patrões tinham rejeitado e estava prestes a virar pano de
chão.
- Obrigada. Que coisa, por que a Cassandra é tão má comigo?
- Ignore. Quanto mais você se importar, pior. Vou ver se falo com ela depois.
Quando
chegou sua vez de tomar banho, Carmem viu que também não tinha sabonete
e teve que se virar usando sabão de lavar roupa. Aquilo tinha um
cheirinho meio desagradável e deixou sua pele toda ressecada.
Na
cozinha, Marlene fazia o café da manhã enquanto Carmem esperava para
servir a mesa. Havia brioches, bolos, biscoitos e algumas frutas. Para
os empregados, apenas um pão francês para cada um acompanhado por uma
xícara de café. Nem leite eles podiam tomar.
Após servir os
patrões e tomar seu café, ela viu que não dava para evitar. Tinha que
colocar a mão na massa de qualquer jeito e sentiu um grande desânimo
quando viu a lista de tarefas que Cassandra tinha lhe dado. Algumas
coisas tinham que ser feitas todos os dias. Outras a cada semana ou
quinzena. A primeira tarefa era limpar o banheiro da suíte de casal.
-
Ai que nojo! – ela exclamou quando entrou no banheiro e se perguntou há
quantos dias aquele lugar não era limpo. A grande banheira de
hidromassagem estava cheia com uma água meio escura, espuma e esponjas.
O
vaso exalava um cheiro ruim e tinha um pouco de crosta ao redor da
água. Será que aqueles dois não sabiam dar descarga? Tinha alguns
pedaços de papel higiênico no chão, cabelo no ralo da pia e do banheiro,
o espelho estava sujo com respingos de água que tinham secado e os
metais das torneiras estavam embaçados e sem brilho. Era tanta coisa
para fazer ali que ela nem sabia por onde começar!
- Deixa eu
ver... acho que vou esvaziar essa banheira. Tá nojento demais! – outro
problema. Como enfiar as mãos naquela água suja?
Foi preciso
tomar coragem, prender a respiração e conter a ânsia de vômito para
colocar a mão dentro da água e tirar a tampa do ralo. A água foi
descendo, deixando um rastro de sujeira nas bordas. Carmem tentou limpar
tudo com um pano e acabou escorregando e caindo lá dentro no meio da
sujeira. Um pote de sais de banho estava aberto e acabou caindo na
banheira, despejando todo seu conteúdo e misturando tudo com o resto da
água.
- Droga, por que essas coisas acontecem comigo?
O
maior desafio de todos, no entanto, foi lavar o vaso. Como ela ia limpar
aquela coisa infectada? Cassandra foi bem taxativa ao dizer que naquela
casa, a patroa exigia que enfiassem as mãos no vaso para que a limpeza
fosse bem feita. Nada de usar escova.
- Credo, que nojo! – ela
deu a descarga para ver se melhorava a situação. A água ficou limpa, mas
a sujeira continuou impregnando a louça, especialmente algumas
coisinhas de cor marrom.
Após cinco minutos de concentração, ela
pegou a esponja e aproximou lentamente sua mão trêmula até a ponta dos
seus dedos encostarem na água. Ela afastou rapidamente choramingando e
sacudindo os dedos com força.
- Ai que nojo! Que nojo! Que nojo!
– após várias tentativas, ela finalmente conseguiu fazer o serviço.
Esse foi o maior trauma de toda sua vida.
Depois do banheiro, ela
teve que aspirar o pó da casa. Como se mexia com o aspirador mesmo? Ela
se lembrava muito vagamente de ter visto uma empregada usando e
resolveu arriscar.
- Até que não é tão ruim assim. – ela falou
aspirando o tapete. Quando foi aspirar perto da cortina, o aspirador
acabou sugando o tecido, rasgando-o no meio. Carmem ainda tentou salvar
alguma coisa e acabou tropeçando numa mesa e derrubando um vaso e um
cinzeiro. – Essa não! Será que eles vão dar falta?
Ela também
precisou tirar o pó dos móveis, limpar os vidros das janelas e também o
sofá da sala que chegava a doer os olhos de tão branco. Só que ao passar
o pano no sofá, ela acabou deixando um rastro de sujeira.
-
Grrrr! Essa não! O que faço agora? O que faço? Ah, já sei! – ela colocou
uma almofada em cima da mancha e se deu por satisfeita. Quem disse que
ela não era capaz de pensar?
Horas depois, ela estava exausta e ainda nem eram onze da manhã.
- Como foi o primeiro dia? – Marlene perguntou brincalhona.
- Ai, foi horrível! Acredita que eu precisei enfiar a mão dentro do vaso pra limpar tudo? Que nojo!
-
Por que não usou a escova primeiro? Joga um pouco de sabão, esfrega bem
com a escova e depois termina o resto com as mãos com o vaso já quase
limpo.
- Mas a Cassandra falou que... que... Grrrrr! Que ódio, ela fez de novo! Eu vou agora mesmo dar na cara dela e...
Marlene a segurou pelo braço e disse.
-
Nada disso. Se brigar com ela, você vai apanhar feio e ainda poderá
perder o emprego. Tenta ir levando que daqui uns dias ela cansa e te
deixa em paz.
Ela teve que apertar os lábios com força para não dar um grito de raiva.
__________________________________________________________
Após mais uma consulta, Berenice levou chá com biscoitos para Creuzodete.
- Faz uma semana que aquela moça está trabalhando. Como será que andam as coisas?
- Imagino que deve estar sendo muito difícil para ela, mas com o tempo vai aprender.
- Espero que sim. Temo que eles a mandem embora. Ela não sabe fazer nada!
- Farei com que isso não aconteça. Ela não pode ficar nas ruas, é perigoso. Tenho que garantir sua segurança.
- Quando irá falar com ela?
- Deixarei passar mais alguns dias. Ela ainda tem muito que aprender.
__________________________________________________________
Os
dias foram passando e as coisas não estavam sendo nada fáceis para
Carmem. E Cassandra não colaborava em nada. Por que ela lhe tratava tão
mal daquele jeito? Como se isso não abastasse, aquela megera ainda
sabotava seu serviço piorando mais ainda o que já era ruim e mal feito.
Mais
e mais broncas da sua patroa enquanto ela tinha que fazer tudo de novo.
E Rebeca não poupava nos xingamentos quando a mandava refazer o
serviço.
- Sua porca, olhe como ficou meu tapete!
- Que nojo, limpe esse vaso direito!
- Por acaso você nasceu em algum chiqueiro?
- Céus, como você é estúpida! Não entendeu nada do que eu disse!
Era sempre assim quando a patroa lhe reprimia. A vida naquela casa era mesmo horrível.
Como
ainda não tinha recebido salário, ela era forçada a se virar como podia
usando sua blusa como camisola, se virando com apenas uma calcinha e
sutiã, tomando banho com sabão de lavar roupa e se enxugando com uma
toalha velha. Cassandra tinha hidratante e produtos de beleza, mas não
lhe emprestava nada.
Sua pele tinha ressecado, os cabelos
pareciam palha de milho, as unhas estavam quebradas e alguns calos
começaram a despontar em suas mãos.
De noite, deitada em seu
colchonete, ela lembrava da vida boa que tinha sendo mimada pelos seus
pais e servida pelas empregadas. Em sua casa, ela podia fazer o que
quisesse e não havia restrição para nada. Podia ver televisão sem
problemas, pois tinha uma só para ela em seu quarto. Tudo era seu sem
ter que dividir com ninguém. Nada lhe faltava e a vida era ótima. Por
que aquilo estava acontecendo?
“Será que meus pais não vão me
buscar nunca mais? Não... não pode ser!” ela pensou com os olhos cheios
de lágrimas. Então era isso. Eles deram um jeito de colocá-la para fora
de casa. A essa altura, ela deve ter sido deserdada e não tinha direito a
mais nada. Tudo por causa daquele desfile idiota! Por que ela teve que
fazer aquela compra absurda?
Antes ela tivesse obedecido seus
pais. Assim ela continuaria com a vida boa de sempre. Mas não, ela teve
que enlouquecer por causa de algumas roupas e agora estava ali, dormindo
em um colchonete desconfortável e fazendo trabalho semi-escravo.
“Eu quero voltar pra casa! Não agüento mais essa vida!” foi seu pensamento antes de dormir.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Cinderela às avessas - Capítulo 10: A vida se tornou muito dura com ela
by
Mally Pepper
on
19:16
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Estou adorando a fanfic! E ralando até agora pra desvender o mistério "Cascuda-sabe-de-tudo". E é tudo tão real que dá raiva da Cassandra e da Sra. e Sr. Aguiar. A Marlene e o Rafael são bem legais! E, mesmo assim, a Carmem até que merecia isso, viu? #TeamCreuzodete
ResponderExcluirSerá que a Carmem vai conseguir ser uma pessoa mais humilde (pelo menos no jeito de ser)? Bem, acho que falta muito.
ResponderExcluirEssa Cassandra é tão malvada com a Carmem que até dá um pouquinho de dó, essa Sra. e o seu marido são tão metidos que nem a Carmem antes. E ela ainda reclama sem motivo, só tirando a parte de dormir num colchonete duro e ela ter de usar a mesma calcinha todos os dias ARGHH!!!
ResponderExcluir