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Por um instante, ela se enche de esperança
O casal tomava uma xícara de café enquanto lia os folhetos da
instituição Criança Feliz. E aquelas crianças pareciam mesmo felizes.
Todas sorridentes, bem vestidas, penteadas e na escola. Tratava-se de
uma instituição que tirava crianças ruas para lhes dar um futuro
decente.
- Veja, querida! Aqui diz que eles têm creche, escola e até posto de saúde!
- Também tem oficina de arte. Olhe esses trabalhinhos, que coisa fofa! Eles estão fazendo um excelente trabalho!
Sr.
e Sra. Frufru olhavam os folhetos que o casal Aguiar tinha lhes enviado
com um convite para jantar e estudar a proposta de organizarem uma
linda festa para angariar fundos e ajudar a instituição. Eles planejavam
dar a festa no fim de janeiro e assim não atrapalhar quem tivesse
compromissos no natal e ano novo. Parecia uma idéia muito boa.
-
Se é por uma boa causa, acho que devemos ajudar. Às vezes fico triste
por não termos filhos. Uma criança em casa faz tanta falta! – ela
suspirou com um olhar distante.
- Sei disso. Parece que falta alguma
coisa. – ele murmurou para si mesmo. – Bem, hora de fazer nossa parte!
Vamos participar dessa festa sim e avisar nossos amigos!
- Que bom! Se tudo der certo, eles vão conseguir arrecadar muito dinheiro para ajudar as criancinhas! Quando será o jantar?
- Depois de amanhã. Não podemos recusar.
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-
Grrrr! Era só o que faltava! – Cascuda bradou ao chegar na tenda da
Madame Creuzodete só para ver um aviso de que ela tinha viajado e não
tinha data certa para voltar. – Aposto que ela sabe de alguma coisa e
fugiu pra não me dar nenhuma resposta. E agora, o que eu faço?
Ela
fez o caminho de volta tentando pensar no que fazer. Talvez falar com o
Franja? Essas alterações no espaço-tempo eram especialidade dele.
- É isso mesmo que eu vou fazer! Que boa idéia! – ela discou o numero do Franja e caiu na caixa de mensagens.
“Aqui
é o Franja. No momento, estou numa viagem organizada pelo museu e devo
voltar no dia vinte de dezembro. Deixe seu recado após o sinal que eu
retornarei.”
Antes que o sinal fosse dado, ela desligou o celular
frustrada. Com quem mais daria para falar? Ao lembrar de que Carmem
tinha dito qualquer coisa sobre estrela mágica, imediatamente ela pensou
no Nimbus e correu até a casa dele.
- Estrela que realiza desejos? Achei que fosse só lenda. – ele respondeu após ouvir as explicações da amiga.
- Então você não sabe nada a respeito?
-
A Ramona deve saber. – DC falou batendo no ar com suas baquetas e
ouvindo música nos fones de ouvido. – Ela manja de cada coisa maneira!
- Como sabe disso? – Nimbus perguntou encarando-o.
- Eu sempre jogo xadrez com ela e a gente conversa muito, ué!
- Ah, é? Pois não quero mais saber de você andando por aí com ela não, que folga é essa? Achei que gostasse da Mônica!
- Não quer que eu ande com ela? Pois agora sim eu não desgrudo mais!
- Grrrr! Seu folgado!
Foi com muito custo que ela conseguiu interromper a discussão temporariamente para pegar o telefone da Ramona.
- Alô?
- Ramona? Aqui quem fala é Cascuda, amiga da Mônica. Não sei se você lembra de mim...
- Claro que eu lembro!
Ela explicou seu problema rapidamente enquanto a outra ouvia respondendo apenas com monossílabos. No fim, a bruxinha respondeu.
-
Acho que é melhor conversar pessoalmente, mas hoje não vai dar porque
minha mãe tá pegando no meu pé. Dá pra ser domingo? Eu posso ir até sua
casa.
- Claro que sim, muito obrigada! Vou te dar o endereço!
Tudo
combinado, ela desligou o telefone e telefonou para seu primo pedindo
para que ele levasse Carmem até sua casa quando fosse visitá-la. Ele
concordou sem problemas e ela se sentiu melhor ao ver que as coisas
estavam indo bem. Faltava apenas torcer para que Ramona pudesse dar uma
solução para aquele problema.
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Carmem
e Cassandra tiveram trabalho para limpar tudo e deixar ao gosto
exigente da patroa. Rebeca acompanhava o serviço como se fosse um feitor
de escravos, dando ordens e recriminando por qualquer erro. Só faltava o
chicote na mão.
- Hoje teremos um jantar muito importante, então tudo deve estar perfeito! Se alguma coisa der errada, vocês estarão despedidas!
Carmem
corria de um lado para outro tentando fazer o melhor possível. Quais
seriam os convidados importantes para o jantar daquela noite? Ela até
tinha ficado curiosa, mas não teve coragem para perguntar. O jeito foi
trabalhar e manter a boca fechada.
Marlene tinha sido
encarregada de fazer um jantar refinado com ingredientes caros e de
primeira qualidade. Quando o serviço da sala foi terminado, Rebeca
chamou Carmem a parte.
- Seu outro uniforme está limpo?
- S-sim senhora.
-
Ótimo. Hoje vou dar permissão para você tomar outro banho, troque de
roupa e arrume bem esse cabelo. Você irá servir a mesa e não quero que
meus convidados se assustem com uma empregada suja e mal vestida.
Cassandra irá ajudar Marlene no jantar hoje.
Carmem tremeu de medo com o olhar de pura raiva que a colega tinha lhe jogado quando foi para a cozinha.
- E a Carmem? – Marlene perguntou.
- Foi tomar um banho e se arrumar para receber os convidados enquanto eu tenho que fazer o serviço daquela preguiçosa!
- Não fale assim! Você sabe muito bem que ela só está seguindo ordens da patroa.
- Claro, a empregada branca e bonitinha sempre tem tratamento diferenciado.
Marlene parou um pouco o que estava fazendo e falou em tom de reprimenda.
-
Você sabe que ela não tem privilégio nenhum aqui, muito pelo contrário!
Ela come o mesmo que comemos, vive nas mesmas condições, leva bronca
todos os dias e até dorme no chão para que você fique com a cama!
- Mas pode servir as visitas e...
- Por acaso isso traz algo de bom para ela? Aumenta o salário? Melhora o tratamento que ela recebe?
Como
não pode responder nenhuma daquelas perguntas, Cassandra voltou ao
serviço mais irritada ainda. Marlene nunca ia entender suas razões e ela
mesma tinha vergonha de admitir que só implicava com Carmem por ciúme
de Rafael.
Quando terminou o banho e se trocou, Rebeca foi conferir se tudo estava bem.
-
Hum... tem uma mecha solta na parte de trás, arrume esse cabelo
direito! E esses sapatos não estão bem polidos, quer me fazer passar
vergonha? Os Frufrus são muito importantes e quero que sejam muito bem
servidos.
Por um instante, ela ficou paralisada. Os Frufrus?
Seus pais? Eles eram os tais convidados de honra? Seu estômago se
revirava de ansiedade e ela nem ouvia mais o falatório incessante da
patroa.
O que seus pais iam fazer naquela casa? Era mesmo um
jantar de negócios ou só queriam ver como ela estava se arranjando? Será
que estavam ali para buscá-la?
- Preste atenção sua retardada
ignorante! Quando for servir a mesa, não dirija a palavra a ninguém,
entendeu? Se der um pio, vai ver só uma coisa! Cada um que fique no seu
lugar!
Assim que foi dispensada, ela correu até a cozinha para
tomar um copo de água e se acalmar. Pensar que seus pais estavam ali
para buscá-la lhe encheu de emoção. Finalmente seu castigo estava
chegando ao fim!
“Puxa vida, e eu quase acreditei nessa história
furada de estrela. Finalmente vou poder ir pra casa e ter minha boa
vida de sempre! Mal posso esperar!”
Quando a campainha da casa
tocou, Carmem ficou de ir atendê-los seguindo as instruções de Rebeca. E
ela resolveu entrar no jogo e seguir tudo a risca. Era bem provável que
seus pais estivessem ali para testá-la e ver se tinha aprendido a
lição. Logo, ela precisava mostrar que estava trabalhando direito e
tinha mudado. Só assim para acabar com o seu tormento.
- Boa noite, Sr. e Sra. Frufru. Queiram entrar, por favor. O Sr. e Sra. Aguiar estão esperando.
O
casal levou um susto quando reconheceu aquela garota maluca que tinha
invadido sua casa. Mas como ela parecia estar calma e equilibrada, eles
não falaram nada e foram introduzidos a luxuosa sala onde o casal Aguiar
os esperava. Os quatro foram conversar enquanto esperavam o jantar e
Carmem foi para a cozinha tentando conter a ansiedade.
- Fez tudo direito? – Marlene perguntou.
- Sim, não teve nenhum problema.
- Ótimo. Continue assim e seu emprego estará salvo.
Carmem
apenas sorriu e não falou nada. Bobagem querer salvar aquele emprego!
Dentro de pouco tempo, ela estaria indo embora junto com seus pais para
nunca mais voltar aquele lugar terrível. Aquela idiota da Cassandra que
continuasse naquele quartinho espremido, pois ela ia voltar ao seu lindo
quarto e viver como uma princesa.
Em seus devaneios, Carmem até
se imaginava voltando aquela mansão um dia junto com seus pais e
recebida como convidada. Ah, como ela ia adorar ver a cara da Cassandra
quando lhe visse linda, bem arrumada e sendo tratada com todo respeito!
Era a vingança perfeita!
“Aquela ali vai ver só uma coisa! Vou pisar nela sem dó!”
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Cinderela às avessas - capítulo 12: Por um instante, ela se enche de esperança
by
Mally Pepper
on
18:56
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